Leia o texto a seguir.

Os melhores de entre nós, quando escutam Homero ou qualquer poeta trágico a imitar um herói que está aflito e se espraia numa extensa tirada cheia de gemidos, ou os que cantam e batem no peito, sabes que gostamos disso, e que nos entregamos a eles, e os seguimos, sofrendo com eles, e com toda seriedade elogiamos o poeta, como sendo bom, por nos ter provocado até o máximo, essas disposições. [. . . ] Mas quando sobrevém a qualquer de nós um luto pessoal, reparaste que nos gabamos do contrário, se formos capazes de nos mantermos tranquilos e de sermos fortes, entendendo que esta atitude é característica de um homem [. . . ]?

PLATÃO. A República. 605 d-e. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. 12. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. p. 470.

Com base no texto, nos conhecimentos sobre mimesis (imitação) e sobre o pensamento de Platão, assinale a alternativa correta:

Alternativa correta: D

Tema central
A questão versa sobre mimesis (imitação) em Platão e o papel dos poetas (Homero, tragédia) na formação moral da cidade ideal. É importante reconhecer que, para Platão, a arte imita aparências e pode provocar paixões que atrapalham a razão e a educação cívica.

Resumo teórico essencial
Plató defende que a mimesis é uma cópia das coisas sensíveis, que já são cópias da Forma (o real). Logo, a poesia e a pintura estão “duas vezes removidas” da verdade (República, Livro X). Além disso, poetas despertam emoções desordenadas; por isso Platão propõe censura educativa: só conteúdos que moldem virtude e autocontrole são admitidos na educação dos guardiões (Livro III e X).

Justificativa da alternativa D
D afirma que Homero e os trágicos provocam emoções exageradas, sendo inadequados para formar o cidadão na cidade platônica — exatamente a posição de Platão no trecho indicado (605 d‑e) e nas passagens sobre a educação: a representação de ardores e imitações passionais induz à imitação desses excessos, prejudicando a razão e a ordem da alma. Por isso, esses poetas não são considerados bons formadores na Cidade Ideal.

Análise das alternativas incorretas
A — Incorreta: sugere que a imitação homérica é eticamente aprovada; contraria Platão, que critica essas imitações por incitar paixões.

B — Incorreta: afirma que a exageração emocional torna poetas excelentes formadores; Platão pensa o oposto: tais exageros corrompem a educação e devem ser controlados.

C — Incorreta: defende a descarga emocional como pedagogia; essa é mais uma ideia aristotélica (catarse). Platão não vê a descarga como benéfica para a formação racional do cidadão.

E — Incorreta: sugere que poetas estariam menos distantes da essência do que pintores; Platão trata ambos como imitadores e coloca poesia e pintura como afastadas da verdade, não privilegiando os poetas nesse sentido.

Fontes: Platão, República (Livro III e X; referência direta: 605d‑e). Para aprofundar: comentários de Allan Bloom e estudos sobre mimesis em Platão.

Estratégia de prova: pesquise “Platão + mimesis” e desconfie de alternativas que confundem Platão com Aristóteles (ex.: catarse) ou que afirmam que a arte que excita paixões é educativa na Cidade Ideal.

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