Questão c9a2db11-83
Prova:UFC 2018
Disciplina:Filosofia
Assunto:A Experiência do Sagrado, O Sujeito Moderno

No livro Confissões, Santo Agostinho, principal representante da Patrística medieval, trata do seguinte problema “É Deus o autor do mal?”. Desse problema advêm as seguintes indagações: “Onde está, portanto, o mal? De onde e por onde conseguiu penetrar? Qual é a sua raiz e a sua semente? Porventura não existe nenhuma? Por que recear muito, então, o que não existe?”

Fonte: (AGOSTINHO, S. Confissões. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 177 (Col. Os pensadores)).

Com relação ao problema do mal em Confissões analise as afirmativas a seguir:

I. todas as coisas que existem são boas, e o mal não é uma substância, pois, se fosse substância seria um bem.
II. todas as coisas que se corrompem não são boas, pois são privadas de todo bem.
III. o mal se não é substância, é a perversão da vontade desviada da substância suprema.
IV. o mal é a corrupção que afeta diretamente a substância divina que está sujeita a ela.

Com base nas afirmativas, assinale a alternativa CORRETA.

A
Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.
B
Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
C
Apenas as afirmativas II e IV estão corretas.
D
Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Alternativa correta: B — Apenas as afirmativas I e III estão corretas.

Tema central: A questão trata da solução agostiniana ao problema do mal — se Deus pode ser autor do mal — e da famosa doutrina da privatio boni (o mal como privação do bem). É fundamental entender conceitos como substância, privação, vontade e imutabilidade divina.

Resumo teórico (sintético e progressivo):

- Para Santo Agostinho (Confissões; De libero arbitrio) vale o princípio omne ens est bonum: tudo o que existe, por ser, participa do bem.

- O mal não é uma substância positiva, mas uma falta, uma privação do bem (privatio boni).

- Moralmente, o mal surge quando a vontade racional se afasta do Bem supremo (Deus): é uma corrupção da ordem da vontade.

- Deus, sendo perfeito e imutável, não pode ser causado nem afetado pelo mal; o mal não tem substância própria para "afetar" a divindade.

Justificativa da alternativa correta (I e III):

I — Correta. Afirmar que todas as coisas que existem são boas e que o mal não é substância está de acordo com Agostinho: se o mal fosse uma substância positiva, seria um ser e, portanto, participante do bem — contradição. (Fonte: Confissões; Enchiridion).

III — Correta. O mal moral é a perversão da vontade que se desvia do Bem supremo. Para Agostinho, pecado é desordem na vontade e no amor: amar o criado em detrimento do Criador.

Análise das alternativas incorretas:

II — Incorreta. Dizer que “todas as coisas que se corrompem não são boas, pois são privadas de todo bem” exagera: a corrupção implica privação parcial de bem, não ausência total. Coisas corruptíveis continuam a existir e, assim, participam do bem enquanto são; o mal é uma privação relativa, não a negação completa do ser.

IV — Incorreta. Afirma que “o mal é a corrupção que afeta diretamente a substância divina”. Isso contraria a doutrina agostiniana: Deus é imutável e incorruptível; o mal não pode atingir a substância divina — trata-se de corrupção nas criaturas/na vontade humana.

Dica de interpretação para concursos:

- Busque termos-chave: “substância”, “privação”, “vontade”, “divina”. Se uma alternativa atribui passividade ou corrupção a Deus, desconfiar: tradição patrística e escolástica afirmam a imutabilidade divina.

- Lembre que muitos itens são pegadinhas por uso de quantificadores absolutos (“todas”, “todo”): verifique se a afirmação é compatível com a nuance agostiniana (privação parcial vs. absoluta).

Fontes sugeridas: Santo Agostinho, Confissões; Enchiridion; De libero arbitrio. Para leitura secundária: glebas introdutórias sobre a doutrina da privatio boni em manuais de história da filosofia medieval.

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