Questão b70c2567-fe
Prova:FGV 2014
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Entre os recursos estilísticos de que lança mão o poeta na composição do poema, só NÃO se encontra

                Catar Feijão

1
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

2
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.


             João Cabral de Melo Neto, A educação pela pedra.

A
a atenuação da distinção entre poesia e prosa.
B
a estrutura discursiva lógico-argumentativa.
C
o emprego de neologismos.
D
a personificação (ou prosopopeia).
E
o recurso sonoro da aliteração.

Gabarito comentado

A
Américo Costa Monitor do Qconcursos

Tema central: A questão explora o reconhecimento de recursos estilísticos usados em um poema, exigindo domínio sobre figuras de linguagem e estratégias textuais, tema constantemente cobrado em vestibulares.

Justificativa da alternativa correta (D):

Personificação (prosopopeia) consiste em atribuir características humanas a seres não humanos (Ex: “O vento sussurrava segredos”). Após cuidadosa leitura do poema “Catar Feijão”, nota-se que nenhum elemento inanimado ou abstrato ganha sentimentos, emoções ou ações tipicamente humanas. Não há, por exemplo, grãos falando, sentindo ou agindo como pessoas. Segundo a gramática normativa (Cunha & Cintra) e o “Dicionário de Termos Literários” (Massaud Moisés), configuram-se personificações apenas nessas situações, o que está ausente aqui. Logo, D é o gabarito.

Análise das alternativas incorretas:

A) Atenuação entre poesia e prosa: O texto emprega linguagem direta, aproxima-se do discurso prosaico, quase “explicativo”, traço marcante da obra de João Cabral, conferindo ao poema caráter menos lírico e mais descritivo.

B) Estrutura lógico-argumentativa: Nota-se argumentação: o poeta compara o ato de catar feijão ao escrever, justificando suas escolhas e demonstrando um raciocínio sequencial.

C) Neologismos: O termo “imastigável” é um neologismo, palavra criada pelo autor pelo acréscimo de prefixo, típico da criatividade vocabular da poesia contemporânea (Bechara).

E) Aliteração: Ocorre, especialmente na repetição sonora em “palha e eco”. Como define Rocha Lima, a aliteração enfatiza a sonoridade pela sucessão de consoantes semelhantes.

Estratégias para questões similares:

1. Leia o poema atentamente: procure exemplos explícitos das figuras mencionadas.
2. Destaque palavras criadas (neologismos) e observe se elementos inanimados realizam ações humanas.
3. Atenção a pegadinhas: muitas vezes, a personificação é confundida com metáfora ou outras figuras – verifique se realmente há “humanização”.

Conclusão: Entender as definições formais das figuras de linguagem – apoiando-se em gramáticas e manuais – é crucial para diferenciar o que o texto apresenta e evitar armadilhas comuns em concursos.

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