Questão b3c0d706-bc
Prova:ENEM 2010
Disciplina:Filosofia
Assunto:A Política Grega (A República de Platão e a Política de Aristóteles), A Política

Na antiga Grécia, o teatro tratou de questões como destino, castigo e justiça. Muitos gregos sabiam de cor inúmeros versos das peças dos seus grandes autores.
Na Inglaterra dos séculos XVI e XVII, Shakespeare produziu peças nas quais temas como o amor, o poder, o bem e o mal foram tratados. Nessas peças, os grandes personagens falavam em verso e os demais em prosa. No Brasil colonial, os índios aprenderam com os jesuítas a representar peças de caráter religioso.

esses fatos são exemplos de que, em diferentes tempos e situações, o teatro é uma forma

A
de manipulação do povo pelo poder, que controla o teatro.
B
de diversão e de expressão dos valores e problemas da sociedade.
C
de entretenimento popular, que se esgota na sua função de distrair.
D
de manipulação do povo pelos intelectuais que compõem as peças.
E
de entretenimento, que foi superada e hoje é substituída pela televisão.

Gabarito comentado

M
Michel MelloMestre em Filosofia (PUC-Rio), Mestre e Doutor em Filosofia (Universidade de Basel / Suiça)
Uma questão muito bem elaborada que exige do candidato um conhecimento básico de história do teatro, que pode ser-lhe proporcionada pelas disciplinas de Literatura, Filosofia, Sociologia e História.
O teatro é uma invenção grega, sobretudo a tragédia. Surge no contexto do culto ao deus Dionísio, no qual a assembleia dos participantes entoavam hinos celebrando em conjunto com os sacerdotes, as dádivas do deus. Inclusive o termo tragédia vem do grego, tragos, bode – animal de Dionísio – e óde, canto. Literalmente, tragédia seria o auge do culto a Dionísio, na hora sacrifical do animal expiatório, o bode, momento no qual todos elevavam um mesmo canto. Tragédia seria o canto ao bode.
Assim emerge a tragédia, diante do frenesi de uma assembleia de crentes que louvavam o deus do vinho e do caos, algo inevitável tem que acontecer: a vontade do deus, isto é, o sacrifício expiatório. No teatro propriamente dito, vemos isso na tragédia, na qual um indivíduo tenta lutar com todas as suas forças humanas contra o destino ou moira, mas esse é inevitável. Aqueles que viam tamanha crueldade do destino, ficavam purificados vendo essas cenas (a chamada katársis) e entendendo que na vida existe o absurdo, assim como no culto de alegria a Dionísio existiam o sacrifício expiatório.
É algo humano: o medo pelo desconhecido ou pelo não claramente explicável. Essa mesma característica vemos no teatro inglês do séc. XVI e XVII: como entender situações humanas, como a dor e o sofrimento nos advindo sem controle nosso? Uma maneira disso ser enraizado na cultura é a participação dos espectadores, quer pelo o canto na teatro grego e na catequização dos autóctones brasileiros no período colonial, quer pelos temas tratados que pela didática, são comuns a todos. Como esses temas são comuns a todos os indivíduos de um determinado grupo social, e esses tem alguma forma de participação pró-ativa nos espetáculos (forma essa que nos chegou pelo culto a Dionísio), causando um purificação ou katársis, ou seja, apreendo o sofrimento pelo sentimento causado pelo espetáculo e assim, ou me isento do sofrimento real, ou me preparo para ele. Tudo é lúdico, nada é superficial, poderíamos aplicar aqui esse trocadilho. Desse modo, consideramos a alternativa:
(a)    errada, pelas explicações acima e como pela sua formulação: se o teatro é manipulação do povo pelo poder, não é o povo que domina o teatro, logo estaria em desacordo ao aspecto histórico.
(b)   Correta, pois a diferença entre os períodos do teatro na história está no tema, mas algo comum está presente: todo espectador sabe que o que se representa não é o real, apenas pode ser. Por não ser o real, é lúdico.
(c)    Errada, pois embora uma forma de entretenimento popular, não tem mera função de distrair, ao contrário, conserva a atenção no tema proposto.
(d)   Errada, ainda que isso possa acontecer, o povo não deixa de participar pois os temas lhes são pertinentes e o povo, pela função do coro, atua ou é representado e toma parte ativa.
(e)   Errada, pois o teatro não é substituído pela TV e aqui destacamos um elemento: o teatro exige atividade de quem assiste, a TV, não. É claro que pode haver muita confusão quando uma peça é vista hoje apenas como narrativa de um contexto que pode ou não me dizer respeito – mas isso foge aos dados fornecidos na questão. 

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