Questão 99cd811b-b9
Prova:UECE 2019
Disciplina:Filosofia
Assunto:Os Contratualistas (Hobbes, Locke e Rousseau), A Política

Leia atentamente o seguinte trecho do texto Hobbesiano, que se refere a um pacto entre “contratantes” em estado de natureza: 


     “Quando se faz um pacto em que ninguém cumpre imediatamente sua parte, e uns confiam nos outros, na condição de simples natureza (que é uma condição de guerra de todos os homens contra todos os homens), a menor suspeita razoável torna nulo este pacto. Mas se houver um poder comum situado acima dos contratantes, com direito e força suficientes para impor seu cumprimento, ele não é nulo”. 

HOBBES, Thomas. LEVIATÃ ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad. João P. Monteiro e Maria B. Nizza. 3ª Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

No que diz respeito ao estado de natureza, como mencionado, considere as seguintes afirmações: 

I. Entre o estado de natureza e o estado civil (ou estado de sociedade), há uma relação de contraposição, pois o estado de sociedade surge como antítese corretiva ao estado de natureza.
II. A passagem do estado de natureza ao estado de sociedade ocorre espontaneamente, ou seja, como decorrência do processo de propensão natural dos indivíduos ao consenso.
III. O estado de natureza é um estado cujos elementos constitutivos são os indivíduos singulares, livres e iguais, mas que vivem uma vida solitária, cruel e animalesca, da qual precisam escapar.

É correto o que se afirma em

A
I e III apenas.
B
II e III apenas.
C
I e II apenas.
D
I, II e III.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Resposta correta: A — I e III apenas.

Tema central: entende-se aqui a concepção hobbesiana do estado de natureza e a razão pela qual os indivíduos estabelecem um pacto social que dá origem ao estado civil. É essencial saber que, para Hobbes, a saída do estado de natureza depende da criação de um poder comum capaz de impor obediência (o "Leviatã").

Resumo teórico progressivo

Estado de natureza (Hobbes): condição hipotética em que não existe poder comum; indivíduos, iguais em capacidade, competem por recursos, gerando desconfiança e conflito — a famosa fórmula: "solitary, poor, nasty, brutish, and short" (Leviathan, 1651).

Passagem ao estado civil: não é fruto de uma propensão espontânea ao consenso, mas de um cálculo racional de autopreservação: para escapar da insegurança, os indivíduos fazem um pacto e transferem poderes a uma autoridade capaz de garantir o cumprimento dos acordos.

Por que a alternativa A é correta

I — Verdadeira. Há contraposição entre estado de natureza e estado civil: o segundo surge para corrigir os perigos do primeiro, funcionando como antítese que assegura paz e segurança.

III — Verdadeira. O estado de natureza tem como elementos indivíduos livres e iguais que, sem instituição comum, vivem em situação conflituosa e precária, da qual procuram escapar por meio do pacto.

Por que a afirmação II é falsa

II — Falsa. Hobbes não descreve a passagem como espontânea por tendência natural ao consenso. Pelo contrário, trata-se de um ato deliberado motivado pelo medo e pelo cálculo da autopreservação; sem um poder que imponha as obrigações, os pactos são frágeis e anuláveis.

Análise das alternativas incorretas

B (II e III): invalida-se porque II é falsa.

C (I e II): invalida-se porque II é falsa.

D (I, II e III): invalida-se porque inclui II.

Dica de prova: atenção a termos como "espontaneamente", "propensão natural" — eles costumam indicar concepções mais próximas de Rousseau ou de leituras idealistas; com Hobbes, procure keywords como "medo", "autopreservação", "poder comum" e "imposição".

Fonte recomendada: Thomas Hobbes, Leviathan (1651). Traduções e comentários em manuais de filosofia política contemporâneos ajudam a fixar o vocabulário hobbesiano.

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