O seguinte excerto encerra o mito da caverna, de Platão:

 

    “E agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar exatamente essa alegoria ao que dissemos anteriormente. Devemos assimilar o mundo que apreendemos pela vista à estada na prisão, a luz do fogo que ilumina a caverna à ação do Sol. Quanto à subida e à contemplação do que há no alto, considera que se trata da ascensão da alma até o lugar inteligível, e não te enganarás sobre minha esperança, já que desejas conhecê-la. Deus sabe se há alguma possibilidade de que ela seja fundada sobre a verdade. Em todo o caso, eis o que me aparece tal como me aparece; nos últimos limites do mundo inteligível aparece-me a ideia do Bem, que se percebe com dificuldade, mas que não se pode ver sem concluir que ela é a causa de tudo o que há de reto e de belo” 

PLATÃO. A República (514a-517c): Disponível em: http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/203.pdf 

Considerando o pensamento platônico, assinale com V o que for verdadeiro e com F o que for falso.

( ) As virtudes humanas podem ser adquiridas facilmente por todos os indivíduos, cabendo aos filósofos a missão político-pedagógica de ensinar-lhes o caminho, através da dialética socrática.

( ) Para Platão, a virtude resulta do trabalho reflexivo da razão: o bem é, portanto, atingido pelo esforço do conhecimento, pela busca da sabedoria.

( ) Seguindo a tradição sofista, Platão propunha que o verdadeiro é tudo que pode ser provado e defendido pelo esforço da razão, afastando-se do domínio da mera opinião – doxa.

( ) No pensamento platônico, o processo de descobrimento da verdade é representado por um movimento de libertação de um mundo de realidades parciais e ilusórias.

A sequência correta, de cima para baixo, é:

Alternativa correta: C — (F, V, F, V)

Tema central: A questão explora a doutrina platônica das Formas (especialmente a Ideia do Bem) e a famosa Alegoria da Caverna — essencial para entender como Platão diferencia opinião (doxa) e conhecimento verdadeiro (epistéme), o papel da razão/dialética e a posição crítica diante dos sofistas.

Resumo teórico: Para Platão:

• O Bem é o princípio supremo das Formas, causa do conhecimento e da justiça (República, 514a-517c).
• Alegoria da Caverna: simboliza a ascensão da alma da ilusão sensível ao mundo inteligível — libertação do mundo das aparências.
• Virtude e conhecimento: a virtude depende do conhecimento racional; a educação filosófica é exigente e seletiva (formação do governante-filósofo), não algo "fácil para todos".
• Sofistas: defendiam relativismo/retórica; Platão os critica por priorizarem opinião e persuasão sobre a busca da verdade objetiva.

Justificativa da alternativa correta (C): A sequência F, V, F, V captura corretamente a posição platônica:

• 1ª — Falso: Platão não afirma que as virtudes são facilmente adquiridas por todos; requer longa educação/seleção; os filósofos têm missão política-pedagógica, mas não é algo simples ou universal.
• 2ª — Verdadeiro: Para Platão, a virtude resulta do trabalho reflexivo da razão; o conhecimento das Formas, sobretudo do Bem, permite agir corretamente.
• 3ª — Falso: Platão não segue os sofistas; ele rejeita o relativismo e a retórica que valem pela persuasão, defendendo verdades objetivas acessíveis pela dialética.
• 4ª — Verdadeiro: A Alegoria da Caverna representa precisamente o movimento de libertação de um mundo de ilusões rumo à verdade inteligível.

Análise das alternativas incorretas (A, B, D):

- A e D erram ao atribuir verdade a proposições que contradizem a exigência platônica de educação rigorosa ou ao equiparar Platão aos sofistas.

- B mistura afirmações incorretas sobre facilidade da aquisição de virtude e falha ao reconhecer a crítica platônica aos sofistas.

Dica de interpretação: atente-se a palavras-chave que denunciam armadilhas: "facilmente", "seguindo a tradição sofista", "tudo que pode ser provado" — essas expressões geralmente sinalizam conflito com a doutrina platônica.

Fonte recomendada: Platão, República (514a-517c); comentários introdutórios em manuais de filosofia antiga (ex.: Guthrie, "A History of Greek Philosophy").

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