Questão 975f11eb-e7
Prova:UNB 2012
Disciplina:Filosofia
Assunto:Mito e Filosofia, Filosofia e a Grécia Antiga

A mitologia grega é composta de histórias de deuses que se assemelham aos seres humanos, tanto em aparência física quanto em sentimentos. Entre outras funções, tais histórias, transmitidas oralmente, de geração em geração, buscavam explicar a origem do universo, a fundação de uma polis ou um acontecimento extraordinário.

       A dúvida pode significar o fim de uma fé, ou pode significar o começo de outra. Em dose moderada, estimula o pensamento. Em excesso, paralisa-o. A dúvida, como exercício intelectual, proporciona um dos poucos prazeres puros, mas, como experiência moral, ela é uma tortura. Aliada à curiosidade, é o berço da pesquisa e assim de todo conhecimento sistemático. Em estado destilado, mata toda curiosidade e é o fim de todo conhecimento.
       O ponto de partida da dúvida é sempre uma fé, uma certeza.A fé é, pois, o estado primordial do espírito. O espírito “ingênuo” e “inocente” crê. Essa ingenuidade e inocência se dissolvem no ácido corrosivo da dúvida, e o clima de autenticidade se perde irrevogavelmente. As tentativas dos espíritos corroídos pela dúvida de reconquistar a autenticidade, a fé original, não passam de nostalgias frustradas em busca da reconquista do paraíso perdido. As certezas originais postas em dúvida nunca mais serão certezas autênticas. Tal dúvida, metodicamente aplicada, produzirá novas certezas, mais refinadas e sofisticadas, mas essas certezas novas não serão autênticas. Conservarão sempre a marca da dúvida que lhes serviu de parteira.
       A dúvida, portanto, é absurda, pois substitui a certeza autêntica pela certeza inautêntica. Surge, portanto, a pergunta: “por que duvido?” Essa pergunta é mais fundamental do que a outra: “de que duvido?” Trata-se, portanto, do último passo do método cartesiano: duvidar da dúvida — duvidar da autenticidade da dúvida. A pergunta “por que duvido?” engendra outra: “duvido mesmo?”
       Descartes, e com ele todo o pensamento moderno, parece não dar esse último passo. Aceita a dúvida como indubitável
Vilém Flusser. A dúvida. São Paulo: Editora Annablume, 2011, p. 21-2 (com adaptações).

Tendo o texto acima como referência inicial, julgue os itens de 110 a 118, assinale a opção correta no item 119, que é do tipo C, e faça o que se pede no item 120, que é do tipo D.

C
Certo
E
Errado

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Resposta: Alternativa C — CERTO

Tema central: a função e a natureza da mitologia grega: deuses antropomórficos, transmissão oral e papel explicativo (etiológico) sobre o mundo, a fundação da polis e eventos extraordinários.

Resumo teórico e justificativa (didática):

Antropomorfismo: Os deuses gregos aparecem com traços humanos — corpo, paixões, rivalidades. Isso é visível em Homero e em relatos mitológicos que humanizam o divino, tornando-o próximo à experiência humana.

Transmissão oral: Antes da escrita difundida, mitos circulavam por tradição oral (rhapsodes, cantores). A teoria da oralidade (Milman Parry, Albert Lord) explica a forma repetitiva e formulaica dos épicos homéricos.

Função etiológica: Muitos mitos explicam origens — do cosmos (p.ex. Theogony de Hesíodo), de rituais, e da própria cidade-pólis (p.ex. mitos de fundação de Atenas por Atena; o papel de Teseu em Atenas). Também justificavam instituições sociais e celebravam acontecimentos extraordinários (Guerra de Troia, catástrofes míticas).

Fontes e leituras recomendadas: Hesíodo, Theogony; Homero (epopeias); Walter Burkert, Greek Religion; Milman Parry e Albert Lord, The Singer of Tales.

Dica de prova (estratégia): ao identificar afirmações sobre mitologia grega, busque palavras-chave: “deuses semelhantes aos humanos”, “oralmente”, “explicar origem/fundação”. Se todas concordam com conhecimento clássico, marque CERTO.

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