Isso, pois, é o que também ocorre com as virtudes: pelos atos
que praticamos em nossas relações com os homens nos
tornamos justos ou injustos; pelo que fazemos em presença do
perigo e pelo hábito do medo ou da ousadia, nos tornamos
valentes ou covardes. O mesmo se pode dizer dos apetites e da
emoção da ira: uns se tornam temperantes e calmos, outros
intemperantes e irascíveis, portando-se de um modo ou de outro
em igualdade de circunstâncias.
Fonte: ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, 1979, p. 68
Na Ética a Nicômaco, Aristóteles estabeleceu certo tipo de
comportamento a ser assumido frente às ações e às paixões a
qual denominou virtude moral. Segundo este filósofo grego, para
ser moralmente virtuoso era preciso ter boa medida, a fim de
viver bem na comunidade à qual se pertencia e, com isso,
surgiria a possibilidade de uma vida feliz entre seus
concidadãos.
A boa medida nas ações e nas paixões que levaria a uma vida
feliz seria alcançada mediante:
Gabarito comentado
Tema central: A questão cobra a compreensão da teoria das virtudes morais em Aristóteles, apresentada na obra Ética a Nicômaco. O foco é entender como se desenvolve o comportamento virtuoso e qual o papel da razão e do hábito na formação do caráter moral.
Conceitos-chave: Para Aristóteles, virtude moral não nasce inata, mas é fruto da habituação (éthos) guiada pela razão. A excelência moral é alcançada pela repetição consciente de ações equilibradas, orientadas pela razão prática (phronesis). Assim se busca o meio-termo (mésotes) entre os extremos do excesso e da falta.
Justificativa da alternativa correta (B): A alternativa B acerta ao destacar a associação entre hábitos e razão. Não basta agir mecanicamente: o indivíduo precisa refletir e deliberar sobre suas ações, formando hábitos virtuosos sustentados por escolhas racionais. Isso permite agir adequadamente nas circunstâncias diversas da vida comunitária, o que, segundo Aristóteles, é o caminho para a felicidade (eudaimonia).
Análise das alternativas incorretas:
A) Reduz a virtude a um “trabalho puro e imediato da razão”, desconsiderando o valor da prática e do hábito. Para Aristóteles, a razão guia, mas a virtude constrói-se pela repetição prática, não apenas pelo pensamento.
C) Defende a habituação conforme qualquer desejo, o que contraria toda a ética aristotélica, pois virtude significa conter e equilibrar desejos, não satisfazê-los de modo irrefletido. Aristóteles combate o excesso e a falta, buscando a justa medida.
D) Apesar de Aristóteles valorizar a contemplação, é na ética prática — e não apenas na contemplação — que a virtude moral se realiza. Nesta obra, o foco é agir de acordo com hábitos razoáveis, e não contemplar ideias universais abstratas (como propunha Platão).
Dicas para interpretar corretamente: Preste atenção a palavras que indicam exclusividade ou generalização (“puro”, “imediato”, “quaisquer desejos”, “sempre”) — muitas vezes elas marcam erros. Compare também as diferenças entre ética da ação (virtudes morais) e ética da contemplação (virtudes dianoéticas) em Aristóteles para evitar confusões.
Resumo: A alternativa B apresenta o equilíbrio correto defendido por Aristóteles: a prática consciente de hábitos orientados pela razão é o caminho para uma vida plena e feliz.
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