Questão 69a59d97-ff
Prova:UECE 2019
Disciplina:Filosofia
Assunto:Provas da Existência Divina: Ontologia, Cosmologia e Teleologia, A Experiência do Sagrado

“De fato, a corrupção é nociva, e, se não diminuísse o bem, não seria nociva. Portanto, ou a corrupção nada prejudica – o que não é aceitável – ou todas as coisas que se corrompem são privadas de algum bem. Isto não admite dúvida. Se, porém, fossem privadas de todo o bem, deixariam inteiramente de existir. [...]. Logo, enquanto existem, são boas. Portanto, todas as coisas que existem são boas, e aquele mal que eu procurava não é uma substância, pois, se fosse substância, seria um bem”.


HIPPONA, Agostinho. Confissões. Coleção “Os Pensadores”.
Livro VII, cap. XII, 1983. – Texto adaptado.


Sobre a questão do mal em Santo Agostinho, considere as seguintes afirmações:


I. O mal não existe sem o bem.
II. O mal diminui o bem, e vice-versa.
III. O mal absoluto pode existir.


É correto o que se afirma em

A
I e III apenas.
B
I e II apenas.
C
II e III apenas.
D
I, II e III.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Alternativa correta: B - I e II apenas.

Tema central: trata-se da doutrina agostiniana do mal como privatio boni — isto é, mal não é uma substância positiva, mas a privação ou diminuição do bem. Compreender essa ideia é essencial para interpretar frases-chave como “o mal não é substância” e “enquanto existem, são boas”. Fonte principal: Agostinho, Confissões, Livro VII, cap. XII.

Resumo teórico (claro e progressivo):

- Para Agostinho, tudo o que existe participa do ser, e o ser é bom. Logo, existir é ser de algum modo bom.

- O mal aparece quando há deficiência ou privação do bem em algo que tende ao bem; portanto o mal depende do bem e não tem existência própria.

- Consequência: não existe um “mal absoluto” enquanto substância independente, porque isso implicaria em algo que existe (logo, bom).

Justificativa da alternativa B:

- Afirmação I (“O mal não existe sem o bem”): correta. Segundo Agostinho, o mal só se dá como falta em algo que é bom; sem o bem não há campo para a privação.

- Afirmação II (“O mal diminui o bem, e vice‑versa”): correta. O texto afirma que corrupção é nociva porque diminui o bem; a relação é de diminuição/privação.

- Afirmação III (“O mal absoluto pode existir”): incorreta. Agostinho nega que o mal seja uma substância ou um bem completo; se fosse substância absoluta seria um bem, o que contraria sua definição de mal como privação.

Análise das alternativas incorretas:

- A (I e III): falha por incluir III, que contradiz a privatio boni.

- C (II e III): falha por incluir III; além disso ignora a dependência do mal em relação ao bem (I).

- D (I, II e III): inclui a proposição falsa III; portanto é incorreta.

Dica de interpretação para concursos: ao ler enunciados sobre Agostinho, busque termos como “privação”, “substância”, “existir” e “bem”. Eles sinalizam a tese da privatio boni. Evite leituras que atribuam ao mal existência positiva independente — isso costuma ser a pegadinha.

Referência: Agostinho, Confissões, Livro VII, cap. XII (doutrina clássica do mal como privatio boni).

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