“A solidariedade que constatamos entre o
nascimento do filósofo e o aparecimento do cidadão
não é para nos surpreender. Na verdade, a cidade
realiza no plano das formas sociais esta separação
da natureza e da sociedade que pressupõe, no plano
das formas mentais, o exercício de um pensamento
racional. Com a Cidade, a ordem política destacou
da organização cósmica; aparece como uma
instituição humana que é o objeto de uma
indagação inquieta, de uma discussão apaixonada.
Nesse debate, que não é somente teórico, mas no
qual se afronta a violência de grupos inimigos, a
filosofia nascente intervém com plena competência.”
VERNANT, Jean-Pierre. As origens da filosofia. In: Mito e
pensamento entre os gregos. Tradução de Haiganuch
Sarian. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990, p. 365.
Segundo essa célebre passagem, Jean-Pierre
Vernant considera que o surgimento da Filosofia se
deve
Gabarito comentado
Alternativa correta: A
Tema central: a questão trata da origem da filosofia grega segundo Jean‑Pierre Vernant — ou seja, por que surge o pensamento filosófico na Grécia antiga. É preciso conectar três ideias: a cidade (polis), a distinção entre natureza e sociedade e o desenvolvimento de um pensamento racional crítico.
Resumo teórico (claro e progressivo): Vernant argumenta que a polis cria condições sociais em que a ordem política deixa de ser vista como simples extensão da ordem cósmica. Essa autonomia da vida política provoca debates e confrontos humanos sobre normas, justiça e organização — situações que demandam explicações racionais e críticas, dando origem à filosofia como prática de indagação sistemática (VERNANT, Jean‑Pierre. As origens da filosofia, 1990).
Por que a alternativa A é correta: A afirma que o surgimento da filosofia se deve "à emergência de um pensamento racional, próprio à separação entre natureza e sociedade humana e, nesta, aos debates da Cidade grega". Isso sintetiza precisamente as ideias de Vernant: a distinção entre ordem natural e ordem política e os conflitos públicos na polis estimulam a reflexão racional. Em outras palavras, a cidade torna a questão política um problema humano e passível de investigação racional — condição para a filosofia.
Análise das alternativas incorretas:
B — Incorreta: fala de separação entre homens e cidade e do filósofo que se retira por violência. Vernant enfatiza intervenção ativa da filosofia nos debates da cidade, não a retirada do filósofo.
C — Incorreta: afirma identidade entre cidade e natureza, invertendo o argumento. Vernant sustenta justamente a separação — a polis já não é apenas reflexo do cosmos, por isso surge a reflexão crítica.
D — Incorreta: sugere abandono dos discursos e que a filosofia passa a ser a única atividade argumentativa. Pelo contrário, a filosofia surge como mais uma forma de discurso racional entre outros debates públicos; não há eliminação prévia da prática discursiva.
Estratégia para provas: busque palavras‑chave no enunciado (aqui: "separação", "Cidade", "pensamento racional", "debate"). Relacione-as ao autor citado — leia mentalmente frases‑resumo do texto antes de avaliar alternativas. Desconfie de opções que invertam relações causais ou introduzam hipóteses não mencionadas (ex.: retirada do filósofo).
Fonte principal: Vernant, Jean‑Pierre. As origens da filosofia. In: Mito e pensamento entre os gregos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
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