Questão 6985e199-ff
Prova:UECE 2019
Disciplina:Filosofia
Assunto:Os Contratualistas (Hobbes, Locke e Rousseau), A Política

“Em situações de crise econômica, social, institucional, moral, aquilo que era aceito porque não havia outra possibilidade deixa de sê-lo. E aquilo que era um modelo de representação desmorona na subjetividade das pessoas. Só resta o poder descarnado de que as coisas são assim, e aqueles que não aceitarem que saiam às ruas, onde a polícia os espera. Essa é a crise de legitimidade.”

CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal. Trad. Joana Angélica d’Avila Melo. Rio de Janeiro: Zahar, 2018, p.14.


O texto acima adverte para a crise do modelo político representativo pensado e legitimado por pensadores como Thomas Hobbes, Locke e outros. Trata-se da crise da república representativa, na qual o poder é exercido por representantes eleitos.

Considerando o texto de Castells, é correto dizer que o modelo representativo está em crise de legitimidade, o que quer dizer que

A
os eleitores passaram a acreditar que os seus representantes representam não a eles, mas sim a interesses estranhos.
B
a crise econômica, social, institucional e moral conduz a uma crise de legitimidade, que tem forçado o eleitor a votar bem.
C
os pensadores da representação estão teoricamente errados, mas as instituições representativas estão estáveis.
D
a crise da representação se resolve com uma boa conscientização política, com o povo sabendo escolher seus representantes.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa A

Tema central: crise de legitimidade do modelo representativo. A questão pede interpretar o trecho de Castells sobre como, em crises profundas, a população deixa de reconhecer que representantes eleitos expressem seus interesses — sinal claro de perda de legitimidade política.

Resumo teórico: o modelo representativo (Hobbes, Locke) funda-se na ideia de que o poder é delegado a representantes que atuam em nome da coletividade. Legitimidade, para Weber e para a teoria política clássica, é a aceitação social da autoridade. Quando essa aceitação se rompe — por motivos econômicos, morais ou institucionais — a autoridade passa a ser vista como estranha e coercitiva.

Justificativa da alternativa A: A afirmação de que "os eleitores passaram a acreditar que os seus representantes representam não a eles, mas sim a interesses estranhos" corresponde exatamente à perda de legitimidade descrita por Castells: o modelo representativo deixa de ser visto como representação fiel e passa a ser percebido como captura por interesses externos. Essa leitura é coerente com estudos sobre deslegitimação política e com a própria citação do autor.

Análise das incorretas:

  • B: afirma que a crise “tem forçado o eleitor a votar bem” — interpretação normativa e não presente no texto; além de ambígua, não explica perda de legitimidade.
  • C: diz que os pensadores estão “teoricamente errados” enquanto as instituições estão estáveis — contradiz o enunciado, que aponta desmoronamento da representação na subjetividade e crise institucional.
  • D: propõe solução simplista (conscientização política). Embora educação política seja importante, o texto trata de um processo estrutural de deslegitimação, não de uma falha apenas cognitiva do eleitor.

Dica de interpretação: busque palavras-chave como crise, legitimidade e subjetividade. Evite alternativas que introduzam soluções normativas não sustentadas pelo trecho ou que desviem para juízos de valor.

Fonte indicada: CASTELLS, Manuel — Ruptura: a crise da democracia liberal; para conceito de legitimidade: MAX WEBER (ensaios sobre sociologia da autoridade).

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