Leia o texto a seguir.
Hum? Eh-eh... É. Nhor sim. Ã-hã, quer entrar, pode entrar... Hum, hum. Mecê sabia que eu moro
aqui? Como é que sabia? Hum-hum... Eh. Nhor não, n’t, n’t... Cavalo seu é esse só? Ixe. Cavalo
tá manco, aguado. Presta mais não. Axi... Pois sim. Hum, hum. Mecê enxergou este foguinho
meu, de longe? É. A’pois. Mecê entra, cê pode ficar aqui.
Hã-hã. Isto não é casa... É. Havéra. Acho. Sou fazendeiro não, sou morador... Eh, também sou
morador não. Eu – toda a parte. Tou aqui, quando eu quero eu mudo. Aqui eu durmo. Hum.
Nhém? Mecê é que tá falando. Nhor não... Cê vai indo ou vem vindo?
Hã, pode trazer tudo pra dentro. Erê Mecê desarreia cavalo, eu ajudo. Mecê peia cavalo, eu
ajudo... Traz alforje pra dentro, traz saco, seus dobros. Hum, hum Pode. Mecê cipriuara, homem
que veio pra mim, visita minha; iá-nhã? Bom. Bonito. Cê pode sentar, pode deitar no jirau. Jirau é
meu não. Eu – rede. Durmo em rede. Jirau é do preto. Agora eu vou ficar agachado. Também é
bom. Assopro o fogo. Nhem? Se essa é minha, nhem? Minha é a rede. Hum. Hum-hum. É. Nhor
não. Hum, hum... Então, por que é que cê não quer abrir saco, mexer no que tá lá dentro dele?
Atié Mecê é lobo gordo... Atié... É meu, algum? Que é que eu tenho com isso? Eu tomo suas
coisas não, furto não. A-hé, a-hé, nhor sim, eu quero. Eu gosto. Pode botar no coité. Eu gosto
demais...
ROSA, João Guimarães. Meu tio o Iauaretê. In.: ______. Estas histórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 191.
(Fragmento)
O conto “Meu tio o Iauaretê” é considerado um dos momentos primorosos da concepção de estilo
do escritor João Guimarães Rosa. A partir do fragmento que dá início ao conto, é correto afirmar
que:
Leia o texto a seguir.
Hum? Eh-eh... É. Nhor sim. Ã-hã, quer entrar, pode entrar... Hum, hum. Mecê sabia que eu moro aqui? Como é que sabia? Hum-hum... Eh. Nhor não, n’t, n’t... Cavalo seu é esse só? Ixe. Cavalo tá manco, aguado. Presta mais não. Axi... Pois sim. Hum, hum. Mecê enxergou este foguinho meu, de longe? É. A’pois. Mecê entra, cê pode ficar aqui.
Hã-hã. Isto não é casa... É. Havéra. Acho. Sou fazendeiro não, sou morador... Eh, também sou morador não. Eu – toda a parte. Tou aqui, quando eu quero eu mudo. Aqui eu durmo. Hum. Nhém? Mecê é que tá falando. Nhor não... Cê vai indo ou vem vindo?
Hã, pode trazer tudo pra dentro. Erê Mecê desarreia cavalo, eu ajudo. Mecê peia cavalo, eu ajudo... Traz alforje pra dentro, traz saco, seus dobros. Hum, hum Pode. Mecê cipriuara, homem que veio pra mim, visita minha; iá-nhã? Bom. Bonito. Cê pode sentar, pode deitar no jirau. Jirau é meu não. Eu – rede. Durmo em rede. Jirau é do preto. Agora eu vou ficar agachado. Também é bom. Assopro o fogo. Nhem? Se essa é minha, nhem? Minha é a rede. Hum. Hum-hum. É. Nhor não. Hum, hum... Então, por que é que cê não quer abrir saco, mexer no que tá lá dentro dele? Atié Mecê é lobo gordo... Atié... É meu, algum? Que é que eu tenho com isso? Eu tomo suas coisas não, furto não. A-hé, a-hé, nhor sim, eu quero. Eu gosto. Pode botar no coité. Eu gosto demais...
ROSA, João Guimarães. Meu tio o Iauaretê. In.: ______. Estas histórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 191. (Fragmento)
O conto “Meu tio o Iauaretê” é considerado um dos momentos primorosos da concepção de estilo
do escritor João Guimarães Rosa. A partir do fragmento que dá início ao conto, é correto afirmar
que:
Gabarito comentado
Gabarito comentado – Alternativa C
Tema central: A questão exige interpretação de texto aliada a conhecimentos sobre narrativa em primeira pessoa e marcas de oralidade. Para resolver, é essencial saber identificar sinais de fala, o tipo de narrador e como o autor cria um diálogo apenas pelas falas de um personagem.
Análise da alternativa correta (C):
A alternativa afirma que o narrador fala em primeira pessoa e o leitor percebe tratar-se de um diálogo devido às expressões da oralidade (“Hum?”, “Eh-eh”, “n’t n’t”), mas não vê o que o interlocutor diz. Isso corresponde ao trecho: “Mecê é que tá falando. Nhor não... Cê vai indo ou vem vindo?”. Ou seja, só acompanhamos as falas do narrador, sendo necessário deduzir a outra parte do diálogo. Esse recurso literário ilustra o que Celso Cunha & Lindley Cintra chamam de “diálogo implícito”, onde um personagem se dirige a alguém, mas só suas palavras aparecem.
O texto apresenta pronome e verbo na primeira pessoa (“eu mudo”, “eu durmo”), confirmando o ponto de vista. As expressões citadas são marcas de oralidade, transmitindo naturalidade ao discurso.
Análise das alternativas incorretas:
A) Errada. “Jirau”, “aguado” e “coité” não são neologismos; são palavras existentes em português, especialmente em regionalismos. Segundo Bechara, neologismo é a criação de um termo novo, o que não se aplica aqui.
B) Errada. Ao contrário do que afirma, as escolhas que diferenciam do padrão culto são notórias: oralidade, diminuição de frases, alteração gramatical. O trabalho estilístico é evidente.
D) Errada. Palavras como “hã-hã”, “hum-hum”, “a-hé” têm função na língua falada cotidiana, não são exclusivas criações de Guimarães Rosa.
E) Errada. O texto não é jornalístico, mas literário. O uso de frases curtas e elementos da fala aproxima-se da tradição oral, não do estilo jornalístico objetivo.
Dicas para questões desse tipo: Preste atenção às marcas de diálogo, pessoa do discurso e sinais de oralidade. Muitas vezes, o leitor precisa “preencher lacunas” deixadas pelo escritor – o que exige atenção ao contexto. Concentre-se em como o texto se difere do padrão culto, se há elementos da fala, se o narrador participa da história.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!






