Questão 2c7de892-ea
Prova:UFPEL 2019
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

OS SILÊNCIOS DAS JANELAS DO POVOADO

Era um fim de dia quieto pra quem quisesse ouvi-lo Apesar do céu sangrando, alguns mateavam tranquilos. Foi quando cascos nas pedras, e constâncias de esporas Quebraram o calmo das casas, chamando olhares pra fora.

Iam adentrando o povoado. Quatro homens bem montados
Três baios de cabos-negros. Bem à direita um gateado.
Ponchos negros sobre os ombros. Chapéus batidos na face
Silhuetas desconhecidas, pra qualquer um que olhasse.

Traziam vozes de mandos, nas suas bocas cerradas
E aparecendo nos ponchos pontas de adagas afiadas.
Olhavam sempre por perto até mirarem um "ranchito"
E sofrenarem os cavalo, onde um apeou solito.

Primeiro um rangido fraco, depois um grito "prendido"
E a intenção da adaga tinha mostrado sentido.
E os quatro em seus silêncios voltaram no mesmo tranco
Deixando junto a soleira, vermelho um lenço branco.

Era mais um que ficava. Depois que os quatro partiam. Por certo em baixo dos ponchos. Algum mandado traziam.
Traziam fios de adagas, e silêncios pra entregar...
− Era um gateado e três baios, foi o que deu pra enxergar!!

Ninguém sabe, ninguém viu, notícias viram depois. Alguém firmava na adaga só não se sabe quem foi.
E o povoado segue o mesmo, dormindo sempre mais cedo
Dormem ouvindo o silêncio e silenciam por medo.

Luiz Marenco

A letra da música de Luiz Marenco faz referência a um momento histórico específico no Rio Grande do Sul, ou seja, trata da Revolução Federalista (1893-1895), a mais sangrenta revolução ocorrida no estado. Tamanha a barbárie acometida dos dois lados que esta passou a ser conhecida como “Revolução da degola”, devido à prática de degolar os adversários. Em uma das frentes de batalha estavam os federalistas, que foram alcunhados de “maragatos” e faziam uso de um lenço vermelho; já do outro lado, estavam os “castilhistas”, que foram alcunhados de “pica-paus” e utilizavam lenço branco.

Com base na letra da canção e nos teus conhecimentos pessoais, analise as assertivas a seguir:
I) Os versos da 4ª estrofe fazem referência explícita à prática da degola.
II) No verso “Traziam fios de adagas, e silêncios pra entregar...”, temos a presença de um eufemismo para a morte.
III) A letra da música enfatiza o silêncio como algo que causa temor e morte, como comprova o último verso: “Dormem ouvindo o silêncio e silenciam por medo”.
IV) A letra da música critica a violência da revolução que acabou por transformar a vida até então pacata e tranquila do povo gaúcho.

Estão corretas,

A
II e IV, apenas.
B
I e II, apenas.
C
II e III, apenas.
D
III e IV, apenas.
E
I e III, apenas.

Gabarito comentado

S
Sofia AlvesMonitor do Qconcursos

Tema central: Esta questão explora sobretudo interpretação de texto e figuras de linguagem, principalmente o eufemismo. Dominar esses tópicos é essencial para entender sentidos expressos e implícitos em textos de concursos.

Justificativa da alternativa correta (C) – II e III, apenas:

II) O verso “Traziam fios de adagas, e silêncios pra entregar...” traz um eufemismo para a morte, substituindo o termo cru por uma expressão atenuada ("silêncios"). De acordo com Evanildo Bechara, eufemismo é a “atenuação de uma ideia desagradável por meio de expressão mais suave”. Isso confere suavidade ao fato violento (a morte de alguém pelo fio da adaga).

III) O último verso “Dormem ouvindo o silêncio e silenciam por medo” mostra que o silêncio na comunidade não é apenas ausência de som, mas indício de temor gerado pela violência. O medo cala o povo, associando silêncio à opressão imposta pelos acontecimentos (interpretação textual).

Por que as demais estão incorretas?

I) A menção à “intenção da adaga” e a sons (“grito ‘prendido’”) não é explícita sobre a prática da degola, apenas sugere violência. Diferenciar explícito (dito claramente) de implícito (sugerido) é fundamental para não cair em pegadinhas semânticas.

IV) O texto não apresenta crítica clara à violência; há narrativa, mas o juízo de valor, ou seja, a crítica, é uma interpretação subjetiva. Atenção: nem toda descrição implica reprovação.

Pontuação: Ao analisar alternativas, identifique elementos-chave e apoie-se na leitura atenta dos versos, diferenciando opinião do que está textual e literalmente abordado.

Resumo: Acertar este tipo de questão requer: reconhecer figuras de linguagem (ex: eufemismo), diferenciar sentido explícito/implícito e ler com olhar atento às palavras sugeridas.

Alternativa correta: C) II e III, apenas.

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