Leia atentamente o fragmento da narrativa “Carta do Pleistoceno”, retirado do livro “A casa da palavra”, de
Marina Colasanti.
Carta do Pleistoceno
Senhores cientistas,
quem daqui lhes escreve – daqui não sendo o além exatamente mas uma espécie de ponto de vista – é o
mamute. O mamute aquele que vocês trouxeram recentemente à luz lá pelos lados da Rússia – à luz
ofuscante dos flashes e dos holofotes de TV, é bom que se diga, porque uma certa luz fraca e opalinada me
alcançou sempre através do gelo. E escrevo porque chegou-me a notícia – como chegam depressa as
notícias nesse tempo vosso! – de que estão tentando me clonar.
Estão planejando tirar um pedaço de mim, daquilo que vocês chamam de DNA, manipulá-lo de alguma
maneira que para meu cérebro parece assaz complicada, mas que deveria se concluir com a minha presença
implantada num óvulo de elefanta, decorrente gravidez, e posterior nascimento.
Peço-lhes encarecidamente que não façam isso. Poderia invocar os direitos do autor pois, embora mínimo,
qualquer pedaço de mim me pertence, mas receio não estar coberto por vossas leis autorais. Apelo então
para aqueles sentimentos caridosos que dizeis habitar vosso coração. E para o bom senso, que infelizmente
nem sempre tem esse mesmo endereço. (COLASANTI, 2012).
A partir do trecho e do conto, em sua integralidade, assinale a alternativa INCORRETA.
Gabarito comentado
Gabarito: Alternativa C
Tema central: Interpretação de texto e gêneros textuais. A questão pede que o aluno identifique qual alternativa está em desacordo com o texto lido, analisando a linguagem utilizada e os recursos de persuasão empregados pelo mamute.
Justificativa da alternativa correta (C):
A alternativa C afirma que o mamute utiliza “linguagem popular e agressiva”. Pela leitura atenta, percebe-se que o texto é marcado por linguagem formal, respeitosa e sofisticada, como em: “Peço-lhes encarecidamente que não façam isso.” Não há termos coloquiais, gírias ou tom agressivo. Ao contrário, o mamute apresenta argumentos e apelos de maneira polida e reflexiva, mostrando preocupação ética e até ironia, mas nunca agressividade.
Regra de interpretação: Sempre identifique o tipo de linguagem (formal x informal) e o tom do enunciador (respeitoso x agressivo), comparando-os com o que é afirmado nas alternativas.
Análise das alternativas incorretas:
A) Correta. O texto usa o gênero epistolar (carta), aproximando ficticiamente o mamute dos destinatários (cientistas), típico do texto argumentativo com intenção de influenciar, conforme destaca Bechara em “Moderna Gramática Portuguesa”.
B) Correta. O uso de estrutura erudita e termos sofisticados reforça a distância temporal entre o emissor (mamute, de outra era) e os leitores do século XXI. Isso evidencia a intenção de realçar o "desencontro" entre os tempos.
D) Correta. A carta contrapõe a lógica do mamute à dos cientistas, criticando práticas da sociedade atual, especialmente o desejo de clonar seres extintos, questionando valores éticos e civilizatórios.
Dicas de prova: Nos vestibulares, fique atento ao registro de linguagem e intenção discursiva. Palavras como “encarecidamente” e “apelo” indicam formalidade e respeito, ajudando a descartar opções que tragam outras impressões.
Segundo referências como Cunha & Cintra e Bechara, reconhecer a tipologia textual e o tom empregado é fundamental para uma interpretação precisa.
Resumo: A alternativa C está INCORRETA pois não condiz com o registro observado no texto — nem popular, nem agressivo. As demais refletem fielmente as características da carta e da argumentação.
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