Constata-se a presença de uma construção hipotética em:
Leia o trecho de Til, romance de José de Alencar, para responder às questão.
Era ela de pequena estatura e tão delgada e flexível no
talhe, que dobrava-se como o junco da várzea. As formas da
graciosa pubescência, que um corpinho justo debuxaria1
em
doce e palpitante relevo, as dissimulava o frouxo corte de
uma jaqueta de flanela escarlate com mangas compridas, e
desabotoada sobre um camisote liso, cujos largos colarinhos
se rebatiam sobre os ombros, à feição dos que usavam então
os meninos de escola.
Os grandes olhos, negros, claros e serenos, como um
lago cristalino imerso na sombra, não podiam negar que fossem de mulher: tinham a diáfana2
profundidade do céu, cheia
de enlevos e mistérios. A boca mimosa e breve, conhecia-se que fora vazada no
molde do beijo e do sorriso. Mas quando o brinco iluminava
essa fisionomia, e o capricho quebrava-lhe a harmonia das
linhas do suave perfil, era cobrir-se com a máscara do rapazinho estouvado, que ela teria sido sem dúvida, se a natureza
não lhe trocasse o destino.
(Til. www.dominiopublico.gov.br)
1 um corpinho justo debuxaria: um corpete justo mostraria;
2 diáfana: que permite a passagem da luz; transparente,
límpida.
Gabarito comentado
Tema central da questão: Interpretação de texto e emprego do futuro do pretérito do indicativo para expressar hipótese ou condição não realizada no passado.
Justificativa da alternativa correta – E) “que ela teria sido sem dúvida”:
A estrutura “teria sido” está no futuro do pretérito, tempo verbal usado para indicar ação que dependeria de uma condição para se realizar em relação a um momento no passado. Segundo Celso Cunha e Lindley Cintra, o futuro do pretérito “exprime fato subordinado a uma condição não realizada” (Nova Gramática do Português Contemporâneo). No trecho, o narrador afirma que ela teria sido um rapazinho estouvado, caso a natureza não lhe trocasse o destino — ou seja, expressa uma hipótese sobre o passado.
Análise das alternativas incorretas:
A) “largos colarinhos se rebatiam sobre os ombros”: Verbo no pretérito imperfeito do indicativo, descrevendo ação habitual no passado, sem hipótese.
B) “tinham a diáfana profundidade do céu”: Também no pretérito imperfeito do indicativo (ação contínua passada), não é condicional.
C) “fora vazada no molde do beijo e do sorriso”: Uso do pretérito mais-que-perfeito do indicativo (ação anterior a outra), sem valor hipotético.
D) “quando o brinco iluminava essa fisionomia”: Pretérito imperfeito do indicativo denotando ação repetida, sem hipótese.
Estratégia para provas: Identifique o tempo verbal na frase e observe se ele sugere possibilidade, condição ou hipótese. Habitualmente, o futuro do pretérito se manifesta por formas como teria feito, estaria, poderia, sempre vinculadas a uma condição não realizada. Pegadinhas comuns envolvem confundir ações contínuas no passado com hipóteses, por isso atenção ao verbo!
Para reforçar: O reconhecimento da construção hipotética exige atenção ao contexto e ao valor do tempo verbal na frase, uma habilidade essencial para questões de interpretação e gramática normativa em vestibulares e concursos.
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