Questão 2152abc3-d5
Prova:CESMAC 2016
Disciplina:Português
Assunto:Flexão verbal de número (singular, plural), Interpretação de Textos, Flexão verbal de pessoa (1ª, 2ª, 3ª pessoa), Morfologia - Verbos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No trecho a seguir, o autor optou por usar um discurso na primeira pessoal do plural. “No momento em que damos nome a qualquer objeto da natureza, nós o individualizamos, o diferenciamos do resto que o cerca; ele passa a existir para a nossa consciência.” Com essa opção, o autor pretendeu:

TEXTO 2

A linguagem
A linguagem é um dos principais instrumentos na formação do mundo cultural porque nos permite transcender a nossa experiência palpável.
No momento em que damos nome a qualquer objeto da natureza, nós o individualizamos, o diferenciamos do resto que o cerca; ele passa a existir para a nossa consciência. Com esse simples ato de nomear, distanciamo-nos da inteligência concreta animal, limitada ao ‘aqui’ e ao ‘agora’, e entramos no mundo do simbólico. O nome é símbolo, é representação dos objetos que existem no mundo natural e das entidades abstratas, que só têm existência no mundo imaterial ou no mundo dos sentimentos (por exemplo, ações, estados ou qualidades, como saudade, tristeza, beleza, liberdade). O nome tem a capacidade de tornar presente para a nossa consciência o objeto que pode estar até mesmo longe de nós.
O nome, ou a palavra, retém na nossa memória, enquanto ideia aquilo que já não está ao alcance de nossos sentidos: o cheiro do mar, o perfume do jasmim numa noite de verão, o toque da mão da pessoa amada, o som da voz do pai, o rosto de um amigo querido.
O simples pronunciar de uma palavra representa, isto é, torna presente à nossa consciência o objeto a que ela se refere. Não precisamos mais da existência física das coisas para nos referirmos a elas: criamos, por meio da linguagem, um mundo (mais ou menos) estável de ideias que nos permite lembrar o que já foi e projetar o que será. Assim, é instaurada a temporalidade no existir humano. Pela linguagem, o ser humano deixa de reagir somente ao presente, ao imediato; passa a poder pensar o passado e o futuro e, com isso, a construir os seus projetos de vida.
Por transcender a situação concreta, o fluir contínuo da vida, o mundo criado pela linguagem se apresenta mais estável e sofre mudanças mais lentas do que o mundo natural. Pelas palavras, podemos transmitir o conhecimento acumulado por uma pessoa ou sociedade. Podemos passar adiante esta construção da espécie humana que se chama cultura.

(Maria Lúcia de A. Aranha; Maria Helena P. Martins. Filosofando. São Paulo: Editora Moderna, 2003, p.33. Adaptado). 

A
sinalizar que se trata de temas científicos; o discurso ficou mais persuasivo.
B
marcar a submissão aos cânones da norma padrão; o discurso ficou mais correto.
C
aproximar o discurso dos padrões jornalísticos; o discurso ficou mais coloquial.
D
considerar-se como participante efetivo do grupo em comunicação; o discurso ficou mais interativo.
E
distinguir a linguagem específica de textos públicos; o discurso ficou mais dialógico.

Gabarito comentado

L
Letícia LimaMonitor do Qconcursos

Tema central da questão: Interpretação de texto, especificamente o uso do pronome pessoal “nós” e seus impactos no discurso. Trata-se de reconhecer estratégias de aproximação e interação entre autor e leitor.

O pronome de 1ª pessoa do plural (“nós”) é uma escolha significativa no texto. Segundo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa), o uso de “nós” inclui o próprio autor e seu interlocutor, promovendo engajamento coletivo. A partir do momento em que o autor escreve “damos nome... nós o individualizamos...”, ele se insere no grupo ao qual se refere, convidando o leitor a compartilhar a experiência e o raciocínio. Esse recurso torna o discurso mais interativo e inclusivo, trazendo o público para dentro da argumentação do texto.

Justificativa da alternativa correta - Letra D:
D) considerar-se como participante efetivo do grupo em comunicação; o discurso ficou mais interativo.

Essa é a única opção que capta o motivo da escolha pelo “nós”: o autor deseja ser parte do grupo que compartilha a experiência e a reflexão, fazendo do texto um espaço de diálogo sutil. O leitor não é um observador distante, mas alguém incluso na construção do sentido; há, portanto, maior interatividade no discurso.

Análise das alternativas incorretas:

A) “Sinalizar temas científicos; discurso mais persuasivo”: o uso de “nós” não indica obrigatoriamente ciência; busca inclusão, não persuasão técnica.

B) “Marcar submissão à norma padrão; discurso mais correto”: A escolha pelo “nós” está ligada à estratégia de interlocução, não a demonstrar obediência gramatical ou “correção”.

C) “Aproximar do jornalismo; discurso mais coloquial”: Embora os jornais usem o “nós” em editoriais, nesse contexto não há registro de coloquialidade, mas de interação argumentativa.

E) “Distinguir linguagem pública; discurso mais dialógico”: Não se trata de “distinção de linguagem pública”, mas sim de promover pertencimento e diálogo conceitual.

Estratégia para provas: sempre observe o pronome e seus efeitos discursivos. Se o autor opta por “nós”, atente-se à ideia de coletividade e inclusão. Não confunda norma-padrão, formalidade ou cientificidade com estratégias de interlocução.

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