Leia os textos a seguir.
Aristóteles, no Livro IV da Metafísica, defende o sentido epistêmico do princípio de não contradição como o
princípio primário, incondicionado e absolutamente verdadeiro da “ciência das causas primeiras”, ou melhor,
o princípio que se apresenta como fundamento último (ou primeiro) de justificação para qualquer enunciado
declarativo em sua pretensão de verdade.
“É impossível que o mesmo atributo pertença e não pertença ao mesmo tempo ao mesmo sujeito, e na
mesma relação. [...] Não é possível, com efeito, conceber alguma vez que a mesma coisa seja e não seja,
como alguns acreditam que Heráclito disse [...]. É por esta razão que toda demonstração se remete a esse
princípio como a uma última verdade, pois ela é, por natureza, um ponto de partida, a mesma para os demais
axiomas.”
(ARISTÓTELES. Metafísica. Livro IV, 3, 1005b apud FARIA, Maria do Carmo B. de. Aristóteles: a plenitude como horizonte do ser. São
Paulo: Moderna, 1994. p. 93.)
Com base nos textos e nos conhecimentos sobre Aristóteles, é correto afirmar:
Gabarito comentado
Resposta correta: A
Tema central: o princípio da não contradição em Aristóteles: "É impossível que o mesmo atributo pertença e não pertença ao mesmo tempo ao mesmo sujeito, e na mesma relação" (Metafísica, Livro IV, 1005b). Trata-se de um princípio epistêmico e axiomaticamente primeiro — fundamento da demonstração e da ciência das causas primeiras.
Resumo teórico: Aristóteles sustenta que o princípio é indemonstrável (é ponto de partida) e universal: proíbe que se afirme e negue simultaneamente o mesmo predicado do mesmo sujeito no mesmo sentido/tempo. Ele critica leituras heracliteanas que supõem contradição como natural (interpretação popular do "tudo flui"), considerando-as contrárias ao princípio.
Justificativa da alternativa A: A afirma que os partidários de Heráclito, que concebem que propriedades contrárias possam tanto subsistir quanto não subsistir no mesmo sujeito, opõem-se ao princípio da não contradição. Isso está de acordo com o trecho aristotélico citado — quem admite simultânea afirmação e negação em igual sentido nega o princípio. Logo, A está correta.
Análise das alternativas incorretas:
B — Errada. Afirma o contrário do que Aristóteles diz: o princípio não sustenta a tese heracliteana; rejeita-a. B confunde o papel do princípio com a posição que ele combate.
C — Errada. Diz que em realidades suprassensíveis contradições podem ocorrer sem problemas. Aristóteles não limita o princípio ao sensível; para ele é universal (lógica, ontológica e epistêmica), portanto tal exceção é inválida.
D — Errada. Afirma que o princípio exige demonstração para fundamentar seu estatuto axiomático. Aristóteles o trata como princípio primeiro e indemonstrável — ponto de partida das demonstrações.
E — Errada. Confunde não contradição com identidade/indiscernibilidade. O princípio não implica que predicados aplicáveis a um ente devam ser aplicáveis a outro distinto.
Dica de prova: ao enfrentar itens sobre princípios lógicos aristotélicos, busque termos-chave: "mesmo sujeito", "mesmo tempo", "mesma relação/sentido", "princípio primário/indemonstrável". Essas expressões sinalizam a interpretação aristotélica clássica e ajudam a evitar pegadinhas.
Fontes: Aristóteles, Metafísica (Livro IV, 1005b); Stanford Encyclopedia of Philosophy — entradas sobre Aristotle & the Principle of Non-Contradiction.
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