Questão 1e180983-b0
Prova:UEL 2010
Disciplina:Filosofia
Assunto:Platão e o Mundo das Ideias, Filosofia e a Grécia Antiga

Leia o texto a seguir.

Platão, em A República, tem como objetivo principal investigar a natureza da justiça, inerente à alma, que, por sua vez, manifesta-se como protótipo do Estado ideal. Os fundamentos do pensamento ético-político de Platão decorrem de uma correlação estrutural com constituição tripartite da alma humana. Assim, concebe uma organização social ideal que permite assegurar a justiça. Com base neste contexto, o foco da crítica às narrativas poéticas, nos livros II e III, recai sobre a cidade e o tema fundamental da educação dos governantes. No Livro X, na perspectiva da defesa de seu projeto ético-político para a cidade fundamentada em um logos crítico e reflexivo que redimensiona o papel da poesia, o foco desta crítica se desloca para o indivíduo ressaltando a relação com a alma, compreendida em três partes separadas, segundo Platão: a racional, a apetitiva e a irascível.

Com base no texto e na crítica de Platão ao caráter mimético das narrativas poéticas e sua relação com a alma humana, é correto afirmar:

A
A parte racional da alma humana, considerada superior e responsável pela capacidade de pensar, é elevada pela natureza mimética da poesia à contemplação do Bem.
B
O uso da mímesis nas narrativas poéticas para controlar e dominar a parte irascível da alma é considerado excelente prática propedêutica na formação ética do cidadão.
C
A poesia imitativa, reconhecida como fonte de racionalidade e sabedoria, deve ser incorporada ao Estado ideal que se pretende fundar.
D
O elemento mimético cultivado pela poesia é justamente aquele que estimula, na alma humana, os elementos irracionais: os instintos e as paixões.
E
A reflexividade crítica presente nos elementos miméticos das narrativas poéticas permite ao indivíduo alcançar a visão das coisas como realmente são.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Gabarito: D

Tema central: a crítica platônica à mímesis (arte poética e imitação) e sua relação com a constituição tripartida da alma — razão (logistikon), irascível/ímpeto (thymoeides) e apetitivo (epithymetikon) — em especial nos Livros II, III e X da República.

Resumo teórico: Para Platão, a poesia mimética imita aparências e emoções, não a verdade (os Formas). A arte imitativa suscita paixões e instintos, afetando sobretudo as partes irracionais da alma; por isso, pode corromper a educação dos guardiões e o equilíbrio psicológico do indivíduo. Só a dialética e a razão conduzem ao conhecimento do Bem (República, II–III, X).

Justificativa da alternativa D: “O elemento mimético cultivado pela poesia é justamente aquele que estimula, na alma humana, os elementos irracionais: os instintos e as paixões.” — corresponde exatamente à crítica platônica: a mímesis move as partes apetitiva e irascível, fragilizando o domínio da razão. Logo, D é a correta.

Análise das alternativas incorretas:

A (errada): afirma que a poesia eleva a razão à contemplação do Bem — incorreto; Platão sustenta o oposto: a poesia afasta do conhecimento verdadeiro, pois imita aparências, não as Formas.

B (errada): propõe uso da mímesis para controlar a parte irascível como boa prática — Platão rejeita a poesia como instrumento educativo digno para os guardiões; a educação deve cultivar a razão e a disciplina, não fomentar paixões por via mimética.

C (errada): apresenta a poesia como fonte de racionalidade e sabedoria — incompatível com Platão, que distingue saber (epistéme) de mera crença/semblante produzida pela imitação.

E (errada): diz que a mimese tem reflexividade crítica que permite ver as coisas como são — a mimese mostra aparências e provoca emoções; a visão do que "é" exige logos e dialética, não a poesia imitativa.

Fontes recomendadas: Platão, A República (Livros II, III e X); Stanford Encyclopedia of Philosophy — entrada “Plato” (para panorama moderno sobre a crítica platônica à poesia).

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