Leia o texto a seguir.

Que seja portanto ele a considerar-se a si mesmo, que quando empreende uma viagem se arma e procura ir bem acompanhado; que quando vai dormir fecha suas portas; que mesmo quando está em casa tranca seus cofres; e isso mesmo sabendo que existem leis e funcionários públicos armados, prontos a vingar qualquer injúria que lhe possa ser feita.

(HOBBES. Leviatã. Trad. J. P. Monteiro e M. B. N. da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 80.)

O texto de Hobbes diverge de uma ideia central da filosofia política de Aristóteles.

Assinale a alternativa que identifica essa ideia aristotelica.

Gabarito: B

Tema central: confronto entre Thomas Hobbes (Leviatã) e Aristóteles sobre se a sociabilidade é natural ao ser humano. Entender esse choque é essencial para questões de filosofia política: procure identificar autores e termos-chave — aqui, “zoon politikon” (Aristóteles) e “estado de natureza” / segurança (Hobbes).

Resumo teórico: Aristóteles afirma que o homem é por natureza um animal político (zoon politikon): vive melhor em sociedade e a polis realiza sua natureza moral e racional (Politics I). Para Aristóteles, a formação da cidade-estado é natural e necessária ao pleno desenvolvimento humano. Já Hobbes descreve o estado de natureza como situação insegura e conflituosa, em que os indivíduos adotam medidas de autoproteção e só por contrato legitimam um poder soberano que garanta segurança (Leviathan).

Por que a alternativa B é correta: A alternativa B afirma que “A sociabilidade se configura como natural aos seres humanos” — corresponde diretamente à tese aristotélica do homem como ser político por natureza. Aristóteles vê a sociabilidade (a vida em comunidade/política) como inerente e constitutiva da humanidade, diferindo assim de Hobbes, que vê a associação política como uma solução artificial para evitar o conflito.

Análise das alternativas incorretas:

A: “É inerente à condição humana viver segundo as condições adversas do estado de natureza.” — Essa visão é hobbesiana, não aristotélica. Aristóteles não descreve a natureza humana como vivência permanente em estado de guerra.

C: “Os homens, no estado civil, perdem a bondade originária do homem natural.” — Remete mais a Rousseau (bondade natural corroída pela sociedade). Aristóteles não formula uma “bondade originária” que se perde ao formar o Estado.

D: “A insociável sociabilidade é característica imanente às ações humanas.” — Expressão típica de Hegel (“insociable sociability”), não de Aristóteles, que enfatiza a naturalidade positiva da vida política.

E: “O Estado é incapaz de prover a segurança dos súditos.” — Nem Aristóteles nem Hobbes afirmam isso como princípio aristotélico; Hobbes, ao contrário, vê o Estado (Leviatã) como necessário para garantir segurança.

Estratégia para provas: identifique termos-chave (ex.: “natural”, “sociabilidade”, “estado de natureza”) e associe-os rapidamente aos autores: Aristóteles = zoon politikon; Hobbes = estado de natureza + necessidade do soberano.

Referências: Aristóteles, Politics I; Thomas Hobbes, Leviathan.

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