Questão 16eca15b-b3
Prova:IF-MT 2017
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Por onde passei,
plantei a cerca farpada,
plantei a queimada.
Por onde passei,
plantei a morte matada.
Por onde passei,
matei a tribo calada,
a roça suada,
a terra esperada...
Por onde passei,
tendo tudo em lei,
eu plantei o nada.
(D. Pedro Casaldáliga, Antologia Poética Mato-Grossense)

Todas as alternativas abaixo, em relação ao poema, são verdadeiras, EXCETO em:

A
O eu-lírico veste-se da roupagem do senhor dono da terra que, para conquistar seu território, cerca e delimita seu espaço, não importando o que destrói. Assim, este é um poema de cunho social.
B
"Plantei [...] Plantei [...] Plantei [...]". O paralelismo verbal empresta ao poema a ideia de construção, negada, ao final, em "eu plantei o nada".
C
Em três versos estão repetidos "Por onde passei". Essa repetição, semanticamente, desloca o eu-lírico para diferentes espaços e, em todos os lugares por onde ele passou, plantou violência.
D
As metáforas no poema são importantes porque o uso dessa figura de linguagem é que permite a diferença entre conotação e denotação. Desse modo, "plantei a cerca farpada" é uma metáfora que acentua o tom depredatório imposto pelo eu-lírico.
E
Trata-se de um poema romântico com uma temática utópica, sem qualquer cunho social.

Gabarito comentado

R
Rafael CastroMonitor do Qconcursos

Tema central: A questão exige interpretação textual e o reconhecimento de gêneros literários e figuras de linguagem. O foco está em identificar o tom do poema, sua mensagem central e os processos estilísticos usados pelo autor.

Justificativa da alternativa correta (E) – INCORRETA:

A alternativa E afirma ser o poema um “poema romântico com temática utópica, sem qualquer cunho social”. Esse é o erro da assertiva: o poema está longe do ideal romântico, pois não valoriza o sentimentalismo, o amor, a natureza de forma idealizada ou subjetividade. Ao contrário, trata-se de um texto de cunho social, crítico, que denuncia a violência, a destruição das terras e dos povos indígenas causada pelo avanço do latifúndio. O resultado do “plantio” feito pelo eu-lírico é o “nada” – clara metáfora de destruição total, e não de esperança ou utopia.

De acordo com Cunha & Cintra, textos de cunho social visam denunciar injustiças, não escapando da realidade. Isso se opõe à ideia romântica, frequentemente associada à fuga da realidade.

Análise das demais alternativas:

A) Verdadeira. O eu-lírico, ao “plantar cercas” e “queimadas”, se coloca na posição do “senhor da terra”, marcando território, destruindo e aludindo à exclusão do outro – perspectiva nitidamente social e crítica.

B) Verdadeira. O paralelismo verbal do verbo “plantei” cria uma progressão: o discurso sugere construção, que ao final é negada (“plantei o nada”), evidenciando o caráter destrutivo desse “plantio”. Bechara ressalta o paralelismo como figura que reforça a ideia.

C) Verdadeira. A repetição de “Por onde passei” sugere a extensão da destruição: em todo lugar por onde o eu-lírico passa, deixa uma marca de violência – coerente com o texto.

D) Verdadeira. O uso da metáfora (“plantei a cerca farpada”) caracteriza o discurso poético e confere uma camada de conotação, tornando mais contundente a crítica à devastação.

Orientação para provas: Atenção a palavras que rotulam o texto genericamente (ex: “romântico”, “sem cunho social”). Sempre busque elementos concretos do texto para fundamentar sua resposta. Pegadinhas muitas vezes envolvem termos absolutos ou negações impróprias.

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