Confrontando o conteúdo dos dois textos, pode-se afirmar que:
Texto 1
Porque morrer é uma ou outra destas duas coisas: ou o morto
não tem absolutamente nenhuma existência, nenhuma consciência
do que quer que seja, ou, como se diz, a morte é precisamente
uma mudança de existência e, para a alma, uma migração deste
lugar para um outro. Se, de fato, não há sensação alguma, mas é
como um sono, a morte seria um maravilhoso presente. […] Se,
ao contrário, a morte é como uma passagem deste para outro
lugar, e, se é verdade o que se diz que lá se encontram todos os
mortos, qual o bem que poderia existir, ó juízes, maior do que
este? Porque, se chegarmos ao Hades, libertando-nos destes que
se vangloriam serem juízes, havemos de encontrar os verdadeiros
juízes, os quais nos diria que fazem justiça acolá: Monos e
Radamante, Éaco e Triptolemo, e tantos outros deuses e semideuses
que foram justos na vida; seria então essa viagem uma
viagem de se fazer pouco caso? Que preço não seríeis capazes
de pagar, para conversar com Orfeu, Museu, Hesíodo e Homero?
(Platão. Apologia de Sócrates, 2000.)
Texto 2
Ninguém sabe quando será seu último passeio, mas agora é
possível se despedir em grande estilo. Uma 300C Touring, a versão
perua do sedã de luxo da Chrysler, foi transformada no primeiro
carro funerário customizado da América Latina. A mudança levou
sete meses, custou R$ 160 mil e deixou o carro com oito metros
de comprimento e 2340 kg, três metros e 540 kg além da original.
O Funeral Car 300C tem luzes piscantes na já imponente dianteira
e enormes rodas, de aro 22, com direito a pequenos caixões estilizados
nos raios. Bandeiras nas pontas do capô, como nos carros
de diplomatas, dão um toque refinado. Com o chassi mais longo,
o banco traseiro foi mantido para familiares acompanharem o cortejo
dentro do carro. No encosto dos dianteiros, telas exibem mensagens
de conforto. O carro faz parte de um pacote de cerimonial
fúnebre que inclui, além do cortejo no Funeral Car 300C, serviços
como violinistas e revoada de pombas brancas no enterro.
(Funeral tunado. Folha de S.Paulo, 28.02.2010.)
Texto 1
Porque morrer é uma ou outra destas duas coisas: ou o morto não tem absolutamente nenhuma existência, nenhuma consciência do que quer que seja, ou, como se diz, a morte é precisamente uma mudança de existência e, para a alma, uma migração deste lugar para um outro. Se, de fato, não há sensação alguma, mas é como um sono, a morte seria um maravilhoso presente. […] Se, ao contrário, a morte é como uma passagem deste para outro lugar, e, se é verdade o que se diz que lá se encontram todos os mortos, qual o bem que poderia existir, ó juízes, maior do que este? Porque, se chegarmos ao Hades, libertando-nos destes que se vangloriam serem juízes, havemos de encontrar os verdadeiros juízes, os quais nos diria que fazem justiça acolá: Monos e Radamante, Éaco e Triptolemo, e tantos outros deuses e semideuses que foram justos na vida; seria então essa viagem uma viagem de se fazer pouco caso? Que preço não seríeis capazes de pagar, para conversar com Orfeu, Museu, Hesíodo e Homero?
(Platão. Apologia de Sócrates, 2000.)
Texto 2
Ninguém sabe quando será seu último passeio, mas agora é possível se despedir em grande estilo. Uma 300C Touring, a versão perua do sedã de luxo da Chrysler, foi transformada no primeiro carro funerário customizado da América Latina. A mudança levou sete meses, custou R$ 160 mil e deixou o carro com oito metros de comprimento e 2340 kg, três metros e 540 kg além da original. O Funeral Car 300C tem luzes piscantes na já imponente dianteira e enormes rodas, de aro 22, com direito a pequenos caixões estilizados nos raios. Bandeiras nas pontas do capô, como nos carros de diplomatas, dão um toque refinado. Com o chassi mais longo, o banco traseiro foi mantido para familiares acompanharem o cortejo dentro do carro. No encosto dos dianteiros, telas exibem mensagens de conforto. O carro faz parte de um pacote de cerimonial fúnebre que inclui, além do cortejo no Funeral Car 300C, serviços como violinistas e revoada de pombas brancas no enterro.
(Funeral tunado. Folha de S.Paulo, 28.02.2010.)
Gabarito comentado
Alternativa correta: E
1) Tema central
O exercício confronta duas representações da morte: uma filosófica-antiga (Platão) e outra social-contemporânea (reportagem sobre funerário). É preciso identificar sentidos distintos — metafísico vs. mercantil — e relacioná‑los a contextos históricos e conceituais.
2) Resumo teórico (essencial)
Platão: perspetiva dualista corpo/alma; a morte pode ser libertação da alma e encontro com o mundo inteligível ou sono sem sensação — trata‑se de dignidade metafísica e valor da vida filosófica (Apologia de Sócrates). Fonte: Platão, Apologia de Sócrates.
Consumo e espetacularização: a reportagem mostra funerais customizados e serviços pagos — exemplifica a mercantilização da morte, característica da sociedade de consumo, em que ritos tornam‑se produto (Folha de S.Paulo, 2010).
3) Justificativa da alternativa E
O texto 1 realça a dimensão metafísica e respeitosa da morte (dignidade da alma; valor do encontro com grandes nomes). O texto 2 descreve funerário transformado em espetáculo e serviço de consumo. Assim, E resume corretamente: dignidade metafísica no primeiro vs. transformação do funeral em espetáculo na sociedade de consumo no segundo.
4) Por que as outras alternativas estão incorretas
A — Errada: os textos situam‑se em épocas diferentes; Platão representa a Grécia antiga; a reportagem é contemporânea. Não tratam da mesma época.
B — Errada: filosoficamente há diferença qualitativa: Platão trata da alma e do além; o segundo trata de práticas sociais e econômicas — planos distintos (metafísica vs. mercadoria).
C — Errada: o texto platônico valoriza a alma em detrimento do corpo, não o contrário; logo, não é coerente com valorização do corpo sobre a alma.
D — Errada: Platão não evidencia uma cultura monoteísta (a Grécia antiga era politeísta e Platão discute mitos e deuses), e o segundo texto é neutro religiosamente — trata de consumo, não de politeísmo.
5) Estratégia de leitura e pegadinhas
- Identifique nível de discurso: metafísico/filosófico vs. descritivo/jornalístico.
- Pergunte: o foco é crença sobre a morte (ontologia) ou prática social/econômica (rito, mercado)?
- Cuidado com termos absolutos (ex.: “não há diferenças qualitativas”) — costumam ser falso em comparação de planos distintos.
6) Fontes citadas
Platão — Apologia de Sócrates; Folha de S.Paulo — matéria "Funeral tunado" (28/02/2010).
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