Questõessobre Variação Linguística
Em relação à sequência de quadrinhos, é correto
afirmar.
Trata-se de linguagem não verbal.
No Texto II, são exemplos do uso coloquial,
informal, da língua portuguesa as seguintes passagens:
“Desde o começo, sempre foi um assunto em que a gente
estava de acordo.” (linhas 2-3)
“Aí eles engolem aquele plástico que pode asfixiar os
coitados de uma hora para outra.” (linhas 18-19)
Assinale a alternativa que descreve corretamente o uso
de traços de oralidade nas frases destacadas.
O termo jagunço, ainda muito presente na cultura popular nordestina, era recorrente no vocabulário dos chamados cangaceiros. Sobre o fenômeno do Cangaço, é correto afirmar que
Contrastam, quanto à variedade linguística a que pertencem, as seguintes
expressões do texto:
Na crise, viramos fantoches na rede
Quando um fato de grande repercussão social ocorre, o primeiro impacto é o congestionamento. Todos buscam se comunicar, gerando sobrecarga nas linhas de celular, tornando o acesso à internet móvel lento ou inexistente.
Logo a seguir vem a onda de incerteza e desinformação. No anseio da busca por notícias rápidas, começam a circular na rede vários dados falsos ou imprecisos, que são replicados massivamente. Estudos mostram que as informações falsas circulam três vezes mais que as corretas, publicadas depois. O dano é enorme.
A recomendação nesses casos é contraintuitiva: não replicar qualquer informação sem checá-la antes. Evitar o desejo de "participar" do acontecimento retuitando ou compartilhando informações vindas de fontes não confiáveis, por maior que seja o número de pessoas fazendo o mesmo. Nesses momentos de grande comoção e agitação, extremistas com agendas políticas deletérias aproveitam para fazer circular suas mensagens. Esse é um dos principais efeitos desejados pelo terrorismo contemporâneo: criar uma situação de grande agitação na internet e pegar carona nela para disseminar sua mensagem.
Situações como essas transformam as pessoas em veículos. Viramos agentes de disseminação ampla de mensagens pré-fabricadas, produzidas intencionalmente por algumas poucas fontes que sabem exatamente o que estão fazendo.
O objetivo não é o debate, mas mera ocupação de espaço. São teses e antíteses incapazes de produzir qualquer síntese. Não passam de narrativas pré-concebidas com o objetivo de ocupar espaço.
Ronaldo Lemos, Folha de S. Paulo, 28/03/2016. Adaptado.
Tendo em vista o gênero literário em que se enquadra o texto, o autor
permite-se o uso de uma expressão típica da linguagem informal em:
Das expressões retiradas do texto, assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a locução que exemplifica
uso de registro formal e variante padrão da língua.
Leia o trecho, a seguir, retirado do livro Quarenta dias, de Maria Valéria Rezende, e responda à questão.
Saí, em busca de Cícero Araújo ou sei lá de quê, mas sem despir-me dessa nova Alice, arisca e áspera, que tinha brotado e se esgalhado nesses últimos meses e tratava de escamotear-se, perder-se num mundo sem porteira, fugir ao controle de quem quer que fosse. Tirei o interfone do gancho e o deixei balançando, pendurado no fio, bati a porta da cozinha e desci correndo pela escada de serviço, esperando que o porteiro se enfiasse na guarita pra responder ao interfone de frente pro saguão, de modo que eu pudesse sair de fininho, por trás dos pilotis, e escapar sem ser vista. Não me importava nada o que haveria de acontecer com o interfone nem com o porteiro.
Ganhei a rua e saí a esmo, querendo dar o fora dali o mais depressa possível, como se alguém me vigiasse ou me perseguisse, mas saí andando decidida, como se soubesse perfeitamente aonde ia, pisando duro, como nunca tinha pisado em parte alguma da minha antiga terra, lá onde eu sempre soube ou achava que sabia que rumo tomar. Saí, sem perguntar nada ao guri da banca da esquina nem a ninguém, até que me visse a uma distância segura daquele endereço que me impingiram e onde eu me sentia espionada, sabe-se lá que raio de combinação eles tinham com os porteiros, com os vizinhos? Olhe só, Barbie, como eu chegava perigosamente perto da paranoia e ainda falo “deles” como se fossem meus inimigos, minha filha e meu genro
REZENDE, Maria Valéria. Quarenta dias. 1ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014. p. 95-96.
O narrador emprega expressão própria da modalidade oral
da linguagem em:
(S. Bernardo, 1996.)
Alguns pesquisadores falam sobre a necessidade de um
“letramento racial”, para “reeducar o indivíduo em uma
perspectiva antirracista”, baseado em fundamentos como o
reconhecimento de privilégios, do racismo como um
problema social atual, não apenas legado histórico, e a
capacidade de interpretar as práticas racializadas. Ouvir é
sempre a primeira orientação dada por qualquer
especialista ou ativista: uma escuta atenta, sincera e
empática. Luciana Alves, educadora da Unifesp, afirma que
"Uma das principais coisas é atenção à linguagem. A gente
tem uma linguagem sexista, racista, homofóbica, que
passa pelas piadas e pelo uso de termos que a gente já
naturalizou. ‘A coisa tá preta’, ‘denegrir’, ‘serviço de preto’...
Só o fato de você prestar atenção na linguagem já anuncia
uma postura de reconstrução. Se o outro diz que tem uma
carga negativa e ofensiva, acredite”.
(Adaptado de Gente branca: o que os brancos de um país racista podem fazer
pela igualdade além de não serem racistas. UOL, 21/05/2018)
Segundo Luciana Alves, para combater o racismo e mudar
de postura em relação a ele, é fundamental
Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao mercado,
apuro o ouvido; não espero só o sotaque geral dos
nordestinos, onipresentes, mas para conferir a pronúncia
de cada um; os paulistas pensam que todo nordestino
fala igual; contudo as variações são mais numerosas
que as notas de uma escala musical. Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí têm no falar
de seus nativos muito mais variantes do que se imagina.
E a gente se goza uns dos outros, imita o vizinho, e todo
mundo ri, porque parece impossível que um praiano de
beira-mar não chegue sequer perto de um sertanejo
de Quixeramobim. O pessoal do Cariri, então, até se
orgulha do falar deles. Têm uns tês doces, quase um the;
já nós, ásperos sertanejos, fazemos um duro au ou eu
de todos os terminais em al ou el - carnavau, Raqueu...
Já os paraibanos trocam o l pelo r. José Américo só me
chamava, afetuosamente, de Raquer.
Queiroz, R. O Estado de São Paulo. 09 maio 1998 (fragmento adaptado).
Raquel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de
variação linguística que se percebe no falar de pessoas
de diferentes regiões. As características regionais
exploradas no texto manifestam-se
Leia a tira.
Na tira, a presença do termo “Vossa Mercê” na fala do Vovô
revela
Leia a tira.
Na tira, a presença do termo “Vossa Mercê” na fala do Vovô
revela
Disponível em: http://blog.planalto.gov.br. Acesso em: 29 fev. 2012.
Anúncios publicitários geralmente fazem uso de
elementos verbais e não verbais. Nessa peça publicitária,
a imagem, que simula um manual, e o texto verbal,
que faz uso de uma variedade de língua específica,
combinados, pretendem
aconselhar o leitor da peça publicitária a não “pegar” a namorada do amigo para o “bicho não pegar”.
O cordelista por ele mesmo
Aos doze anos eu era
forte, esperto e nutrido.
Vinha do Sítio de Piroca
muito alegre e divertido
vender cestos e balaios
que eu mesmo havia tecido.
Passava o dia na feira
e à tarde regressava
levando umas panelas
que minha mãe comprava
e bebendo água salgada
nas cacimbas onde passava.
BORGES, J. F. Dicionário dos sonhos e outras histórias de cordel.
Porto Alegre: LP&M, 2003 (fragmento).
Literatura de cordel é uma criação popular em verso,
cuja linguagem privilegia, tematicamente, histórias de
cunho regional, lendas, fatos ocorridos para firmar certas
crenças e ações destacadas nas sociedades locais.
A respeito do uso das formas variantes da linguagem no
Brasil, o verso do fragmento que permite reconhecer uma
região brasileira é
O cordelista por ele mesmo
Aos doze anos eu era
forte, esperto e nutrido.
Vinha do Sítio de Piroca
muito alegre e divertido
vender cestos e balaios
que eu mesmo havia tecido.
Passava o dia na feira
e à tarde regressava
levando umas panelas
que minha mãe comprava
e bebendo água salgada
nas cacimbas onde passava.
BORGES, J. F. Dicionário dos sonhos e outras histórias de cordel. Porto Alegre: LP&M, 2003 (fragmento).
Literatura de cordel é uma criação popular em verso,
cuja linguagem privilegia, tematicamente, histórias de
cunho regional, lendas, fatos ocorridos para firmar certas
crenças e ações destacadas nas sociedades locais.
A respeito do uso das formas variantes da linguagem no
Brasil, o verso do fragmento que permite reconhecer uma
região brasileira é
Diz-se, em termos gerais, que é preciso "falar a
mesma língua": o português, por exemplo, que é a língua
que utilizamos. Mas trata-se de uma língua portuguesa
ou de várias línguas portuguesas? O português da
Bahia é o mesmo português do Rio Grande do Sul?
Não está cada um deles sujeito a influências diferentes
— linguísticas, climáticas, ambientais? O português do
médico é igual ao do seu cliente? O ambiente social e o
cultural não determinam a língua? Estas questões levam
à constatação de que existem níveis de linguagem. O
vocabulário, a sintaxe e mesmo a pronúncia variam
segundo esses níveis.
VANOYE, F. Usos da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1981 (fragmento).
Na fala e na escrita, são observadas variações de uso,
motivadas pela classe social do indivíduo, por sua
região, por seu grau de escolaridade, pelo gênero, pela
intencionalidade do ato comunicativo, ou seja, pelas
situações linguísticas e sociais em que a linguagem é
empregada. A variedade linguística adequada à situação
específica de uso social está expressa
Diz-se, em termos gerais, que é preciso "falar a mesma língua": o português, por exemplo, que é a língua que utilizamos. Mas trata-se de uma língua portuguesa ou de várias línguas portuguesas? O português da Bahia é o mesmo português do Rio Grande do Sul? Não está cada um deles sujeito a influências diferentes — linguísticas, climáticas, ambientais? O português do médico é igual ao do seu cliente? O ambiente social e o cultural não determinam a língua? Estas questões levam à constatação de que existem níveis de linguagem. O vocabulário, a sintaxe e mesmo a pronúncia variam segundo esses níveis.
VANOYE, F. Usos da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1981 (fragmento).
Na fala e na escrita, são observadas variações de uso,
motivadas pela classe social do indivíduo, por sua
região, por seu grau de escolaridade, pelo gênero, pela
intencionalidade do ato comunicativo, ou seja, pelas
situações linguísticas e sociais em que a linguagem é
empregada. A variedade linguística adequada à situação
específica de uso social está expressa
Foi sempre um gaúcho quebralhão, e despilchado
sempre, por ser muito de mãos abertas. Se numa mesa
de primeira ganhava uma ponchada de balastracas,
reunia a gurizada da casa, fazia pi! pi! pi! como pra
galinhas e semeava as moedas, rindo-se do formigueiro
que a miuçada formava, catando as pratas no terreiro.
Gostava de sentar um laçaço num cachorro, mas desses
laçaços de apanhar da palheta à virilha, e puxado a
valer, tanto que o bicho que o tomava, de tanto sentir
dor, e lombeando-se, depois de disparar um pouco é
que gritava, num caim! caim! caim! de desespero.
LOPES NETO, J. S. Contrabandista. In: SALES, H. (org). Antologia de contos brasileiros.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2001 (adaptado).
A língua falada no Brasil apresenta vasta diversidade,
que se manifesta de acordo com o lugar, a faixa etária, a
classe social, entre outros elementos. No fragmento do
texto literário, a variação linguística destaca-se
Foi sempre um gaúcho quebralhão, e despilchado sempre, por ser muito de mãos abertas. Se numa mesa de primeira ganhava uma ponchada de balastracas, reunia a gurizada da casa, fazia pi! pi! pi! como pra galinhas e semeava as moedas, rindo-se do formigueiro que a miuçada formava, catando as pratas no terreiro. Gostava de sentar um laçaço num cachorro, mas desses laçaços de apanhar da palheta à virilha, e puxado a valer, tanto que o bicho que o tomava, de tanto sentir dor, e lombeando-se, depois de disparar um pouco é que gritava, num caim! caim! caim! de desespero.
LOPES NETO, J. S. Contrabandista. In: SALES, H. (org). Antologia de contos brasileiros. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001 (adaptado).
A língua falada no Brasil apresenta vasta diversidade,
que se manifesta de acordo com o lugar, a faixa etária, a
classe social, entre outros elementos. No fragmento do
texto literário, a variação linguística destaca-se
Nas linhas 14 e 15, na fala atribuída ao torturador, foi usada a linguagem coloquial. Esse trecho poderia ser expresso corretamente em linguagem formal: Não há de se evocar Deus, porque, aqui, Deus somos nós mesmos.
A partir dessas informações, julgue o item e assinale a opção correta no item 58.
Um menino aprende a ler
Minha mãe sentava-se a coser e retinha-me de livro
na mão, ao lado dela, ao pé da máquina de costura.
O livro tinha numa página a figura de um bicho carcunda
ao lado da qual, em letras graúdas, destacava-se esta
palavra: ESTÔMAGO. Depois de soletrar “es-to-ma-go”,
pronunciei “estomágo”. Eu havia pronunciado bem as
duas primeiras palavras que li, camelo e dromedário.
Mas estômago, pronunciei estomágo. Minha mãe, bonita
como só pode ser mãe jovem para filho pequeno, o rosto
alvíssimo, os cabelos enrolados no pescoço, parou a
costura e me fitou de fazer medo: “Gilberto!”. Estremeci.
“Estomágo? Leia de novo, soletre”. Soletrei, repeti:
“Estomágo”. Foi o diabo.
Jamais tinha ouvido, ao que me lembrasse então, a
palavra estômago. A cozinheira, o estribeira, os criados,
Bernarda, diziam “estambo”. “Estou com uma dor na boca
do estambo...”, “Meu estambo está tinindo...”. Meus pais
teriam pronunciado direito na minha presença, mas eu
não me lembrava. E criança, como o povo, sempre que
pode repele proparoxítono.
AMADO, G. História da minha infância. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958.
No trecho, em que o narrador relembra um episódio
de sua infância, revela-se a possibilidade de a língua
se realizar de formas diferentes. Com base no texto, a
passagem em que se constata uma marca de variedade
linguística pouco prestigiada é:
Um menino aprende a ler
Minha mãe sentava-se a coser e retinha-me de livro na mão, ao lado dela, ao pé da máquina de costura. O livro tinha numa página a figura de um bicho carcunda ao lado da qual, em letras graúdas, destacava-se esta palavra: ESTÔMAGO. Depois de soletrar “es-to-ma-go”, pronunciei “estomágo”. Eu havia pronunciado bem as duas primeiras palavras que li, camelo e dromedário. Mas estômago, pronunciei estomágo. Minha mãe, bonita como só pode ser mãe jovem para filho pequeno, o rosto alvíssimo, os cabelos enrolados no pescoço, parou a costura e me fitou de fazer medo: “Gilberto!”. Estremeci. “Estomágo? Leia de novo, soletre”. Soletrei, repeti: “Estomágo”. Foi o diabo.
Jamais tinha ouvido, ao que me lembrasse então, a palavra estômago. A cozinheira, o estribeira, os criados, Bernarda, diziam “estambo”. “Estou com uma dor na boca do estambo...”, “Meu estambo está tinindo...”. Meus pais teriam pronunciado direito na minha presença, mas eu não me lembrava. E criança, como o povo, sempre que pode repele proparoxítono.
AMADO, G. História da minha infância. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958.
No trecho, em que o narrador relembra um episódio de sua infância, revela-se a possibilidade de a língua se realizar de formas diferentes. Com base no texto, a passagem em que se constata uma marca de variedade linguística pouco prestigiada é:
Pela primeira vez na vida teve pena de haver tantos
assuntos no mundo que não compreendia e esmoreceu.
Mas uma mosca fez um ângulo reto no ar, depois outro,
além disso, os seis anos são uma idade de muitas coisas
pela primeira vez, mais do que uma por dia e, por isso,
logo depois, arribou. Os assuntos que não compreendia
eram uma espécie de tontura, mas o Ilídio era forte.
Se calhar estava a falar de tratar da cabra: nunca
esqueças de tratar da cabra. O Ilídio não gostava
que a mãe o mandasse tratar da cabra. Se estava
ocupado a contar uma história a um guarda-chuva,
não queria ser interrompido. Às vezes, a mãe escolhia
os piores momentos para chamá-lo, ele podia estar
a contemplar um segredo, por isso, assustava-se e,
depois, irritava-se. Às vezes, fazia birras no meio da
rua. A mãe envergonhava-se e, mais tarde, em casa,
dizia que as pessoas da vila nunca tinham visto um
menino tão velhaco. O Ilídio ficava enxofrado, mas
lembrava-se dos homens que lhe chamavam reguila,
diziam ah, reguila de má raça. Com essa memória,
recuperava o orgulho. Era reguila, não era velhaco.
Essa certeza dava-lhe forças para protestar mais,
para gritar até, se lhe apetecesse.
PEIXOTO, J. L. Livro. São Paulo: Cia. das Letras, 2012.
No texto, observa-se o uso característico do português de
Portugal, marcadamente diferente do uso do português
do Brasil. O trecho que confirma essa afirmação é:
Pela primeira vez na vida teve pena de haver tantos assuntos no mundo que não compreendia e esmoreceu. Mas uma mosca fez um ângulo reto no ar, depois outro, além disso, os seis anos são uma idade de muitas coisas pela primeira vez, mais do que uma por dia e, por isso, logo depois, arribou. Os assuntos que não compreendia eram uma espécie de tontura, mas o Ilídio era forte.
Se calhar estava a falar de tratar da cabra: nunca esqueças de tratar da cabra. O Ilídio não gostava que a mãe o mandasse tratar da cabra. Se estava ocupado a contar uma história a um guarda-chuva, não queria ser interrompido. Às vezes, a mãe escolhia os piores momentos para chamá-lo, ele podia estar a contemplar um segredo, por isso, assustava-se e, depois, irritava-se. Às vezes, fazia birras no meio da rua. A mãe envergonhava-se e, mais tarde, em casa, dizia que as pessoas da vila nunca tinham visto um menino tão velhaco. O Ilídio ficava enxofrado, mas lembrava-se dos homens que lhe chamavam reguila, diziam ah, reguila de má raça. Com essa memória, recuperava o orgulho. Era reguila, não era velhaco. Essa certeza dava-lhe forças para protestar mais, para gritar até, se lhe apetecesse.
PEIXOTO, J. L. Livro. São Paulo: Cia. das Letras, 2012.
No texto, observa-se o uso característico do português de Portugal, marcadamente diferente do uso do português do Brasil. O trecho que confirma essa afirmação é:
Constitui marca do registro informal da língua o trecho
Zé Araújo começou a cantar num tom triste, dizendo aos curiosos que começaram a chegar que uma mulher
tinha se ajoelhado aos pés da santa cruz e jurado em
nome de Jesus um grande amor, mas jurou e não cumpriu,
fingiu e me enganou, pra mim você mentiu, pra Deus
você pecou, o coração tem razões que a própria razão
desconhece, faz promessas e juras, depois esquece.
O caboclo estava triste e inspirado. Depois dessa
canção que arrepiou os cabelos da Neusa, emendou com
uma valsa mais arretada ainda, cheia de palavras difíceis,
mas bonita que só a gota serena. Era a história de uma
boneca encantadora vista numa vitrine de cristal sobre o
soberbo pedestal. Zé Araújo fechava os olhos e soltava
a voz:
Seus cabelos tinham a cor/ Do sol a irradiar/
Fulvos raios de amor./ Seus olhos eram circúnvagos/
Do romantismo azul dos lagos/ Mãos liriais, uns
braços divinais,/ Um corpo alvo sem par/ E os pés
muito pequenos./ Enfím eu vi nesta boneca/ Uma perfeita
Vênus.
CASTRO, N. L. As pelejas de Ojuara: o homem que desafiou o diabo.
São Paulo: Arx, 2006 (adaptado).
O comentário do narrador do romance “[...] emendou com
uma valsa mais arretada ainda, cheia de palavras difíceis,
mas bonita que só a gota serena” relaciona-se ao fato
de que essa valsa é representativa de uma variedade
linguística
Zé Araújo começou a cantar num tom triste, dizendo aos curiosos que começaram a chegar que uma mulher tinha se ajoelhado aos pés da santa cruz e jurado em nome de Jesus um grande amor, mas jurou e não cumpriu, fingiu e me enganou, pra mim você mentiu, pra Deus você pecou, o coração tem razões que a própria razão desconhece, faz promessas e juras, depois esquece.
O caboclo estava triste e inspirado. Depois dessa canção que arrepiou os cabelos da Neusa, emendou com uma valsa mais arretada ainda, cheia de palavras difíceis, mas bonita que só a gota serena. Era a história de uma boneca encantadora vista numa vitrine de cristal sobre o soberbo pedestal. Zé Araújo fechava os olhos e soltava a voz:
Seus cabelos tinham a cor/ Do sol a irradiar/ Fulvos raios de amor./ Seus olhos eram circúnvagos/ Do romantismo azul dos lagos/ Mãos liriais, uns braços divinais,/ Um corpo alvo sem par/ E os pés muito pequenos./ Enfím eu vi nesta boneca/ Uma perfeita Vênus.
CASTRO, N. L. As pelejas de Ojuara: o homem que desafiou o diabo. São Paulo: Arx, 2006 (adaptado).
O comentário do narrador do romance “[...] emendou com uma valsa mais arretada ainda, cheia de palavras difíceis, mas bonita que só a gota serena” relaciona-se ao fato de que essa valsa é representativa de uma variedade linguística