Tendo em vista o gênero literário em que se enquadra o texto, o autor
permite-se o uso de uma expressão típica da linguagem informal em:
Texto para a questão
PARDAIS NOVOS
Um dia o meu telefone, instalado à cabeceira de minha cama, retiniu
violentamente às sete da manhã. Estremunhado tomei do receptor e ouvi do
outro lado uma voz que dizia: “Mestre, sou um pardal novo. Posso ler-lhe uns
versos para que o senhor me dê a sua opinião?” Ponderei com mau humor ao
pardal que aquilo não eram horas para consultas de tal natureza, que ele me
telefonasse mais tarde. O pardal não telefonou de novo: veio às nove e meia
ao meu apartamento.
Mal o vi, percebi que não se tratava de pardal novo. Ele mesmo como que
concordou que o não era, pois perguntando-lhe eu a idade, hesitou contrafeito
para responder que tinha 35 anos. Ainda por cima era um pardal velho!
Desde esse dia passei a chamar de pardais novos os rapazes que me
procuram para mostrar-me os seus primeiros ensaios de voo no céu da poesia.
Dizem eles que desejam saber se têm realmente queda para o ofício, se vale a
pena persistir etc. Fico sempre embaraçado para dar qualquer conselho. A
menos que se seja um Rimbaud ou, mais modestamente, um Castro Alves, que
poesia se pode fazer antes dos vinte anos? Como Mallarmé afirmou certa vez
que todo verso é um esforço para o estilo, acabo aconselhando ao pardal que
vá fazendo os seus versinhos, sem se preocupar com a opinião de ninguém,
inclusive a minha.
(...)
Manuel Bandeira, Melhores crônicas. Global Editora.
Gabarito comentado
Tema central: A questão avalia o entendimento sobre registro de linguagem e o reconhecimento do uso de expressões típicas da linguagem informal no texto. Saber identificar o nível de formalidade é essencial em provas de interpretação e gramática normativa.
Justificativa da alternativa correta (A): "Ainda por cima" é uma locução adverbial característica da linguagem coloquial, usada para indicar acréscimo ou intensificação: "Ele esqueceu o dever e, ainda por cima, chegou atrasado." Na norma culta, especialmente em textos acadêmicos e oficiais, recomenda-se evitar tal expressão pela sua informalidade. Autores como Evanildo Bechara reforçam que reconhecer o nível de linguagem é competência-chave para boa leitura e escrita. Por isso, é a escolha correta.
Análise das alternativas incorretas:
B) "Desde esse dia": Expressão neutra, adequada tanto ao registro formal quanto ao informal.
C) "que o não era": Apresenta inversão pronominal, frequente no registro formal e literário, nunca caracterizando informalidade.
D) "A menos que": Trata-se de uma locução conjuntiva condicional, comum e apropriada em textos formais.
E) "tomei do receptor": Embora pouco usual, não é expressão de informalidade, podendo estar em escritos mais formais e literários.
Estratégia de prova: Atenção a expressões idiomáticas e ao tom da frase. Muitas bancas testam a sua sensibilidade ao registro informal por meio de locuções do dia a dia, empregadas em contextos de proximidade e espontaneidade.
Resumo da regra: Segundo gramáticas de referência (Bechara; Cunha & Cintra), a linguagem deve se adequar ao gênero e ao objetivo do texto. Expressões informais devem ser evitadas em registros formais ou acadêmicos.
Conclusão: A alternativa A ("Ainda por cima") é a única que contém marca clara de informalidade. Fique sempre atento a esse tipo de construção!
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