Questão 61b33fa1-16
Prova:FGV 2018
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Variação Linguística

Tendo em vista o gênero literário em que se enquadra o texto, o autor permite-se o uso de uma expressão típica da linguagem informal em:

Texto para a questão

PARDAIS NOVOS

    Um dia o meu telefone, instalado à cabeceira de minha cama, retiniu violentamente às sete da manhã. Estremunhado tomei do receptor e ouvi do outro lado uma voz que dizia: “Mestre, sou um pardal novo. Posso ler-lhe uns versos para que o senhor me dê a sua opinião?” Ponderei com mau humor ao pardal que aquilo não eram horas para consultas de tal natureza, que ele me telefonasse mais tarde. O pardal não telefonou de novo: veio às nove e meia ao meu apartamento.
    Mal o vi, percebi que não se tratava de pardal novo. Ele mesmo como que concordou que o não era, pois perguntando-lhe eu a idade, hesitou contrafeito para responder que tinha 35 anos. Ainda por cima era um pardal velho!
    Desde esse dia passei a chamar de pardais novos os rapazes que me procuram para mostrar-me os seus primeiros ensaios de voo no céu da poesia. Dizem eles que desejam saber se têm realmente queda para o ofício, se vale a pena persistir etc. Fico sempre embaraçado para dar qualquer conselho. A menos que se seja um Rimbaud ou, mais modestamente, um Castro Alves, que poesia se pode fazer antes dos vinte anos? Como Mallarmé afirmou certa vez que todo verso é um esforço para o estilo, acabo aconselhando ao pardal que vá fazendo os seus versinhos, sem se preocupar com a opinião de ninguém, inclusive a minha. (...)

Manuel Bandeira, Melhores crônicas. Global Editora.

A
“Ainda por cima”.
B
“Desde esse dia”.
C
“que o não era”.
D
“A menos que”.
E
“tomei do receptor”.

Gabarito comentado

P
Patrícia SantosMonitor do Qconcursos

Tema central: A questão avalia o entendimento sobre registro de linguagem e o reconhecimento do uso de expressões típicas da linguagem informal no texto. Saber identificar o nível de formalidade é essencial em provas de interpretação e gramática normativa.

Justificativa da alternativa correta (A): "Ainda por cima" é uma locução adverbial característica da linguagem coloquial, usada para indicar acréscimo ou intensificação: "Ele esqueceu o dever e, ainda por cima, chegou atrasado." Na norma culta, especialmente em textos acadêmicos e oficiais, recomenda-se evitar tal expressão pela sua informalidade. Autores como Evanildo Bechara reforçam que reconhecer o nível de linguagem é competência-chave para boa leitura e escrita. Por isso, é a escolha correta.

Análise das alternativas incorretas:

B) "Desde esse dia": Expressão neutra, adequada tanto ao registro formal quanto ao informal.

C) "que o não era": Apresenta inversão pronominal, frequente no registro formal e literário, nunca caracterizando informalidade.

D) "A menos que": Trata-se de uma locução conjuntiva condicional, comum e apropriada em textos formais.

E) "tomei do receptor": Embora pouco usual, não é expressão de informalidade, podendo estar em escritos mais formais e literários.

Estratégia de prova: Atenção a expressões idiomáticas e ao tom da frase. Muitas bancas testam a sua sensibilidade ao registro informal por meio de locuções do dia a dia, empregadas em contextos de proximidade e espontaneidade.

Resumo da regra: Segundo gramáticas de referência (Bechara; Cunha & Cintra), a linguagem deve se adequar ao gênero e ao objetivo do texto. Expressões informais devem ser evitadas em registros formais ou acadêmicos.

Conclusão: A alternativa A ("Ainda por cima") é a única que contém marca clara de informalidade. Fique sempre atento a esse tipo de construção!

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