AEm meio ao verão, a chama da literatura bruxuleia e se apaga. Não se precisa de chave para abrir o mundo, quando ele se dá a nós, escancarado, sem espessura e sem sombras. (linhas 17-18)
Comentário: o fragmento do texto apresenta, pela intertextualidade, uma visão de contraste à seguinte estrofe de Carlos Drummond de Andrade, especialmente, na relação entre vida e criação literária: Chega mais perto e contempla as palavras. / Cada uma / tem mil faces secretas sob a face neutra / e te pergunta, sem interesse pela resposta, / pobre ou terrrível, que lhe deres: / Trouxeste a chave?
BO verão é feroz. Especialmente um verão como este, ilegítimo, fora de época, produto de uma subversão planetária. Tudo nele está fora da lei, como a poesia e a paixão desvairada. (linhas 8-9)
Comentário: O fragmento do texto, por meio da enumeração e da comparação, contraria a aceitabilidade do texto no que se refere à expectativa do leitor sobre a produção de sentido.
CO verão lembra uma máquina anômala cujas correias e roldanas se estendem por avenidas e rodam nas nuvens, (linhas 13-14)
Comentário: No fragmento do texto, o emprego do pronome relativo “cujas” institui pela catáfora, uma inadequação no mecanismo coesivo do texto.
DUma onça – não sei se já repararam – não tem costura. O verão, esta pantera, também não tem. E dentro dele estamos nós, prisioneiros de uma jaula feliz. (linhas 3-5) Comentário: A produção de sentido do trecho “prisioneiros de uma jaula feliz” garante a informatividade pelo uso exclusivo da linguagem denotativa.
EO verão não tem municípios, nem governo, nem câmara, nem eleições. Está deitado ao lado do mar e aos pés da montanha selvagem. Azul e verde, sal e clorofila. (linhas 5-7) Comentário: A produção de sentido do trecho “azul e verde, sal e clorofila” se efetiva na intencionalidade do narrador em alarmar quanto aos efeitos danosos de um verão fora de época.