Questõesde USP sobre Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

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USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A visão do eu-lírico no texto I 

LEIA OS SEGUINTES TEXTOS DE MACHADO DE ASSIS PARA RESPONDER À QUESTÃO.


I.

        Suave mari magno*

Lembra-me que, em certo dia,

Na rua, ao sol de verão,

Envenenado morria

        Um pobre cão.


Arfava, espumava e ria,

De um riso espúrio e bufão,

Ventre e pernas sacudia

        Na convulsão.


Nenhum, nenhum curioso

Passava, sem se deter,

        Silencioso,


Junto ao cão que ia morrer,

Como se lhe desse gozo

        Ver padecer.

                                                Machado de Assis. Ocidentais


*Expressão latina, retirada de Lucrécio (Da natureza das coisas), a qual aparece no seguinte trecho: Suave, mari magno, turbantibus aequora ventis/ E terra magnum alterius spectare laborem. (“É agradável, enquanto no mar revoltoso os ventos levantam as águas, observar da terra os grandes esforços de um outro.”). 


II.

    Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão.

Machado de Assis. Quincas Borba, cap. XVIII.


III.

     Sofia soltou um grito de horror e acordou. Tinha ao pé do leito o marido:

      – Que foi? perguntou ele.

      – Ah! respirou Sofia. Gritei, não gritei?

                                     (...)

   – Sonhei que estavam matando você. Palha ficou enternecido. Havê-la feito padecer por ele, ainda que em sonhos, encheu-o de piedade, mas de uma piedade gostosa, um sentimento particular, íntimo, profundo, – que o faria desejar outros pesadelos, para que o assassinassem aos olhos dela, e para que ela gritasse angustiada, convulsa, cheia de dor e de pavor.

Machado de Assis. Quincas Borba, cap. CLXI.  

A
volta-se nostálgica para as imagens de uma lembrança.
B
centra-se com desprezo na figura do animal agonizante.
C
apreende displicentemente o movimento dos transeuntes.
D
ganha distância da cena para captar todos os seus aspectos.
E
apresenta o espectador da crueldade como um ser incomum.
d832f1c5-73
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Por narrativas paralelas entende-se um procedimento literário segundo o qual dois ou mais fios narrativos pertencentes a níveis distintos de realidade se desenrolam intercaladamente formando um todo. Considerando-se a sua estrutura, as duas narrativas que podem ser identificadas com base nessa definição são: 

A
Quincas Borba e Nove noites  
B
Campo geral e Terra sonâmbula 
C
Angústia e Campo geral 
D
Nove noites e Terra sonâmbula  
E
Quincas Borba e Angústia 
d85010f8-73
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

        Chega um momento em que a tensão eu/mundo se exprime mediante uma perspectiva crítica, imanente à escrita, o que torna o romance não mais uma variante literária da rotina social, mas o seu avesso; logo, o oposto do discurso ideológico do homem médio. O romancista “imitaria” a vida, sim, mas qual vida? Aquela cujo sentido dramático escapa a homens e mulheres entorpecidos ou automatizados por seus hábitos cotidianos. A vida como objeto de busca e construção, e não a vida como encadeamento de tempos vazios e inertes. Caso essa pobre vidamorte deva ser tematizada, ela aparecerá como tal, degradada, sem a aura positiva com que as palavras “realismo” e “realidade” são usadas nos discursos que fazem a apologia conformista da “vida como ela é”... A escrita da resistência, a narrativa atravessada pela tensão crítica, mostra, sem retórica nem alarde ideológico, que essa “vida como ela é” é, quase sempre, o ramerrão de um mecanismo alienante, precisamente o contrário da vida plena e digna de ser vivida.

        É nesse sentido que se pode dizer que a narrativa descobre a vida verdadeira, e que esta abraça e transcende a vida real. A literatura, com ser ficção, resiste à mentira. É nesse horizonte que o espaço da literatura, considerado em geral como lugar da fantasia, pode ser o lugar da verdade mais exigente.

Alfredo Bosi. “Narrativa e resistência”. Adaptado.


O conceito de resistência, expresso pela tensão do indivíduo perante o mundo, adquire perspectiva crítica na escrita do romance quando o autor 

A
rompe a superfície enganosa da realidade.
B
forja um realismo rente à vida mesquinha.
C
é neutro ao figurar a vacuidade do presente.
D
conserva o discurso positivo da ordem.
E
consegue sobrepor a fantasia à verdade.
d840d9be-73
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Largo em sentir, em respirar sucinto,

Peno, e calo, tão fino, e tão atento,

Que fazendo disfarce do tormento

Mostro que o não padeço, e sei que o sinto.


O mal, que fora encubro, ou que desminto,

Dentro no coração é que o sustento:

Com que, para penar é sentimento,

Para não se entender, é labirinto.


Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;

Da tempestade é o estrondo efeito:

Lá tem ecos a terra, o mar suspiros.


Mas oh do meu segredo alto conceito!

Pois não me chegam a vir à boca os tiros

Dos combates que vão dentro no peito.

Gregório de Matos e Guerra


No soneto, o eu lírico:

A
expressa um conflito que confirma a imagem pública do poeta, conhecido pelo epíteto de “o Boca do Inferno”. 
B
opta por sufocar a própria voz como estratégia apaziguadora de suas perturbações de foro íntimo. 
C
explora a censura que o autor sofreu em sua época, ao ser impedido de dar expressão aos seus sentimentos.
D
estabelece, nos tercetos, um contraponto semântico entre as metáforas da natureza e da guerra. 
E
revela-se como um ser atormentado, ao mesmo tempo que omite a natureza de seu sofrimento. 
d83d18b4-73
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No texto III, ao analisar a interioridade de Palha, o narrador descobre, no pensamento oculto do negociante,

LEIA OS SEGUINTES TEXTOS DE MACHADO DE ASSIS PARA RESPONDER À QUESTÃO.


I.

        Suave mari magno*

Lembra-me que, em certo dia,

Na rua, ao sol de verão,

Envenenado morria

        Um pobre cão.


Arfava, espumava e ria,

De um riso espúrio e bufão,

Ventre e pernas sacudia

        Na convulsão.


Nenhum, nenhum curioso

Passava, sem se deter,

        Silencioso,


Junto ao cão que ia morrer,

Como se lhe desse gozo

        Ver padecer.

                                                Machado de Assis. Ocidentais


*Expressão latina, retirada de Lucrécio (Da natureza das coisas), a qual aparece no seguinte trecho: Suave, mari magno, turbantibus aequora ventis/ E terra magnum alterius spectare laborem. (“É agradável, enquanto no mar revoltoso os ventos levantam as águas, observar da terra os grandes esforços de um outro.”). 


II.

    Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão.

Machado de Assis. Quincas Borba, cap. XVIII.


III.

     Sofia soltou um grito de horror e acordou. Tinha ao pé do leito o marido:

      – Que foi? perguntou ele.

      – Ah! respirou Sofia. Gritei, não gritei?

                                     (...)

   – Sonhei que estavam matando você. Palha ficou enternecido. Havê-la feito padecer por ele, ainda que em sonhos, encheu-o de piedade, mas de uma piedade gostosa, um sentimento particular, íntimo, profundo, – que o faria desejar outros pesadelos, para que o assassinassem aos olhos dela, e para que ela gritasse angustiada, convulsa, cheia de dor e de pavor.

Machado de Assis. Quincas Borba, cap. CLXI.  

A
a ternura que lhe inspira a mulher, capaz de toda abnegação.
B
a piedade que lhe causa a mulher, a quem só guarda desprezo.
C
a vaidade que beira o sadismo, ao ver a mulher sofrer por ele.
D
o gozo vingativo, visto que a mulher o trai com Carlos Maria.
E
o remorso do infiel, pois ele trai a mulher com Maria Benedita.
d839323a-73
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A analogia consiste em um recurso de expressão comumente utilizado para ilustrar um raciocínio por meio da semelhança que se observa entre dois fatos ou ideias. No texto II, a analogia construída a partir da imagem do chicote pretende sugerir que 

LEIA OS SEGUINTES TEXTOS DE MACHADO DE ASSIS PARA RESPONDER À QUESTÃO.


I.

        Suave mari magno*

Lembra-me que, em certo dia,

Na rua, ao sol de verão,

Envenenado morria

        Um pobre cão.


Arfava, espumava e ria,

De um riso espúrio e bufão,

Ventre e pernas sacudia

        Na convulsão.


Nenhum, nenhum curioso

Passava, sem se deter,

        Silencioso,


Junto ao cão que ia morrer,

Como se lhe desse gozo

        Ver padecer.

                                                Machado de Assis. Ocidentais


*Expressão latina, retirada de Lucrécio (Da natureza das coisas), a qual aparece no seguinte trecho: Suave, mari magno, turbantibus aequora ventis/ E terra magnum alterius spectare laborem. (“É agradável, enquanto no mar revoltoso os ventos levantam as águas, observar da terra os grandes esforços de um outro.”). 


II.

    Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão.

Machado de Assis. Quincas Borba, cap. XVIII.


III.

     Sofia soltou um grito de horror e acordou. Tinha ao pé do leito o marido:

      – Que foi? perguntou ele.

      – Ah! respirou Sofia. Gritei, não gritei?

                                     (...)

   – Sonhei que estavam matando você. Palha ficou enternecido. Havê-la feito padecer por ele, ainda que em sonhos, encheu-o de piedade, mas de uma piedade gostosa, um sentimento particular, íntimo, profundo, – que o faria desejar outros pesadelos, para que o assassinassem aos olhos dela, e para que ela gritasse angustiada, convulsa, cheia de dor e de pavor.

Machado de Assis. Quincas Borba, cap. CLXI.  

A
o instrumento do castigo nem sempre cai em mãos justas.
B
o apreço aos objetos independe do uso que se faz deles.
C
o cabo é metáfora de mérito, e a ponta, metáfora de culpa.
D
o mais fraco, por ser compassivo, é incapaz de desfrutar do poder.
E
o prazer verdadeiro se experimenta no lado dos dominantes.
d8445207-73
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Nun´Álvares Pereira


Que auréola te cerca?

É a espada que, volteando,

Faz que o ar alto perca

Seu azul negro e brando.


Mas que espada é que, erguida,

Faz esse halo no céu?

É Excalibur, a ungida,

Que o Rei Artur te deu.


´Sperança consumada, S

. Portugal em ser,

Ergue a luz da tua espada

Para a estrada se ver!

Fernando Pessoa. In: “A Coroa”, Parte I, Mensagem


A primeira parte de Mensagem, organizada como um correlativo poético do Brasão das Armas de Portugal, perfila uma série de figuras míticas e históricas que teriam sido responsáveis pela formação nacional portuguesa. A seleção de Nun´Álvares Pereira para ocupar o lugar da Coroa 

A
sugere, pela imagem do halo de luz, que a verdadeira nobreza é de espírito.
B
destaca, através da referência ao mito arturiano, o seu sangue bretão.
C
distingue, por meio do substantivo “´sperança”, um regente digno de seu posto.
D
enaltece, pela repetição da palavra espada, a guerra como estrada para o futuro.
E
indica, associada ao adjetivo “consumada”, uma visão desenganada da história.
d84c8b89-73
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Pronomes relativos, Coesão e coerência, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto, Morfologia - Pronomes

No texto, os pronomes em negrito referem-se, respectivamente, a:

        A taxação de livros tem um efeito cascata que acaba custando caro não apenas ao leitor, como também ao mercado editorial – que há anos não anda bem das pernas – e, em última instância, ao desenvolvimento econômico do país. A gente explica. Taxar um produto significa, quase sempre, um aumento no valor do produto final. Isso porque ao menos uma parte desse imposto será repassada ao consumidor, especialmente se considerarmos que as editoras e livrarias enfrentam há anos uma crise que agora está intensificada pela pandemia e não poderiam retirar o valor desse imposto de seu já apertado lucro. Livros mais caros também resultam em queda de vendas, que, por sua vez, enfraquece ainda mais editoras e as impede de investir em novas publicações – especialmente aquelas de menor apelo comercial, mas igualmente importantes para a pluralidade de ideias. Já deu para perceber a confusão, não é? Mas, além disso, qual seria o custo de uma sociedade com menos leitores e menos livros?

Taís Ilhéu. “Por que taxar os livros pode gerar retrocesso social e econômico no país”. Guia do Estudante. Setembro/2020. Adaptado. 

A
taxação de livros, mercado editorial, crise, queda de vendas.
B
taxação de livros, leitor, crise, queda de vendas.
C
efeito cascata, mercado editorial, crise, queda de vendas.
D
efeito cascata, mercado editorial, livrarias, livros.
E
efeito cascata, leitor, crise, livros.
d849e92b-73
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

De acordo com o texto, os eventos sequenciais aos quais alude a expressão “efeito cascata” são:  

        A taxação de livros tem um efeito cascata que acaba custando caro não apenas ao leitor, como também ao mercado editorial – que há anos não anda bem das pernas – e, em última instância, ao desenvolvimento econômico do país. A gente explica. Taxar um produto significa, quase sempre, um aumento no valor do produto final. Isso porque ao menos uma parte desse imposto será repassada ao consumidor, especialmente se considerarmos que as editoras e livrarias enfrentam há anos uma crise que agora está intensificada pela pandemia e não poderiam retirar o valor desse imposto de seu já apertado lucro. Livros mais caros também resultam em queda de vendas, que, por sua vez, enfraquece ainda mais editoras e as impede de investir em novas publicações – especialmente aquelas de menor apelo comercial, mas igualmente importantes para a pluralidade de ideias. Já deu para perceber a confusão, não é? Mas, além disso, qual seria o custo de uma sociedade com menos leitores e menos livros?

Taís Ilhéu. “Por que taxar os livros pode gerar retrocesso social e econômico no país”. Guia do Estudante. Setembro/2020. Adaptado. 

A
livros mais caros, decréscimo de vendas, estímulo às editoras, supressão de investimento em novas publicações. 
B
aumento do valor do produto final, queda de vendas, encolhimento das editoras, aumento do investimento em novas obras. 
C
livros mais caros, instabilidade nas vendas, enfraquecimento das editoras, expansão das publicações. 
D
aumento do valor do produto final, contração nas vendas, esgotamento das editoras, falta de investimento em novas publicações. 
E
livros mais caros, equilíbrio nas vendas, diminuição das editoras, carência de investimento em novas publicações.  
d852ebe6-73
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A escrita poderia servir de definição da nossa civilização, uma vez que 

A escrita faz de tal modo parte de nossa civilização que poderia servir de definição dela própria. A história da humanidade se divide em duas imensas eras: antes e a partir da escrita. Talvez venha o dia de uma terceira era — depois da escrita. Vivemos os séculos da civilização escrita. Todas as nossas sociedades baseiam-se no escrito. A lei escrita substitui a lei oral, o contrato escrito substitui a convenção verbal, a religião escrita se seguiu à tradição lendária. E sobretudo não existe história que não se funde sobre textos.

Charles Higounet. A história da escrita. Adaptado.  

A
a terceira era está prestes a acontecer.
B
o escrito respalda as atividades humanas.
C
as convenções verbais substituíram o escrito.
D
a oralidade deixou de ser usada em períodos remotos.
E
os textos pararam de se modificar a partir da escrita.
df5e0248-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Pronomes pessoais retos, Coesão e coerência, Sintaxe, Concordância verbal, Concordância nominal, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto, Morfologia - Pronomes

Na oração "que ela dura" (v. 4), o pronome sublinhado

Psicanálise do açúcar


O açúcar cristal, ou açúcar de usina,

mostra a mais instável das brancuras:

quem do Recife sabe direito o quanto,

e o pouco desse quanto, que ela dura.

Sabe o mínimo do pouco que o cristal

se estabiliza cristal sobre o açúcar,

por cima do fundo antigo, de mascavo,

do mascavo barrento que se incuba;

e sabe que tudo pode romper o mínimo

em que o cristal é capaz de censura:

pois o tal fundo mascavo logo aflora

quer inverno ou verão mele o açúcar.


Só os banguês* que-ainda purgam ainda

o açúcar bruto com barro, de mistura;

a usina já não o purga: da infância,

não de depois de adulto, ela o educa;

em enfermarias, com vácuos e turbinas,

em mãos de metal de gente indústria,

a usina o leva a sublimar em cristal

o pardo do xarope: não o purga, cura.

Mas como a cana se cria ainda hoje,

em mãos de barro de gente agricultura,

o barrento da pré-infância logo aflora

quer inverno ou verão mele o açúcar.

João Cabral de Melo Neto, A Educação pela Pedra.


*banguê: engenho de açúcar primitivo movido a força animal. 

A
não tem referente.
B
retoma a palavra "usina" (v. 1).
C
pode ser substituído por "ele", referindo-se a "açúcar" (v. 1).
D
refere-se à "mais instável das brancuras" (v. 2).
E
equivale à palavra "censura" (v. 10).
df57b6db-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto


O efeito de humor presente nas falas das personagens decorre

A
da quebra de expectativa gerada pela polissemia.
B
da ambiguidade causada pela antonímia.
C
do contraste provocado pela fonética.
D
do contraste introduzido pela neologia.
E
do estranhamento devido à morfologia.
df5b7257-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Os últimos quatro versos do poema rompem com a série de contrapontos entre a usina e o banguê, pois

Psicanálise do açúcar


O açúcar cristal, ou açúcar de usina,

mostra a mais instável das brancuras:

quem do Recife sabe direito o quanto,

e o pouco desse quanto, que ela dura.

Sabe o mínimo do pouco que o cristal

se estabiliza cristal sobre o açúcar,

por cima do fundo antigo, de mascavo,

do mascavo barrento que se incuba;

e sabe que tudo pode romper o mínimo

em que o cristal é capaz de censura:

pois o tal fundo mascavo logo aflora

quer inverno ou verão mele o açúcar.


Só os banguês* que-ainda purgam ainda

o açúcar bruto com barro, de mistura;

a usina já não o purga: da infância,

não de depois de adulto, ela o educa;

em enfermarias, com vácuos e turbinas,

em mãos de metal de gente indústria,

a usina o leva a sublimar em cristal

o pardo do xarope: não o purga, cura.

Mas como a cana se cria ainda hoje,

em mãos de barro de gente agricultura,

o barrento da pré-infância logo aflora

quer inverno ou verão mele o açúcar.

João Cabral de Melo Neto, A Educação pela Pedra.


*banguê: engenho de açúcar primitivo movido a força animal. 

A
negam haver diferença química entre o açúcar cristal e o açúcar mascavo.
B
esclarecem que a aparência do açúcar varia com a espécie de cana cultivada.
C
revelam que na base de toda empresa açucareira está o trabalhador rural.
D
denunciam a exploração do trabalho infantil nos canaviais nordestinos.
E
explicam que a estação do ano define em qualquer processo o tipo de açúcar.
df4e3a3e-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Na cena apresentada, que explora o desconforto gerado pela difícil interlocução com o indígena, o narrador

Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia motivo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já era conhecido. E ele me perguntava: "Então, por que você quer saber, se já sabe?" Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção (e mostrava o que tinha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido, mas na verdade só queria me intimidar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: "O que você quer com o passado?". Repetia. E, diante da sua insistência bovina, tive de me render à evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta.

Bernardo Carvalho, Nove noites. Adaptado.

A
abandona a ideia de investigar o passado, ao se ver encurralado por Leusipo.
B
explora a sua posição ameaçadora de homem branco, ao insistir em permanecer na aldeia.
C
age com ousadia, ao procurar subjugar Leusipo a contribuir com o seu projeto.
D
identifica-se com a sabedoria de Leusipo, ao preterir do papel interrogativo e se deixar questionar.
E
sente-se frustrado com a reação de Leusipo, que não se deixa levar por sua diplomacia.
df51337f-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Rubião fitava a enseada, - eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas em verdade vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora! Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.

- Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...

Machado de Assis, Quincas Borba.


O primeiro capítulo de Quincas Borba já apresenta ao leitor um elemento que será fundamental na construção do romance:

A
a contemplação das paisagens naturais, como se lê em "ele admirava aquele pedaço de água quieta".
B
a presença de um narrador-personagem, como se lê em "em verdade vos digo que pensava em outra coisa".
C
a sobriedade do protagonista ao avaliar o seu percurso, como se lê em "Cotejava o passado com o presente".
D
o sentido místico e fatalista que rege os destinos, como se lê em "Deus escreve direito por linhas tortas".
E
a reversibilidade entre o cômico e o trágico, como se lê em "de modo que o que parecia uma desgraça...".
df54a92b-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Remissão


Tua memória, pasto de poesia,

tua poesia, pasto dos vulgares,

vão se engastando numa coisa fria

a que tu chamas: vida, e seus pesares.


Mas, pesares de quê? perguntaria,

se esse travo de angústia nos cantares,

se o que dorme na base da elegia

vai correndo e secando pelos ares,


e nada resta, mesmo, do que escreves

e te forçou ao exílio das palavras,

senão contentamento de escrever,


enquanto o tempo, e suas formas breves

ou longas, que sutil interpretavas,

se evapora no fundo do teu ser?

Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.


Claro enigma apresenta, por meio do lirismo reflexivo, o posicionamento do escritor perante a sua condição no mundo. Considerando-o como representativo desse seu aspecto, o poema "Remissão"

A
traduz a melancolia e o recolhimento do eu lírico em face da sensação de incomunicabilidade com uma realidade indiferente à sua poesia.
B
revela uma perspectiva inconformada, mesclando-a, livre da indulgência dos anos anteriores, a um novo formalismo estético.
C
propõe, como reação do poeta à vulgaridade do mundo, uma poética capaz de interferir na realidade pelo viés nostálgico.
D
reflete a visão idealizada do trabalho do poeta e a consciência da perenidade da poesia, resistente à passagem do tempo.
E
realiza a transição do lirismo social para o lirismo metafísico, caracterizado pela adesão ao conforto espiritual e ao escapismo imaginativo.
df3db253-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A "estranha potência" que a voz lírica ressalta nas palavras decorre de uma combinação entre

Romance LIII ou Das Palavras Aéreas


Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa!

Ai, palavras, ai, palavras,

sois de vento, ides no vento,

no vento que não retorna,

e, em tão rápida existência,

tudo se forma e transforma!


Sois de vento, ides no vento,

e quedais, com sorte nova! (...)


Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa!

Perdão podieis ter sido!

- sois madeira que se corta,

- sois vinte degraus de escada,

- sois um pedaço de corda...

- sois povo pelas janelas,

cortejo, bandeiras, tropa...


Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa!

Éreis um sopro na aragem...

- sois um homem que se enforca!

Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência

A
fluidez nos ventos do presente e conteúdo fixo no passado.
B
forma abstrata no espaço e presença concreta na história.
C
leveza impalpável na arte e vigor nos documentos antigos.
D
sonoridade ruidosa nos ares e significado estável no papel.
E
lirismo irrefletido da poesia e peso justo dos acontecimentos.
df4146e5-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Alferes, Ouro Preto em sombras

Espera pelo batizado,

Ainda que tarde sobre a morte do sonhador

Ainda que tarde sobre as bocas do traidor.

Raios de sol brilharão nos sinos:

Dez vias dar.


Ai Marilia, as liras e o amor

Não posso mais sufocar

E a minha voz irá

Pra muito além do desterro e do sal,

Maior que a voz do rei.

Aldir Blanc e João Bosco, trecho da canção "Alferes", de 1973.


A imagem deTiradentes-a quem Cecília Meireles qualificou "o Alferes imortal, radiosa expressão dos mais altos sonhos desta cidade, do Brasil e do próprio mundo", em palestra feita em Ouro Preto - torna a aparecer como símbolo da luta pela liberdade em vários momentos da cultura nacional. Os versos do letrista Aldir Blanc evocam, em novo contexto, o mártir sonhador para resistir ao discurso

A
da doutrina revolucionária de ligas politicamente engajadas.
B
da historiografia, que minimizou a importância de Tiradentes.
C
de autoritarismo e opressão, próprio da ditadura militar.
D
dos poetas árcades, que se dedicavam às suas liras amorosas.
E
da tirania portuguesa sobre os mineradores no ciclo do ouro.
df4ae0e6-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

As respostas do narrador às perguntas de Leusipo são uma tentativa de disfarçar o caráter

Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia motivo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já era conhecido. E ele me perguntava: "Então, por que você quer saber, se já sabe?" Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção (e mostrava o que tinha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido, mas na verdade só queria me intimidar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: "O que você quer com o passado?". Repetia. E, diante da sua insistência bovina, tive de me render à evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta.

Bernardo Carvalho, Nove noites. Adaptado.

A
fabular do romance, inspirado nas lendas e tradições dos Krahô.
B
investigativo do romance, embasado em testemunhos dos Krahô.
C
político do romance, a respeito das condições de vida dos Krahô.
D
etnográfico do romance, através do registro da cultura dos Krahô.
E
biográfico do romance, relatando sua vivência junto aos Krahô.
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I


- Traíste-me, Sem Medo. Tu traíste-me.

( ...)

Sabes o que tu és afinal, Sem Medo? És um ciumento. Chego a pensar se não és homossexual. Tu querias-me só, como tu. Um solitário do Mayombe. (...) Desprezo-te. (...) Nunca me verás atrás de uma garrafa vazia. (...) Cada sucesso que eu tiver, será a paga da tua bofetada, pois não serei um falhado como tu.

Pepetela, Mayombe. Adaptado.


II

- Peço-te perdão, Sem Medo. Não te compreendí, fui um imbecil. E quis igualar o inigualável.

Pepetela, Mayombe.


Esses excertos de Mayombe referem-se a conversas entre as personagens Comissário e Sem Medo em momentos distintos do romance. Em I e II, as falas do Comissário revelam, respectivamente,

A
incompatibilidade étnica entre ele e Sem Medo, por pertencerem a linhagens diferentes, e superação de sua hostilidade tribal.
B
decepção, por Sem Medo não ter intercedido a seu favor na conversa com Ondina, e desespero diante do companheiro baleado.
C
suspeita de traição de Ondina e tomada de consciência de que isso não passara de uma crise de ciúme dele.
D
forte tensão homoafetiva entre ele e Sem Medo, e aceitação da verdadeira orientação sexual do companheiro.
E
ira, diante do anticatolicismo de Sem Medo, e culpa que o atinge ao perceber que sua demonstração de coragem colocara o companheiro em risco.