Largo em sentir, em respirar sucinto,
Peno, e calo, tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto.
O mal, que fora encubro, ou que desminto,
Dentro no coração é que o sustento:
Com que, para penar é sentimento,
Para não se entender, é labirinto.
Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;
Da tempestade é o estrondo efeito:
Lá tem ecos a terra, o mar suspiros.
Mas oh do meu segredo alto conceito!
Pois não me chegam a vir à boca os tiros
Dos combates que vão dentro no peito.
Gregório de Matos e Guerra
No soneto, o eu lírico:
Largo em sentir, em respirar sucinto,
Peno, e calo, tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto.
O mal, que fora encubro, ou que desminto,
Dentro no coração é que o sustento:
Com que, para penar é sentimento,
Para não se entender, é labirinto.
Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;
Da tempestade é o estrondo efeito:
Lá tem ecos a terra, o mar suspiros.
Mas oh do meu segredo alto conceito!
Pois não me chegam a vir à boca os tiros
Dos combates que vão dentro no peito.
Gregório de Matos e Guerra
No soneto, o eu lírico:
Gabarito comentado
Comentário da questão – Interpretação de Texto (Poesia: Eu lírico e Sentimentos)
Tema central: Esta questão exige a interpretação do texto poético, analisando as emoções do eu lírico, a relação entre o que é sentido e o que é revelado, e o uso de recursos estilísticos, como antítese e paradoxo.
Regra/Conceito essencial: O eu lírico é a voz que se expressa nos versos, podendo ou não coincidir com o autor. Ele utiliza recursos como a antítese (ideias opostas próximas) e o paradoxo (ideias aparentemente contraditórias) para construir seu discurso interno. (Fonte: Cunha & Cintra, Bechara).
Justificativa da alternativa correta (E):
A alternativa E está correta porque o soneto mostra claramente um eu lírico atormentado ("Peno, e calo... fazendo disfarce do tormento"), que oculta a dimensão e a natureza do sofrimento (“Mostro que o não padeço, e sei que o sinto”; “o mal, que fora encubro, ou que desminto, dentro no coração é que o sustento”). O poema trabalha justamente essa dualidade: sente intensamente, mas escolhe calar sobre a essência desse sentir, sugerindo dor interna sem revelar publicamente suas raízes ou causas.
Análise das alternativas incorretas:
A) Incorreta: Não há menção ao perfil satírico ou crítico (a imagem do “Boca do Inferno”). O foco é na dor e na introspecção, não na crítica social.
B) Incorreta: O eu lírico não “apazigua” o sofrimento; ao contrário, ele sustenta e convive com ele dentro de si. Não há terma tranquilizadora; existe apenas o esconderijo do sentir.
C) Incorreta: Não há indicação de censura externa; o silêncio é autoimposto, não uma proibição social ou política.
D) Incorreta: Apesar da presença das metáforas da natureza e da guerra, não há um contraponto semântico estruturado entre elas nos tercetos. A tônica é o conflito interno.
Estratégias de Interpretação: Repare sempre em palavras-chave que explicitam sentimentos (peno, calo, sustento, segredos) e em marcas textuais que indicam escolhas do eu lírico (por exemplo, “faço disfarce”, “mostro que não padeço”). Fique atento a oposições e ao que está implícito nas entrelinhas.
Dica: Em textos líricos, buscar o sentido subjacente e observar figuras de linguagem são essenciais para captar a subjetividade expressa.
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