Nun´Álvares Pereira

Que auréola te cerca?

É a espada que, volteando,

Faz que o ar alto perca

Seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,

Faz esse halo no céu?

É Excalibur, a ungida,

Que o Rei Artur te deu.

´Sperança consumada, S

. Portugal em ser,

Ergue a luz da tua espada

Para a estrada se ver!

Fernando Pessoa. In: “A Coroa”, Parte I, Mensagem. 

A primeira parte de Mensagem, organizada como um correlativo poético do Brasão das Armas de Portugal, perfila uma série de figuras míticas e históricas que teriam sido responsáveis pela formação nacional portuguesa. A seleção de Nun´Álvares Pereira para ocupar o lugar da Coroa 

Tema central da questão: Interpretação de texto literário, com destaque para figuras de linguagem (metáfora, simbolismo, intertextualidade) e análise semântica a partir do poema de Fernando Pessoa. Exige do candidato a compreensão dos sentidos implícitos e recursos estilísticos que constituem a construção simbólica da imagem de Nun'Álvares Pereira.

Justificativa da alternativa correta (A): A alternativa A é correta porque a imagem do “halo de luz” refere-se a uma auréola — símbolo tradicional de nobreza espiritual e santidade. O texto traz a espada produzindo um halo que coroa Nun’Álvares, sugerindo que sua grandeza está para além das conquistas bélicas: está na dimensão moral e espiritual. Como orientam Cunha & Cintra, este símbolo recorre à tradição religiosa-cristã, em que o halo representa virtudes e elevação moral. Assim, a verdadeira nobreza apresentada no poema é a do espírito — uma elevação interior, reforçada pelo tom épico atribuído à figura histórica.

Análise das alternativas incorretas:

B) Incorreta. A menção à Excalibur liga Nun’Álvares ao imaginário mítico, mas não ao sangue bretão (ou seja, britânico). É uma associação simbólica de nobreza, não de ascendência.

C) Incorreta. "'Sperança" está referida a Portugal e seu destino coletivo, não à condição de regente — além disso, Nun’Álvares não foi regente, mas condestável.

D) Incorreta. Apesar de “espada” aparecer reiteradamente, o foco não é a guerra como meio futuro, mas a espada como instrumento de luz, símbolo (“ergue a luz da tua espada / Para a estrada se ver!”).

E) Incorreta. “Consumada” sugere esperança realizada, visão otimista do destino português, não desenganada (pessimista).

Dicas de estratégia: Em questões literárias, atenção às figuras de linguagem (como metáforas e símbolos) e à conotação das palavras. Evite interpretar literal ou historicamente figuras míticas, pois o sentido simbólico geralmente é o que resolve a questão. O Manual de Redação da Presidência ressalta a necessidade de clareza e precisão semântica — interpretação deve considerar o contexto do texto.

Resumo: O poema de Fernando Pessoa valoriza a dimensão espiritual da figura histórica, não a glória das armas ou cargos, mostrando que a verdadeira nobreza está no espírito elevado.

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