Questõesde UPE sobre Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

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UPE 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O Texto 1 é o relato, infelizmente comum na nossa realidade, de uma experiência de racismo. Com base nos elementos de sua organização narrativa e nas conclusões (inferências) autorizadas pelo texto, assinale a alternativa CORRETA.

Texto 1 


13 DE MAIO


Foi quando eu era seminarista no interior de São Paulo. Era 13 de maio de 1966 e os meus colegas de seminário, quase todos descendentes de italianos ou alemães, resolveram homenagear o dia da abolição dos escravos com um almoço. Nós, os poucos negros ou pardos da turma, fomos "convidados" a sentar na mesa central do refeitório, decorada com as palavras 'Navio Negreiro'. Quando vi aquilo me recusei e me sentei numa mesa lateral, com todos os outros colegas. Pois os organizadores daquilo me pegaram à força, me arrastaram e me fizeram sentar na marra junto aos outros negros, no que considerei uma ofensa gravíssima. Arrumei as malas para ir embora, mas fui convencido a ficar pelo padre do local. Ele me recomendou que deixasse o ódio passar e que tomasse aquele episódio como bandeira de luta para um mundo melhor. E, de fato, aquele episódio alterou radicalmente a direção da minha vida. Foi a partir de então que tirei a foto do meu pai, que era negro, do fundo da minha mala, e coloquei-a ao lado da fotografia da minha mãe, branca, com os meus objetos pessoais.


Frei David Raimundo dos Santos, 63 anos, frade, fundador da ONG Educafro. Disponível em: www.educafro.org.br Acesso em: 15 set. 2020. Adaptado.

A
O trecho inicial, entre: "Foi quando eu era seminarista [...]" e "[...] homenagear o dia da abolição dos escravos com um almoço." apresenta o conflito que dá origem ao relato.
B
O narrador não participa da ação narrativa, mas conhece todos os fatos, ou seja, trata-se de um narrador onisciente.
C
O ponto mais tenso da narrativa, isto é, o clímax, situa-se entre "Arrumei as malas [...]" e "[...] para um mundo melhor.".
D
Há uma passagem de discurso direto no segmento destacado em: "[...] mas fui convencido a ficar pelo padre do local. Ele me recomendou que deixasse o ódio passar [...]".
E
O ato de o narrador expor a foto de seu pai negro ao lado da foto de sua mãe, que era branca, simboliza o início de sua luta contra o racismo, e por um mundo mais justo.
11c98d19-6a
UPE 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Em diálogo com as questões sociais, a literatura configura-se como um meio importante na representação de temas, como a escravidão e o racismo, por exemplo. Na leitura da coletânea (Textos de 2 a 6), atente para: o contexto histórico-social e literário em que cada texto foi produzido; as relações temáticas entre os textos; e as características estilísticas da poesia de Castro Alves e da prosa de Machado de Assis. Acerca dos textos que formam a coletânea, assinale a afirmativa CORRETA.

              Texto 2


IV


Era um sonho dantesco... o tombadilho

Que das luzernas avermelha o brilho,

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros... estalar de açoite...

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar... 


Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães:

Outras, moças, mas nuas e espantadas,

No turbilhão de espectros arrastadas,

Em ânsia e mágoa vãs!


E ri-se a orquestra irônica, estridente...

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais...

Se o velho arqueja, se no chão resvala,

Ouvem-se gritos... o chicote estala.

E voam mais e mais...


Presa nos elos de uma só cadeia,

A multidão faminta cambaleia,

E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece,

Outro, que de martírios embrutece,

Cantando, geme e ri!


No entanto o capitão manda a manobra,

E após, fitando o céu que se desdobra,

Tão puro sobre o mar,

Diz do fumo entre os densos nevoeiros:

"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!

Fazei-os mais dançar!..."

 [...]


ALVES, Castro. O Navio Negreiro. Excertos. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000068.pdf Acesso em: 12 set. 2020.


Texto 3



Texto 4

PAI CONTRA MÃE
Machado de Assis

   A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha-de-flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dous para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. [...] Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras. O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. [...]

ASSIS, Machado de. Pai contra mãe. Excertos. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/11-textos-dos-autores/451-machado-de-assis-textos-selecionados Acesso em: 12/09/2020.

Texto 5 



Texto 6

   A onda de protestos após a morte de George Floyd por um policial de Mineápolis, nos Estados Unidos, fez a hashtag #BlackLivesMatter (Vidas Negras Importam, em tradução livre) ganhar manifestações nas ruas e nas redes sociais. Famosos e anônimos têm usado o termo nos últimos dias, no online e no offline, como forma de apoio ao movimento antirracista e para cobrar das autoridades que resguardem vidas negras.

   O Black Lives Matter, às vezes citado nos cartazes como BLM, é uma organização que nasceu em 2013 por três ativistas norte-americanas: Alicia Garza, da aliança nacional de trabalhadoras domésticas; Patrisse Cullors, da coalizão contra a violência policial em Los Angeles; e Opal Tometi, da aliança negra pela imigração justa. Hoje, é uma fundação global cuja missão é "erradicar a supremacia branca e construir poder local para intervir na violência infligida às comunidades negras" pelo Estado e pela polícia.

Disponível em: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/06/03/black-livesmatter-conheca-o-movimento-fundado-por-tresmulheres.htm?cmpid=copiaecola Acesso em: 12/09/2020.

A
Entre os cinco textos da coletânea, há relações intertextuais implícitas do tipo paródia, já que todos os textos abordam o racismo estrutural no Brasil, desde o processo de escravidão do negro até os movimentos antirracistas, como o "Black Lives Matter" ("Vidas Negras Importam").
B
O preconceito racial é um tema recorrente na literatura brasileira e está presente nos Textos 2 e 4, os quais abordam o racismo e a escravidão na poesia simbolista de Castro Alves e na prosa naturalista de Machado de Assis.
C
Castro Alves ficou conhecido como o "poeta dos escravos" e sua produção poética é um exemplo da primeira geração da poesia do Romantismo no Brasil, com a representação dos negros na construção da identidade nacional do povo brasileiro.
D
"O Navio Negreiro" (Texto 2), exemplo da poesia condoreira de Castro Alves, mostra o sofrimento dos africanos, vítimas do tráfico de escravos nas viagens de navio da África para o Brasil, revelando a difícil situação dos negros, aprisionados no navio, famintos e açoitados pelos marinheiros.
E
Os Textos 2, 3 e 4 têm em comum a temática da escravidão no Brasil: o Texto 2 mostra a dança sensual e naturalista dos escravos no navio negreiro; a tela de Debret (Texto 3) retrata a crueldade dos castigos físicos no processo de escravidão; o Texto 4 revela a ironia romântica de Machado de Assis na representação dos instrumentos de tortura utilizados durante a escravidão.
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UPE 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Sobre essa relação, assinale a alternativa CORRETA.

Leia os poemas a seguir e os relacione.


Poema 6

Casamento

Adélia Prado Há mulheres que dizem:

Meu marido, se quiser pescar, pesque,

mas que limpe os peixes.

Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,

ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.

É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,

de vez em quando os cotovelos se esbarram,

ele fala coisas como "este foi difícil"

"prateou no ar dando rabanadas"

e faz o gesto com a mão.


O silêncio de quando nos vimos a primeira vez

atravessa a cozinha como um rio profundo.

Por fim, os peixes na travessa,

vamos dormir.

Coisas prateadas espocam:

somos noivo e noiva.


Poema 7

Bilhete

Mário Quintana

Se tu me amas, ama-me baixinho

Não o grites de cima dos telhados

Deixa em paz os passarinhos

Deixa em paz a mim!

Se me queres,

enfim,

tem de ser bem devagarinho, Amada,

que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

A
Mário Quintana e Adélia Prado são dois grandes poetas, cuja simplicidade de linguagem tem a função de falsear o tom de celebridade do eu lírico intimista e descrente do sentimento amoroso.
B
Os dois poemas têm vários aspectos em comum, exceto a linguagem que é bastante rebuscada em Casamento, de Adélia Prado, e simplória no poema Bilhete, de Mário Quintana, entretanto ambos os poetas usam, com maestria, temas cotidianos.
C
Tanto Bilhete quanto Casamento são textos elaborados em métrica rígida e com rimas, em sua totalidade, raras e toantes, com estrofes de número de versos variados e encadeados.
D
Os dois poemas apresentam eu lírico simples e retratam elementos do cotidiano, mas neles há duas diferentes concepções do sentimento amoroso, pois, para o eu lírico de Bilhete, o amor é mais fugaz que a vida. Por outro lado, em Casamento, o eu lírico feminino realimenta o sentimento amoroso.
E
Os poemas revelam posturas exatamente iguais, porque o eu lírico de Bilhete é feminino e o de Casamento, masculino; em consequência, a voz feminina é mais suave, e a masculina, mais brusca, forte e resoluta.
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UPE 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Analise as afirmativas a seguir e coloque V nas verdadeiras e F nas falsas.


( ) No poema 4, a linguagem visual e a verbal criam um todo inseparável, uma vez que as próprias palavras formam o símbolo de infinito, sendo possível realizar a leitura em, pelo menos, duas direções.

( ) Há duas possibilidades de leitura no poema 4, o que caracteriza a plurissignificação da poesia concreta.

( ) Trata-se de dois poemas concretos em que, no primeiro, predomina a linguagem verbal e, no segundo, a linguagem visual.

( ) No poema 5, o título repete o primeiro verso, razão pela qual se deduz tratar-se de prática exclusivamente do Concretismo.

( ) Há certa ironia no tema do poema 5, quando o eu lírico admite, no último dístico, que, só aos setenta, vai chegar à consciência plena.


Assinale a alternativa que indica a sequência CORRETA.

Paulo Leminski, Décio Pignatari e os irmãos Campos, Haroldo e Augusto, conseguiram desenvolver poemas visuais, que associam o lirismo a um tom plurissignificativo e, às vezes, crítico leve. Observe os poemas a seguir:



A
V – F – F – F – F
B
V – V – V – V – F
C
F – F – F – V – V
D
V – F – V – F – F
E
V – V – F – F – V
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UPE 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Sobre eles, assinale a alternativa CORRETA.

A infância é um dos temas presentes na poesia lírica da maioria dos poetas. Bandeira, Drummond e João Cabral não são exceções. Cada um deles tratou do tema, obedecendo às suas concepções de lirismo. Leia os três poemas a seguir:


Disponível: http://www.sabrio.org.br/wp-content/uploads/2011/09/antiga_brincadeira_crianca_19.jpg


Poema 1

Profundamente

Manuel Bandeira


Quando ontem adormeci

Na noite de São João

Havia alegria e rumor

Estrondos de bombas luzes de Bengala

Vozes, cantigas e risos

Ao pé das fogueiras acesas.


No meio da noite despertei

Não ouvi mais vozes nem risos

Apenas balões

Passavam errantes

Silenciosamente

Apenas de vez em quando

O ruído de um bonde

Cortava o silêncio

Como um túnel.

Onde estavam os que há pouco

Dançavam

Cantavam

E riam

Ao pé das fogueiras acesas?

— Estavam todos dormindo

Estavam todos deitados

Dormindo

Profundamente 



                 *

Quando eu tinha seis anos

Não pude ver o fim da festa de São João

Porque adormeci


Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo

Minha avó Meu avô

Totônio Rodrigues

Tomásia

Rosa

Onde estão todos eles?


— Estão todos dormindo

Estão todos deitados

Dormindo

Profundamente. 



Poema 2

Infância

Carlos Drummond de Andrade


Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.

Minha mãe ficava sentada cosendo.

Meu irmão pequeno dormia.

Eu sozinho menino entre mangueiras

lia a história de Robinson Crusoé,

comprida história que não acaba mais.


No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu

a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu

chamava para o café.

Café preto que nem a preta velha

café gostoso

café bom.


Minha mãe ficava sentada cosendo

olhando para mim:

- Psiu... Não acorde o menino.

Para o berço onde pousou um mosquito.

E dava um suspiro... que fundo!


Lá longe meu pai campeava

no mato sem fim da fazenda.


E eu não sabia que minha história

era mais bonita que a de Robinson Crusoé.


Poema 3



Infância

João Cabral de Melo Neto

Sobre o lado ímpar da memória

o anjo da guarda esqueceu

perguntas que não se respondem.

Seriam hélices

aviões locomotivas

timidamente precocidade

balões-cativos si-bemol?

Mas meus dez anos indiferentes

rodaram mais uma vez

nos mesmos intermináveis carrosséis. 

A
Os três poemas têm o eu lírico idêntico, pois apresentam um lirismo exacerbado, próprio do estilo romântico, peculiar aos textos que, independentemente dos poetas, resgatam o tema da infância.
B
Os poemas de Bandeira e de João Cabral revelam que seus criadores são pernambucanos. Nos dois textos, em versos rigidamente metrificados, a palavra ‗balão‘ é usada com sentido diferente.
C
Os três poemas, embora pertençam a poetas de movimentos literários completamente diferentes e temporalmente distantes, tratam do mesmo tema, mas nenhum deles revela a saudade da infância.
D
Nos três poemas, o eu lírico apresenta intimismo, pois eles são elaborados em primeira pessoa. Contudo, o lirismo vai, de modo gradativo, sendo depurado em ordem decrescente: forte em Bandeira, atenuado em Drummond e minimizado em Cabral.
E
Os poemas revelam sentimentalismo próprio do intimismo simbolista, razão pela qual são líricos intimistas, além de serem cromáticos e apresentarem musicalidade excessiva.
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UPE 2017 - Português - Interpretação de Textos, Coesão e coerência, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

As imagens I e II representam personagens que deixam suas casas e vão para as grandes cidades em busca de melhor qualidade de vida, enquanto as III, IV e V são seres ficcionais, que podem ser associados a diversos textos do Modernismo Brasileiro.



Relacione as imagens aos trechos a seguir, identificando-lhes as narrativas das quais são personagens.


1. "A casa ficava para trás da Serra do Mim, quase no meio de um brejo de água limpa, lugar chamado Temor de Deus."


2. "Os meninos eram uns brutos como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo."


3. "Como a nordestina, há milhares de moças espalhadas por cortiços, vagas num quarto atrás de balcões trabalhando até a estafa."


4. "Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente".


5. "Essa cova em que estás

      com palmos medida

      é a conta menor

      que tiraste em vida."


Sobre essa relação, analise as afirmativas seguintes e coloque V nas verdadeiras e F nas falsas.


( ) O trecho 1 relaciona-se a Macabeia, personagem de A hora da estrela, cuja foto foi retirada do filme de mesmo título. A narrativa resgata a saudade que a personagem sente do sítio onde nascera.


( ) A imagem II está relacionada à segunda citação, pois os meninos são filhos de Fabiano, personagem da narrativa Vidas secas, criada por José Lins do Rego, autor da geração regionalista de 30.


( ) O trecho 4 tem por personagem o pai que decidiu morar na balsa, conforme imagem III. Trata-se de A terceira margem do rio, conto que integra a coletânea Primeiras histórias, de Guimarães Rosa.


( ) A imagem IV representa a personagem Nhinhinha, pertencente ao conto A menina de lá, cuja primeira citação refere-se ao lugar onde a personagem nasceu. Encontra-se em Primeiras Histórias e se caracteriza por ser uma narrativa fantástica.


( ) A imagem V resgata o texto de Ariano Suassuna, A farsa da boa preguiça, que se refere a acontecimentos reais, cujas personagens são: Chicó, João Grilo e Major Antônio Moraes. Trata-se de um texto cômico, representado por um herói picaresco.


Sobre isso, assinale a alternativa CORRETA.

A
F – F – V – V – F
B
F – V – F – V – F
C
F – F – F – V – V
D
F – F – F – F – V
E
V – V – V – V – F
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UPE 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Considerando a sua forma de organização e o conteúdo que veicula, o Texto 2 cumpre, privilegiadamente, a função de:

A
provocar encantamento por meio de imagens que surpreendem o leitor.
B
promover a divulgação de um produto, com a intenção de comercializá-lo.
C
convencer o leitor de que um determinado ponto de vista deve ser seguido.
D
munir o leitor de informações atualizadas sobre fatos da realidade circundante.
E
fornecer instruções para que o leitor possa realizar com sucesso uma atividade.
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UPE 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Acerca do papel dos elementos verbais e não verbais na leitura e interpretação do Texto 2, analise as afirmativas a seguir.


I. A citação do famoso verso de Carlos Drummond de Andrade serve para sustentar o ponto de vista de que o analfabetismo constitui, de fato, um empecilho na vida das pessoas.


II. Após a citação totalmente legível do verso de Drummond, a reunião aleatória de letras (BCEPE) bem como o uso de letras desconhecidas tornam o citado verso parcialmente – e depois, totalmente – ilegível, um recurso que alude aos diferentes graus de (an)alfabetismo.


III. A figura humana segura uma folha na mão direita, abaixo da linha de visão, indicando que não lê o texto; na mão esquerda, a folha está erguida na altura da linha de visão e o olhar se volta para ela, numa evidente atitude de busca. A montagem da cena procura contrastar visualmente os termos "analfabeto absoluto", à direita da figura humana, e "analfabeto funcional", à sua esquerda.


IV. Recursos multimodais como mapas, contrastes de cor, destaques por meio do tipo e tamanho da fonte, etc. poderiam ser dispensados em favor de um texto verbal em que predominassem os recursos da coesão referencial, mais adequados aos textos de teor informativo.


Estão CORRETAS

A
I e II, apenas.
B
I, II e III, apenas.
C
I, III e IV, apenas.
D
II, III e IV, apenas.
E
I, II, III e IV.
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UPE 2017 - Português - Interpretação de Textos, Uso dos conectivos, Coesão e coerência, Sintaxe, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O autor do Texto 1 utiliza diversos conectivos e expressões adverbiais para expressar seu ponto de vista. Acerca desses elementos, assinale a alternativa CORRETA.

TEXTO 1

Como o Facebook nos transformou em leitores desatentos 


(1)     Sinto que venho me tornando um leitor menos atento. Meus olhos passam pelas palavras como se fossem ondas que se quebram e somem. Para ganhar concentração, muitas vezes tenho de me isolar, abrir um livro físico (com o digital fica mais difícil ter foco), respirar fundo e, então, curtir a história. Situação preocupante, principalmente para um leitor voraz como eu. Só que se torna ainda mais alarmante quando noto que amigos, colegas de escrita, repetem essa reclamação em tom uniforme. O que ocorre? Será que há algum mal universal que nos faz ler cada vez pior? (

2)     Não chamaria de "mal", mas de "cenário". Trata-se do mundo das redes sociais. Se antes nos acostumamos a livros e revistas, a mergulhar em cada informação (e era tão pouca!) que surgia à nossa frente, agora surfamos pelos dados (e são tantos!), preocupando-nos mais com a próxima onda do que com a que passou. Vamos de um lado para outro, freneticamente, lendo status no Twitter, no Facebook; vendo fotos no Instagram (imagens, afinal, são uma espécie de "leitura"), matérias em revistas, jornais e sites; acessando blogs; assistindo a séries no Netflix. Corremos os olhos do computador para o notebook, para o Kindle, para o smartphone, para o tablet, para um livro impresso… Para a próxima invenção que colar, seja um relógio com mais informações vindas de seu pulso, seja um par de óculos mostrando tudo bem à frente. Não somos mais mergulhadores. Viramos surfistas – e tenha isso como elogio e crítica ao mesmo tempo.

(3)     Sim, há vantagens: agora também somos ligeiros. Viramos craques em consumir informações com rapidez. Sabemos o que a vovó está postando no Facebook, ao mesmo tempo em que assistimos a Breaking Bad no computador e conferimos mensagens no WhatsApp. Nossas mentes estão ágeis.

(4)     Pelo bem, pelo mal, há uma mutação em curso. Somos leitores diferentes. Algo tem ocorrido em nosso cérebro que mudou nossos processos cognitivos. Enquanto os mais velhos podem até ter dificuldades para lidar com o universo do touch, da comunicação instantânea, uma criança de poucos anos sabe navegar com talento pelo iPad. Porém, na hora de se concentrar em uma só história, em analisar um só caso, podem prevalecer a falta de atenção, as falhas de memorização, a atitude de surfar sem mergulhar em águas profundas.

(5)     Uma série de trabalhos científicos tem sido publicada sobre essa transformação do hábito de ler. Um dos estudiosos do tema é o escritor americano Nicholas Carr. Em um agora já clássico artigo para a revista The Atlantic, ele diz: "Nos últimos anos, tenho a sensação desconfortável de que alguém ou algo tem pregado peças com meu cérebro (…). Sinto isso ainda mais forte quando leio. Imergir em um livro ou em um longo artigo era fácil (…). Agora, minha concentração se perde frequentemente depois de duas ou três páginas (…). Acho que sei o que está ocorrendo. Por mais de uma década, tenho gastado tempo demais on-line."

(6) Trata-se de uma preocupação que tem se espalhado. A neurocientista Maryanne Wolf, do Centro de Pesquisas de Leitura e Linguagem da Universidade Tufts, de Boston, vai ainda mais fundo na análise. Para ela, a era da internet tem moldado o cérebro, capaz de se adaptar, de repaginar a rede de sinapses dos neurônios, de acordo com o tipo de leitura que faz. Em um de seus livros, avisa: "Livros sempre foram uma forma de se aventurar, trabalhar a imaginação e crescer intelectualmente. Porém, na era da internet, passou-se a ler rapidamente, sem análise nem crítica." Segundo a autora, isso faz com que os jovens de hoje desenvolvam menos conexões neurais. Ou seja, tenham cérebros menos eficazes.

(7) Não faltam estudos sobre o tema, na maioria muito ácidos e críticos, como os realizados por Maryanne Wolf. Mas vale uma pausa. Grande parte dos cientistas ainda acha cedo para chegar a conclusões irrefutáveis. Estou com essa turma.

(8) Há milênios, ocorreu a mesma reação a uma inovação tão disruptora quanto é a internet para esta época: a escrita. Sócrates, nos idos da Grécia Antiga, irritou-se com a chegada de tal tecnologia. Para ele, a leitura faria da mente, que não mais precisaria memorizar tudo, um ente preguiçoso. 

(9) Reações contrárias, por vezes contendo premonições apocalípticas, surgem sempre junto à chegada de novidades tecnológicas — em relação à escrita, à prensa de Gutenberg, à física de partículas, à internet ou aos aplicativos de tablets e smartphones. Mas o que nossa história, a da humanidade, tem provado é que os avanços têm vindo para o bem. Sim, muda o quê e quem somos. Há, porém, um balanço, usualmente positivo. No caso da leitura na era digital, aposto todas as minhas fichas no equilíbrio. Eventualmente, aprenderemos a lidar com essa nova forma de consumir informações. Talvez saibamos juntar com proficiência o mergulho e o surfe. Neste momento, contudo, não vislumbramos a chegada de tal equilíbrio. Por isso, estamos confusos como um animal em adaptação a um novo habitat. A garantia de sobrevivência: leia, sempre, o que for, o que lhe der prazer. E não deixe seu cérebro estacionar.

Filipe Vilicic. Disponível em: http://www.intrinseca.com.br/blog/2015/08/como-o-facebook-nos-transformou-em-leitores-desatentos. Acesso em: 03/06/2017. Adaptado. 

A
No trecho: "Só que se torna ainda mais alarmante quando noto que amigos, colegas de escrita, repetem essa reclamação em tom uniforme." (1º parágrafo), a expressão destacada cumpre a função de caracterizar o termo "reclamação".
B
No trecho: "Se antes nos acostumamos a livros e revistas, a mergulhar em cada informação (e era tão pouca!) que surgia à nossa frente, agora surfamos pelos dados (e são tantos!)" (2º parágrafo), os termos destacados situam os acontecimentos na linha do tempo, no passado e no presente, respectivamente.
C
No trecho: "Enquanto os mais velhos podem até ter dificuldades para lidar com o universo do touch, da comunicação instantânea, uma criança de poucos anos sabe navegar com talento pelo iPad." (4º parágrafo), o termo destacado cumpre a função de sinalizar mudança na linha argumentativa do texto.
D
No trecho: "Neste momento, contudo, não vislumbramos a chegada de tal equilíbrio." (9º parágrafo), o termo destacado foi empregado com a função de indicar, para o leitor, que o texto se encaminha para sua conclusão.
E
No trecho: "A garantia de sobrevivência: leia, sempre, o que for, o que lhe der prazer." (9º parágrafo), o termo destacado, que tem a função de aposto explicativo, foi empregado para indicar o modo como deve realizar-se a ação expressa na forma verbal 'leia'.
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UPE 2017 - Português - Interpretação de Textos, Análise sintática, Sintaxe, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No trecho: "Para a próxima invenção que colar, seja um relógio com mais informações vindas de seu pulso, seja um par de óculos mostrando tudo bem à frente." (2º parágrafo), evidencia-se uma relação semântica de alternância. Assinale a alternativa em que o trecho destacado apresenta o mesmo tipo de relação.

TEXTO 1

Como o Facebook nos transformou em leitores desatentos 


(1)     Sinto que venho me tornando um leitor menos atento. Meus olhos passam pelas palavras como se fossem ondas que se quebram e somem. Para ganhar concentração, muitas vezes tenho de me isolar, abrir um livro físico (com o digital fica mais difícil ter foco), respirar fundo e, então, curtir a história. Situação preocupante, principalmente para um leitor voraz como eu. Só que se torna ainda mais alarmante quando noto que amigos, colegas de escrita, repetem essa reclamação em tom uniforme. O que ocorre? Será que há algum mal universal que nos faz ler cada vez pior? (

2)     Não chamaria de "mal", mas de "cenário". Trata-se do mundo das redes sociais. Se antes nos acostumamos a livros e revistas, a mergulhar em cada informação (e era tão pouca!) que surgia à nossa frente, agora surfamos pelos dados (e são tantos!), preocupando-nos mais com a próxima onda do que com a que passou. Vamos de um lado para outro, freneticamente, lendo status no Twitter, no Facebook; vendo fotos no Instagram (imagens, afinal, são uma espécie de "leitura"), matérias em revistas, jornais e sites; acessando blogs; assistindo a séries no Netflix. Corremos os olhos do computador para o notebook, para o Kindle, para o smartphone, para o tablet, para um livro impresso… Para a próxima invenção que colar, seja um relógio com mais informações vindas de seu pulso, seja um par de óculos mostrando tudo bem à frente. Não somos mais mergulhadores. Viramos surfistas – e tenha isso como elogio e crítica ao mesmo tempo.

(3)     Sim, há vantagens: agora também somos ligeiros. Viramos craques em consumir informações com rapidez. Sabemos o que a vovó está postando no Facebook, ao mesmo tempo em que assistimos a Breaking Bad no computador e conferimos mensagens no WhatsApp. Nossas mentes estão ágeis.

(4)     Pelo bem, pelo mal, há uma mutação em curso. Somos leitores diferentes. Algo tem ocorrido em nosso cérebro que mudou nossos processos cognitivos. Enquanto os mais velhos podem até ter dificuldades para lidar com o universo do touch, da comunicação instantânea, uma criança de poucos anos sabe navegar com talento pelo iPad. Porém, na hora de se concentrar em uma só história, em analisar um só caso, podem prevalecer a falta de atenção, as falhas de memorização, a atitude de surfar sem mergulhar em águas profundas.

(5)     Uma série de trabalhos científicos tem sido publicada sobre essa transformação do hábito de ler. Um dos estudiosos do tema é o escritor americano Nicholas Carr. Em um agora já clássico artigo para a revista The Atlantic, ele diz: "Nos últimos anos, tenho a sensação desconfortável de que alguém ou algo tem pregado peças com meu cérebro (…). Sinto isso ainda mais forte quando leio. Imergir em um livro ou em um longo artigo era fácil (…). Agora, minha concentração se perde frequentemente depois de duas ou três páginas (…). Acho que sei o que está ocorrendo. Por mais de uma década, tenho gastado tempo demais on-line."

(6) Trata-se de uma preocupação que tem se espalhado. A neurocientista Maryanne Wolf, do Centro de Pesquisas de Leitura e Linguagem da Universidade Tufts, de Boston, vai ainda mais fundo na análise. Para ela, a era da internet tem moldado o cérebro, capaz de se adaptar, de repaginar a rede de sinapses dos neurônios, de acordo com o tipo de leitura que faz. Em um de seus livros, avisa: "Livros sempre foram uma forma de se aventurar, trabalhar a imaginação e crescer intelectualmente. Porém, na era da internet, passou-se a ler rapidamente, sem análise nem crítica." Segundo a autora, isso faz com que os jovens de hoje desenvolvam menos conexões neurais. Ou seja, tenham cérebros menos eficazes.

(7) Não faltam estudos sobre o tema, na maioria muito ácidos e críticos, como os realizados por Maryanne Wolf. Mas vale uma pausa. Grande parte dos cientistas ainda acha cedo para chegar a conclusões irrefutáveis. Estou com essa turma.

(8) Há milênios, ocorreu a mesma reação a uma inovação tão disruptora quanto é a internet para esta época: a escrita. Sócrates, nos idos da Grécia Antiga, irritou-se com a chegada de tal tecnologia. Para ele, a leitura faria da mente, que não mais precisaria memorizar tudo, um ente preguiçoso. 

(9) Reações contrárias, por vezes contendo premonições apocalípticas, surgem sempre junto à chegada de novidades tecnológicas — em relação à escrita, à prensa de Gutenberg, à física de partículas, à internet ou aos aplicativos de tablets e smartphones. Mas o que nossa história, a da humanidade, tem provado é que os avanços têm vindo para o bem. Sim, muda o quê e quem somos. Há, porém, um balanço, usualmente positivo. No caso da leitura na era digital, aposto todas as minhas fichas no equilíbrio. Eventualmente, aprenderemos a lidar com essa nova forma de consumir informações. Talvez saibamos juntar com proficiência o mergulho e o surfe. Neste momento, contudo, não vislumbramos a chegada de tal equilíbrio. Por isso, estamos confusos como um animal em adaptação a um novo habitat. A garantia de sobrevivência: leia, sempre, o que for, o que lhe der prazer. E não deixe seu cérebro estacionar.

Filipe Vilicic. Disponível em: http://www.intrinseca.com.br/blog/2015/08/como-o-facebook-nos-transformou-em-leitores-desatentos. Acesso em: 03/06/2017. Adaptado. 

A
"Sinto isso ainda mais forte quando leio. Imergir em um livro ou em um longo artigo era fácil.". (5º parágrafo)
B
"Porém, na era da internet, passou-se a ler rapidamente, sem análise nem crítica.". (6º parágrafo)
C
"Não faltam estudos sobre o tema, na maioria muito ácidos e críticos, como os realizados por Maryanne Wolf.". (7º parágrafo)
D
"Há milênios, ocorreu a mesma reação a uma inovação tão disruptora quanto é a internet para esta época: a escrita.". (8º parágrafo)
E
"Para ele, a leitura faria da mente, que não mais precisaria memorizar tudo, um ente preguiçoso.". (8º parágrafo)
f889743f-f9
UPE 2017 - Português - Interpretação de Textos, Coesão e coerência, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Considerando os aspectos de construção linguística no Texto 1, particularmente no que se refere à progressão temática e à sequencialização dos parágrafos, assinale a afirmativa CORRETA.

TEXTO 1

Como o Facebook nos transformou em leitores desatentos 


(1)     Sinto que venho me tornando um leitor menos atento. Meus olhos passam pelas palavras como se fossem ondas que se quebram e somem. Para ganhar concentração, muitas vezes tenho de me isolar, abrir um livro físico (com o digital fica mais difícil ter foco), respirar fundo e, então, curtir a história. Situação preocupante, principalmente para um leitor voraz como eu. Só que se torna ainda mais alarmante quando noto que amigos, colegas de escrita, repetem essa reclamação em tom uniforme. O que ocorre? Será que há algum mal universal que nos faz ler cada vez pior? (

2)     Não chamaria de "mal", mas de "cenário". Trata-se do mundo das redes sociais. Se antes nos acostumamos a livros e revistas, a mergulhar em cada informação (e era tão pouca!) que surgia à nossa frente, agora surfamos pelos dados (e são tantos!), preocupando-nos mais com a próxima onda do que com a que passou. Vamos de um lado para outro, freneticamente, lendo status no Twitter, no Facebook; vendo fotos no Instagram (imagens, afinal, são uma espécie de "leitura"), matérias em revistas, jornais e sites; acessando blogs; assistindo a séries no Netflix. Corremos os olhos do computador para o notebook, para o Kindle, para o smartphone, para o tablet, para um livro impresso… Para a próxima invenção que colar, seja um relógio com mais informações vindas de seu pulso, seja um par de óculos mostrando tudo bem à frente. Não somos mais mergulhadores. Viramos surfistas – e tenha isso como elogio e crítica ao mesmo tempo.

(3)     Sim, há vantagens: agora também somos ligeiros. Viramos craques em consumir informações com rapidez. Sabemos o que a vovó está postando no Facebook, ao mesmo tempo em que assistimos a Breaking Bad no computador e conferimos mensagens no WhatsApp. Nossas mentes estão ágeis.

(4)     Pelo bem, pelo mal, há uma mutação em curso. Somos leitores diferentes. Algo tem ocorrido em nosso cérebro que mudou nossos processos cognitivos. Enquanto os mais velhos podem até ter dificuldades para lidar com o universo do touch, da comunicação instantânea, uma criança de poucos anos sabe navegar com talento pelo iPad. Porém, na hora de se concentrar em uma só história, em analisar um só caso, podem prevalecer a falta de atenção, as falhas de memorização, a atitude de surfar sem mergulhar em águas profundas.

(5)     Uma série de trabalhos científicos tem sido publicada sobre essa transformação do hábito de ler. Um dos estudiosos do tema é o escritor americano Nicholas Carr. Em um agora já clássico artigo para a revista The Atlantic, ele diz: "Nos últimos anos, tenho a sensação desconfortável de que alguém ou algo tem pregado peças com meu cérebro (…). Sinto isso ainda mais forte quando leio. Imergir em um livro ou em um longo artigo era fácil (…). Agora, minha concentração se perde frequentemente depois de duas ou três páginas (…). Acho que sei o que está ocorrendo. Por mais de uma década, tenho gastado tempo demais on-line."

(6) Trata-se de uma preocupação que tem se espalhado. A neurocientista Maryanne Wolf, do Centro de Pesquisas de Leitura e Linguagem da Universidade Tufts, de Boston, vai ainda mais fundo na análise. Para ela, a era da internet tem moldado o cérebro, capaz de se adaptar, de repaginar a rede de sinapses dos neurônios, de acordo com o tipo de leitura que faz. Em um de seus livros, avisa: "Livros sempre foram uma forma de se aventurar, trabalhar a imaginação e crescer intelectualmente. Porém, na era da internet, passou-se a ler rapidamente, sem análise nem crítica." Segundo a autora, isso faz com que os jovens de hoje desenvolvam menos conexões neurais. Ou seja, tenham cérebros menos eficazes.

(7) Não faltam estudos sobre o tema, na maioria muito ácidos e críticos, como os realizados por Maryanne Wolf. Mas vale uma pausa. Grande parte dos cientistas ainda acha cedo para chegar a conclusões irrefutáveis. Estou com essa turma.

(8) Há milênios, ocorreu a mesma reação a uma inovação tão disruptora quanto é a internet para esta época: a escrita. Sócrates, nos idos da Grécia Antiga, irritou-se com a chegada de tal tecnologia. Para ele, a leitura faria da mente, que não mais precisaria memorizar tudo, um ente preguiçoso. 

(9) Reações contrárias, por vezes contendo premonições apocalípticas, surgem sempre junto à chegada de novidades tecnológicas — em relação à escrita, à prensa de Gutenberg, à física de partículas, à internet ou aos aplicativos de tablets e smartphones. Mas o que nossa história, a da humanidade, tem provado é que os avanços têm vindo para o bem. Sim, muda o quê e quem somos. Há, porém, um balanço, usualmente positivo. No caso da leitura na era digital, aposto todas as minhas fichas no equilíbrio. Eventualmente, aprenderemos a lidar com essa nova forma de consumir informações. Talvez saibamos juntar com proficiência o mergulho e o surfe. Neste momento, contudo, não vislumbramos a chegada de tal equilíbrio. Por isso, estamos confusos como um animal em adaptação a um novo habitat. A garantia de sobrevivência: leia, sempre, o que for, o que lhe der prazer. E não deixe seu cérebro estacionar.

Filipe Vilicic. Disponível em: http://www.intrinseca.com.br/blog/2015/08/como-o-facebook-nos-transformou-em-leitores-desatentos. Acesso em: 03/06/2017. Adaptado. 

A
A articulação entre o primeiro e o segundo parágrafos não se efetiva de fato, porque a pergunta que finaliza o primeiro parágrafo é respondida de forma negativa no segundo: "Não chamamos de 'mal‘ ".
B
No final do segundo parágrafo, o trecho "e tenha isso como elogio e crítica ao mesmo tempo.", o termo "crítica" articula-se, no início do terceiro parágrafo, à palavra "vantagens": "Sim, há vantagens".
C
O segmento "essa transformação do hábito de ler", no início do quinto parágrafo, sintetiza todo o conteúdo do quarto parágrafo, que aborda as diversas mudanças nas práticas de leitura, promovidas pelas novas tecnologias.
D
No 6º parágrafo, a fala da neurocientista Maryanne Wolf: "os jovens de hoje desenvolvem menos conexões neurais" é uma continuação do discurso do escritor americano Nicholas Carr (5º parágrafo).
E
Com o termo destacado no trecho: "Há milênios, ocorreu a mesma reação" (8º parágrafo), o autor compara as significativas transformações ocorridas com a introdução das inovações digitais às que aconteceram quando da invenção da escrita.
f880a057-f9
UPE 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Compreender um texto envolve o acionamento de diversas habilidades e competências, dentre as quais está a apreensão de sentidos que ficam "escondidos" nas entrelinhas. No caso do Texto 1, por exemplo, o leitor deve compreender que:


I. com a comparação presente no trecho: "Meus olhos passam pelas palavras como se fossem ondas que se quebram e somem." (1º parágrafo), o autor pretendeu transmitir como percebe a superficialidade da sua atividade de leitura.


II. ao afirmar: "Não somos mais mergulhadores. Viramos surfistas" (2º parágrafo), o autor corrobora sua opinião de que, atualmente, as pessoas têm lido apressadamente, com pouca ou nenhuma reflexão sobre os sentidos veiculados nos textos.


III. o autor se identifica e concorda com a crítica feita por Maryanne Wolf, posição que está claramente expressa no trecho: "Grande parte dos cientistas ainda acha cedo para chegar a conclusões irrefutáveis. Estou com essa turma." (7º parágrafo).


IV. no trecho: "No caso da leitura na era digital, aposto todas as minhas fichas no equilíbrio. Eventualmente, aprenderemos a lidar com essa nova forma de consumir informações." (9º parágrafo), o autor faz projeções otimistas para o que acredita ser o futuro da leitura.


Estão CORRETAS:

TEXTO 1

Como o Facebook nos transformou em leitores desatentos 


(1)     Sinto que venho me tornando um leitor menos atento. Meus olhos passam pelas palavras como se fossem ondas que se quebram e somem. Para ganhar concentração, muitas vezes tenho de me isolar, abrir um livro físico (com o digital fica mais difícil ter foco), respirar fundo e, então, curtir a história. Situação preocupante, principalmente para um leitor voraz como eu. Só que se torna ainda mais alarmante quando noto que amigos, colegas de escrita, repetem essa reclamação em tom uniforme. O que ocorre? Será que há algum mal universal que nos faz ler cada vez pior? (

2)     Não chamaria de "mal", mas de "cenário". Trata-se do mundo das redes sociais. Se antes nos acostumamos a livros e revistas, a mergulhar em cada informação (e era tão pouca!) que surgia à nossa frente, agora surfamos pelos dados (e são tantos!), preocupando-nos mais com a próxima onda do que com a que passou. Vamos de um lado para outro, freneticamente, lendo status no Twitter, no Facebook; vendo fotos no Instagram (imagens, afinal, são uma espécie de "leitura"), matérias em revistas, jornais e sites; acessando blogs; assistindo a séries no Netflix. Corremos os olhos do computador para o notebook, para o Kindle, para o smartphone, para o tablet, para um livro impresso… Para a próxima invenção que colar, seja um relógio com mais informações vindas de seu pulso, seja um par de óculos mostrando tudo bem à frente. Não somos mais mergulhadores. Viramos surfistas – e tenha isso como elogio e crítica ao mesmo tempo.

(3)     Sim, há vantagens: agora também somos ligeiros. Viramos craques em consumir informações com rapidez. Sabemos o que a vovó está postando no Facebook, ao mesmo tempo em que assistimos a Breaking Bad no computador e conferimos mensagens no WhatsApp. Nossas mentes estão ágeis.

(4)     Pelo bem, pelo mal, há uma mutação em curso. Somos leitores diferentes. Algo tem ocorrido em nosso cérebro que mudou nossos processos cognitivos. Enquanto os mais velhos podem até ter dificuldades para lidar com o universo do touch, da comunicação instantânea, uma criança de poucos anos sabe navegar com talento pelo iPad. Porém, na hora de se concentrar em uma só história, em analisar um só caso, podem prevalecer a falta de atenção, as falhas de memorização, a atitude de surfar sem mergulhar em águas profundas.

(5)     Uma série de trabalhos científicos tem sido publicada sobre essa transformação do hábito de ler. Um dos estudiosos do tema é o escritor americano Nicholas Carr. Em um agora já clássico artigo para a revista The Atlantic, ele diz: "Nos últimos anos, tenho a sensação desconfortável de que alguém ou algo tem pregado peças com meu cérebro (…). Sinto isso ainda mais forte quando leio. Imergir em um livro ou em um longo artigo era fácil (…). Agora, minha concentração se perde frequentemente depois de duas ou três páginas (…). Acho que sei o que está ocorrendo. Por mais de uma década, tenho gastado tempo demais on-line."

(6) Trata-se de uma preocupação que tem se espalhado. A neurocientista Maryanne Wolf, do Centro de Pesquisas de Leitura e Linguagem da Universidade Tufts, de Boston, vai ainda mais fundo na análise. Para ela, a era da internet tem moldado o cérebro, capaz de se adaptar, de repaginar a rede de sinapses dos neurônios, de acordo com o tipo de leitura que faz. Em um de seus livros, avisa: "Livros sempre foram uma forma de se aventurar, trabalhar a imaginação e crescer intelectualmente. Porém, na era da internet, passou-se a ler rapidamente, sem análise nem crítica." Segundo a autora, isso faz com que os jovens de hoje desenvolvam menos conexões neurais. Ou seja, tenham cérebros menos eficazes.

(7) Não faltam estudos sobre o tema, na maioria muito ácidos e críticos, como os realizados por Maryanne Wolf. Mas vale uma pausa. Grande parte dos cientistas ainda acha cedo para chegar a conclusões irrefutáveis. Estou com essa turma.

(8) Há milênios, ocorreu a mesma reação a uma inovação tão disruptora quanto é a internet para esta época: a escrita. Sócrates, nos idos da Grécia Antiga, irritou-se com a chegada de tal tecnologia. Para ele, a leitura faria da mente, que não mais precisaria memorizar tudo, um ente preguiçoso. 

(9) Reações contrárias, por vezes contendo premonições apocalípticas, surgem sempre junto à chegada de novidades tecnológicas — em relação à escrita, à prensa de Gutenberg, à física de partículas, à internet ou aos aplicativos de tablets e smartphones. Mas o que nossa história, a da humanidade, tem provado é que os avanços têm vindo para o bem. Sim, muda o quê e quem somos. Há, porém, um balanço, usualmente positivo. No caso da leitura na era digital, aposto todas as minhas fichas no equilíbrio. Eventualmente, aprenderemos a lidar com essa nova forma de consumir informações. Talvez saibamos juntar com proficiência o mergulho e o surfe. Neste momento, contudo, não vislumbramos a chegada de tal equilíbrio. Por isso, estamos confusos como um animal em adaptação a um novo habitat. A garantia de sobrevivência: leia, sempre, o que for, o que lhe der prazer. E não deixe seu cérebro estacionar.

Filipe Vilicic. Disponível em: http://www.intrinseca.com.br/blog/2015/08/como-o-facebook-nos-transformou-em-leitores-desatentos. Acesso em: 03/06/2017. Adaptado. 

A
I, II e III, apenas.
B
I, II e IV, apenas.
C
I, III e IV, apenas.
D
II, III e IV, apenas.
E
I, II, III e IV.
f87c3c52-f9
UPE 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O tema de um texto pode ser indicado pelo seu título. Outro título para o Texto 1 que sintetiza as ideias nele apresentadas é:

TEXTO 1

Como o Facebook nos transformou em leitores desatentos 


(1)     Sinto que venho me tornando um leitor menos atento. Meus olhos passam pelas palavras como se fossem ondas que se quebram e somem. Para ganhar concentração, muitas vezes tenho de me isolar, abrir um livro físico (com o digital fica mais difícil ter foco), respirar fundo e, então, curtir a história. Situação preocupante, principalmente para um leitor voraz como eu. Só que se torna ainda mais alarmante quando noto que amigos, colegas de escrita, repetem essa reclamação em tom uniforme. O que ocorre? Será que há algum mal universal que nos faz ler cada vez pior? (

2)     Não chamaria de "mal", mas de "cenário". Trata-se do mundo das redes sociais. Se antes nos acostumamos a livros e revistas, a mergulhar em cada informação (e era tão pouca!) que surgia à nossa frente, agora surfamos pelos dados (e são tantos!), preocupando-nos mais com a próxima onda do que com a que passou. Vamos de um lado para outro, freneticamente, lendo status no Twitter, no Facebook; vendo fotos no Instagram (imagens, afinal, são uma espécie de "leitura"), matérias em revistas, jornais e sites; acessando blogs; assistindo a séries no Netflix. Corremos os olhos do computador para o notebook, para o Kindle, para o smartphone, para o tablet, para um livro impresso… Para a próxima invenção que colar, seja um relógio com mais informações vindas de seu pulso, seja um par de óculos mostrando tudo bem à frente. Não somos mais mergulhadores. Viramos surfistas – e tenha isso como elogio e crítica ao mesmo tempo.

(3)     Sim, há vantagens: agora também somos ligeiros. Viramos craques em consumir informações com rapidez. Sabemos o que a vovó está postando no Facebook, ao mesmo tempo em que assistimos a Breaking Bad no computador e conferimos mensagens no WhatsApp. Nossas mentes estão ágeis.

(4)     Pelo bem, pelo mal, há uma mutação em curso. Somos leitores diferentes. Algo tem ocorrido em nosso cérebro que mudou nossos processos cognitivos. Enquanto os mais velhos podem até ter dificuldades para lidar com o universo do touch, da comunicação instantânea, uma criança de poucos anos sabe navegar com talento pelo iPad. Porém, na hora de se concentrar em uma só história, em analisar um só caso, podem prevalecer a falta de atenção, as falhas de memorização, a atitude de surfar sem mergulhar em águas profundas.

(5)     Uma série de trabalhos científicos tem sido publicada sobre essa transformação do hábito de ler. Um dos estudiosos do tema é o escritor americano Nicholas Carr. Em um agora já clássico artigo para a revista The Atlantic, ele diz: "Nos últimos anos, tenho a sensação desconfortável de que alguém ou algo tem pregado peças com meu cérebro (…). Sinto isso ainda mais forte quando leio. Imergir em um livro ou em um longo artigo era fácil (…). Agora, minha concentração se perde frequentemente depois de duas ou três páginas (…). Acho que sei o que está ocorrendo. Por mais de uma década, tenho gastado tempo demais on-line."

(6) Trata-se de uma preocupação que tem se espalhado. A neurocientista Maryanne Wolf, do Centro de Pesquisas de Leitura e Linguagem da Universidade Tufts, de Boston, vai ainda mais fundo na análise. Para ela, a era da internet tem moldado o cérebro, capaz de se adaptar, de repaginar a rede de sinapses dos neurônios, de acordo com o tipo de leitura que faz. Em um de seus livros, avisa: "Livros sempre foram uma forma de se aventurar, trabalhar a imaginação e crescer intelectualmente. Porém, na era da internet, passou-se a ler rapidamente, sem análise nem crítica." Segundo a autora, isso faz com que os jovens de hoje desenvolvam menos conexões neurais. Ou seja, tenham cérebros menos eficazes.

(7) Não faltam estudos sobre o tema, na maioria muito ácidos e críticos, como os realizados por Maryanne Wolf. Mas vale uma pausa. Grande parte dos cientistas ainda acha cedo para chegar a conclusões irrefutáveis. Estou com essa turma.

(8) Há milênios, ocorreu a mesma reação a uma inovação tão disruptora quanto é a internet para esta época: a escrita. Sócrates, nos idos da Grécia Antiga, irritou-se com a chegada de tal tecnologia. Para ele, a leitura faria da mente, que não mais precisaria memorizar tudo, um ente preguiçoso. 

(9) Reações contrárias, por vezes contendo premonições apocalípticas, surgem sempre junto à chegada de novidades tecnológicas — em relação à escrita, à prensa de Gutenberg, à física de partículas, à internet ou aos aplicativos de tablets e smartphones. Mas o que nossa história, a da humanidade, tem provado é que os avanços têm vindo para o bem. Sim, muda o quê e quem somos. Há, porém, um balanço, usualmente positivo. No caso da leitura na era digital, aposto todas as minhas fichas no equilíbrio. Eventualmente, aprenderemos a lidar com essa nova forma de consumir informações. Talvez saibamos juntar com proficiência o mergulho e o surfe. Neste momento, contudo, não vislumbramos a chegada de tal equilíbrio. Por isso, estamos confusos como um animal em adaptação a um novo habitat. A garantia de sobrevivência: leia, sempre, o que for, o que lhe der prazer. E não deixe seu cérebro estacionar.

Filipe Vilicic. Disponível em: http://www.intrinseca.com.br/blog/2015/08/como-o-facebook-nos-transformou-em-leitores-desatentos. Acesso em: 03/06/2017. Adaptado. 

A
O livro digital nos faz leitores piores?
B
As redes sociais não produzem leitores críticos
C
As consequências do excesso de tempo on-line
D
Por que os jovens de hoje desenvolvem menos conexões neurais?
E
Leitura na era digital: tempo de mudança e adaptação
a5ecc2f9-b2
UPE 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Considerando os Textos 8, 9, 10 e 11 bem como os autores e seus respectivos contextos históricos e literários, analise as proposições a seguir.

I. O Texto 8 apresenta um eu lírico ligado ao cotidiano, pois Ferreira Gullar, poeta também neoconcretista, tem como um de seus temas a realidade social.
II. No Texto 9, encontra-se um eu lírico que tematiza o cotidiano, situações corriqueiras, com uma percepção aguda das coisas simples da vida; no entanto, há um certo pessimismo em relação à cidade que o faz evadir-se, criando, em sonho, outra cidade.
III. Adélia Prado é dona de uma linguagem simples, e preocupada com uma temática feminina, ligada à família e à religiosidade. No Texto 10, percebe-se um eu lírico que se mostra incompatível com o clima da imagem da casa desejada, a ponto de não se sentir bem com a cor alaranjada de suas paredes.
IV. Pignatari possui uma linguagem que valoriza os esquemas e diagramas, fazendo de seus versos um projeto de designer. No poema, há um texto duplo, uma fusão de imagens, cujos significados se revelam por essa duplicidade, como um espelho que projeta uma imagem invertida.

Estão CORRETAS:

Texto 8

Meu pai

meu pai foi
ao Rio se tratar de
um câncer (que
o mataria) mas
perdeu os óculos
na viagem

quando lhe levei
os óculos novos
comprados na Ótica
Fluminense ele
examinou o estojo com
o nome da loja dobrou
a nota de compra guardou-a
no bolso e falou:
quero ver
agora qual é o
sacana que vai dizer
que eu nunca estive
no Rio de Janeiro

(Ferreira Gullar) 

Texto 9

O mapa

Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

(E nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...

(Mário Quintana)

Texto 10

Impressionista

Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.

(Adélia Prado)




A
I, II e IV, apenas.
B
I, II, III e IV.
C
II e III, apenas.
D
II, III e IV, apenas.
E
III e IV, apenas.
a5e2a3bf-b2
UPE 2016 - Português - Interpretação de Textos, Coesão e coerência, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O início do século XX, compreendido entre 1902 a 1922, foi muito significativo para a fase de transição da literatura brasileira. As Vanguardas Europeias e a Semana de 1922 representaram mudanças importantíssimas no fazer artístico e literário, no Brasil. Acerca desse período, analise as proposições a seguir e assinale com V as Verdadeiras e com F as Falsas.

( ) O ano de 1902, marcado pela publicação de Os Sertões, de Euclides da Cunha, foi decisivo para a liberdade intelectual brasileira. Essa obra foi importante porque lançou, de um só golpe, a realidade brasileira até então disfarçada. Isso mantinha os escritores da época presos à visão europeia, em razão de sentimentos de inferioridade, motivados pelo status colonial vivenciado.
( ) O Futurismo, um dos movimentos de vanguarda, foi lançado por Marinetti. Tal movimento estético caracterizou-se mais por manifestos que por obras; assim, os futuristas exaltavam a vida moderna, cultuavam a máquina e a velocidade.
( ) Os romances de Lima Barreto têm muito de crônica, pois neles se encontram cenas do cotidiano, de jornal, sobre a vida burocrática, tudo numa linguagem fluente e sem muitas ambições. Isso pode ser percebido no seguinte trecho de sua obra Recordações do Escrivão Isaías Caminha: “Almocei, saí até à cidade próxima para fazer as minhas despedidas, jantei e, sempre, aquela visão doutoral que me não deixava”.
( ) Augusto dos Anjos é um poeta eloquente; assim, encontram-se, em sua obra, palavras do jargão científico e termos técnicos, que não podem ser ignorados, porque tais palavras fazem parte do contexto de produção do poeta. Pode-se conferir isso no seguinte trecho de seu poema A ideia: “Vem do encéfalo absconso que a constringe, / Chega em seguida às cordas do laringe, / Tísica, tênue, mínima, raquítica ...”
( ) A Semana de 22 ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922. A ideia da Semana era a de destruir, escandalizar e, especialmente, criticar. Acerca dessa postura, Aníbal Machado diz a seguinte frase: “Não sabemos definir o que queremos, mas sabemos discernir o que não queremos”.

A sequência CORRETA, de cima para baixo, é:

A
V-V-F-F-V
B
V-V-V-F-F
C
V-V-V-V-V
D
F-F-F-V-V
E
F-F-V-F-F
a5e9b4be-b2
UPE 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Após a leitura dos poemas, analise as proposições a seguir.

I. O Texto 5 é um poema, cujo eu lírico trata das ausências, recorrendo aos sentidos, e fala de seus sentimentos, valendo-se da forma e da cor que as imagens poéticas sugerem.
II. Os três poemas falam de ausência ou de saudade na mesma proporção, como também de relações amorosas frustradas.
III. No Texto 6, o eu lírico questiona a ausência de quem partiu, sem sequer anunciar sua partida. Percebe-se que a morte foi o motivo da ausência da amizade sugerida pelas imagens poéticas.
IV. Vinícius de Moraes é dono de um lirismo de caráter confidencial, com uma visão familiar do mundo; é um poeta singular. No Texto 7, percebe-se um eu lírico carregado de sentimentos de afeto por uma amada, entre o universo espiritual e físico.

Estão CORRETAS:

Texto 5

Mapa de anatomia: O Olho

O Olho é uma espécie de globo,
é um pequeno planeta
com pinturas do lado de fora.
Muitas pinturas:
azuis, verdes, amarelas.
É um globo brilhante:
parece cristal,
é como um aquário com plantas
finamente desenhadas: algas, sargaços,
miniaturas marinhas, areias, rochas,
naufrágios e peixes de ouro.

Mas por dentro há outras pinturas,
que não se veem:
umas são imagens do mundo,
outras são inventadas.

O Olho é um teatro por dentro.
E às vezes, sejam atores, sejam cenas,
e às vezes, sejam imagens, sejam ausências,
formam, no Olho, lágrimas.
(Cecília Meireles)

Texto 6

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
(Carlos Drummond de Andrade)

Texto 7

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo
de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de
me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer
coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e
em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria
terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos
desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do
passado.

Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em
outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu
desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da
noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da
névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do
teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos
silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque
poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do
céu, das aves, das estrelas. Serão a tua voz presente, a
tua voz ausente, a
tua voz serenizada.
(Vinícius de Moraes) 
A
I e II, apenas.
B
I, II e III, apenas.
C
I, III e IV, apenas.
D
III e IV, apenas.
E
I, II, III e IV.
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UPE 2016 - Português - Interpretação de Textos, Gêneros Textuais, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Acerca dos Textos 3 e 4, bem como dos seus autores e do contexto histórico e literário em que estão inscritos, analise as seguintes proposições.

I. O Texto 3 é um poema em que o autor se revela comprometido com as causas sociais de seu tempo, e em que um eu lírico questionador faz vir à tona imagens da indiferença de quem está no poder, subjugando o oprimido.
II. Mário de Andrade foi o autor de Macunaíma, cujo protagonista é um “herói sem nenhum caráter”, uma espécie de mito grego, nascido na selva amazônica que vai até São Paulo, em busca de um valioso talismã. Sobre o nascimento desse mito, confira o seguinte trecho: “No fundo do matovirgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite”.
III. O Texto 4 é um poema, cujo eu lírico é um revolucionário, em luta por sua liberdade. A sua causa, isto é, o seu ideal, é a humanidade.
IV.Para Oswald de Andrade, no seu Manifesto da Poesia Pau-brasil, “a poesia existe nos fatos”. Isso faz entender que ele conseguiu reunir, na sua poesia e na sua prosa, elementos para um olhar crítico sobre a realidade brasileira.

Estão CORRETAS:

Texto 3

Retrato de Novembro

I
Os trabalhadores protestam na rua,
Excelência.
Não me incomodam!
Como?!
Não vou sair para essas bandas!
Querem avistar-se com Vossa Excelência.
Não os conheço!
Já estão a fazer barulho.
Manda-os embora!
Não abalam.
Manda-os calar!

Não nos escutam, Excelência.
Bom, somos um país livre!
Mas a gritaria vai-nos incomodar.
Fecha as portas e as janelas!
Mesmo assim os ouviremos.
Tapa os ouvidos!
Também não resulta, Excelência.
Então, ignora-os!
Como?!
Finge que não existem!
Vai ser difícil, Excelência.
Mas não impossível!
II
E os massacres no Alentejo, Excelência?
Oh nada de extraordinário a assinalar
Senão os coveiros já teriam reclamado
Horas suplementares!

(Mário de Andrade)


Texto 4

Alerta

Lá vem o lança-chamas
Pega a garrafa de gasolina
Atira
Eles querem matar todo amor
Corromper o polo
Estancar a sede que eu tenho doutro ser
Vem de flanco, de lado
Por cima, por trás
Atira
Atira
Resiste
Defende
De pé
De pé
De pé
O futuro será de toda a humanidade
(Oswald de Andrade)
A
I e II, apenas.
B
I, III e IV, apenas.
C
II e III, apenas.
D
II e IV, apenas.
E
I, II, III e IV.
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UPE 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Dentre os valores e/ou opiniões veiculados pelo Texto 2, encontra-se a defesa de que

A
é vital proteger-se do vírus HIV, pois ele pode ser tão destrutivo para um cartaz quanto para o corpo humano.
B
relações sexuais sem preservativos só deveriam ocorrer com parceiros comprovadamente livres do HIV.
C
deveria ser um direito das pessoas soropositivas não revelar sua condição de saúde a quem quer que fosse.
D
o preconceito contra as pessoas soropositivas tem diminuído bastante com a divulgação de cartazes.
E
uma pessoa portadora do vírus HIV preserva seu direito de ser um cidadão socialmente atuante.
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UPE 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Do ponto de vista temático, o Texto 1 se constrói tendo como foco a abordagem

Texto 1

COMPREENDER O BRASIL É DIFÍCIL, MAS NÃO IMPOSSÍVEL

     Ouvimos muitos comentários de analistas sociais e também do senso comum (sobretudo) de que o grande mal do Brasil é o “jeitinho brasileiro”, que é atrelado à corrupção. Pois bem, a observação não é de todo errada, mas esconde outro truísmo aparente. Os males do Brasil enquanto nação e enquanto Estado assentam-se em dois pilares: o genocídio indígena e a escravidão africana.
     Advém daí o machismo e a cultura do estupro: as índias foram as primeiras a serem violentadas pelo colonizador europeu, o que acabou naturalizando essa abominável prática de invasão do corpo do outro, tempos depois aplicando-se o mesmo “método” no corpo da mulher negra e da mulher branca. Os escravocratas, em uma sociedade patriarcal, tornaram legítima também a decisão sobre o corpo da mulher, inclusive da sua esposa: bela, recatada e do lar, e da sua ama de leite (a mãe preta), cujo leite afro acalentava seu filho branco.
     Advém daí o racismo: o colonizador branco, com a chancela da religião cristã e da ciência, arrogou para si a superioridade racial branca, em detrimento do negro, do indígena e do asiático. Nem o questionável 13 de maio nem o estado democrático de direito superou isso. Isso é reproduzido hoje em nível societário. Quem mais morre nas periferias das cidades brasileiras são negros. Alguém cantou num passado recente “todo camburão tem um pouco de navio negreiro”.
     Advém daí o paternalismo: transplantamos para nossas relações humanas as antigas relações típicas de senhor escravo, não na acepção nietzschiana (moral do senhor/moral do escravo), mas na acepção eugênica herdada do darwinismo social de Spencer, que hierarquizou as raças, estando essas associadas ao processo civilizatório de aculturação do indígena, método descrito de forma primorosa por Alfredo Bosi em “As flechas do Sagrado”. Os jesuítas arrogaram para si a responsabilidade por “cuidar do indígena”, inculcando no colonizado a dependência contínua na esteira da “benevolência” mal intencionada. Mal sabiam os colonizadores que as etnias também negociavam, como enunciou Eduardo Viveiros de Castro em “A inconstância da alma selvagem”: os tupinambás jamais abriram mão do que lhes era essencial, a guerra.
     Advém daí o genocídio negro: desde 1982 até 2014 foram 1,2 milhões de negros mortos pela polícia nas periferias, dados da Anistia Internacional. O negro de hoje é o escravizado de ontem e o corpo reificado de anteontem. Na imprensa de hoje, a morte de um jovem branco de classe média suscita debates em torno da violência, ao passo que a morte de um negro é mais uma estatística. Do mesmo modo que a violência contra a mulher é naturalizada e contra a mulher negra duas vezes mais, pois aprendemos com a “globeleza” que o corpo negro feminino é o veículo do pecado e que o corpo feminino deve ser submetido à vontade do corpo masculino, estando apto desde sempre a servi-lo.
     Advém daí o genocídio indígena, ainda em curso. Ruralistas e posseiros o fazem à luz do dia no Norte e Centro-Oeste do país. A imprensa fala pouco, o silêncio cemiterial em torno do tema é um crime confesso, típico de quem consente porque se cala.
     Advém daí a corrupção, pois, no processo colonizatório, legitimou-se a prática de que tudo tem seu preço, quando até mesmo o corpo do outro poderia ser negociado, outrora o escravizado, tempos depois o trabalhador fabril, hoje qualquer alma vulnerável ao consumismo em busca de status.
     Resumo da ópera: a corrupção é um subciclo de dois ciclos maiores: genocídio e escravidão. Por isso esses dois temas interessam a todos os brasileiros. Enquanto não encararmos isso, não avançaremos como povo ou como nação.

Victor Martins. Disponível em: http://www.circulopalmarino.org.br/2016/05/compreender-o-brasil-e-dificil-mas-nao-impossivel. Acesso em: 14/07/16. Adaptado.
A
das maléficas consequências da corrupção para a imagem do Brasil.
B
do senso comum de que o grande mal do nosso país é o jeitinho brasileiro.
C
do preconceito generalizado que marcou o processo colonizatório brasileiro.
D
do forte potencial que tem o Brasil para avançar como povo ou como nação.
E
das causas históricas que explicam as principais mazelas do nosso país.
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UPE 2016 - Português - Interpretação de Textos, Uso dos conectivos, Análise sintática, Sintaxe, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Acerca das relações lógico-discursivas que se identificam no Texto 1, assinale a alternativa CORRETA.

Texto 1

COMPREENDER O BRASIL É DIFÍCIL, MAS NÃO IMPOSSÍVEL

     Ouvimos muitos comentários de analistas sociais e também do senso comum (sobretudo) de que o grande mal do Brasil é o “jeitinho brasileiro”, que é atrelado à corrupção. Pois bem, a observação não é de todo errada, mas esconde outro truísmo aparente. Os males do Brasil enquanto nação e enquanto Estado assentam-se em dois pilares: o genocídio indígena e a escravidão africana.
     Advém daí o machismo e a cultura do estupro: as índias foram as primeiras a serem violentadas pelo colonizador europeu, o que acabou naturalizando essa abominável prática de invasão do corpo do outro, tempos depois aplicando-se o mesmo “método” no corpo da mulher negra e da mulher branca. Os escravocratas, em uma sociedade patriarcal, tornaram legítima também a decisão sobre o corpo da mulher, inclusive da sua esposa: bela, recatada e do lar, e da sua ama de leite (a mãe preta), cujo leite afro acalentava seu filho branco.
     Advém daí o racismo: o colonizador branco, com a chancela da religião cristã e da ciência, arrogou para si a superioridade racial branca, em detrimento do negro, do indígena e do asiático. Nem o questionável 13 de maio nem o estado democrático de direito superou isso. Isso é reproduzido hoje em nível societário. Quem mais morre nas periferias das cidades brasileiras são negros. Alguém cantou num passado recente “todo camburão tem um pouco de navio negreiro”.
     Advém daí o paternalismo: transplantamos para nossas relações humanas as antigas relações típicas de senhor escravo, não na acepção nietzschiana (moral do senhor/moral do escravo), mas na acepção eugênica herdada do darwinismo social de Spencer, que hierarquizou as raças, estando essas associadas ao processo civilizatório de aculturação do indígena, método descrito de forma primorosa por Alfredo Bosi em “As flechas do Sagrado”. Os jesuítas arrogaram para si a responsabilidade por “cuidar do indígena”, inculcando no colonizado a dependência contínua na esteira da “benevolência” mal intencionada. Mal sabiam os colonizadores que as etnias também negociavam, como enunciou Eduardo Viveiros de Castro em “A inconstância da alma selvagem”: os tupinambás jamais abriram mão do que lhes era essencial, a guerra.
     Advém daí o genocídio negro: desde 1982 até 2014 foram 1,2 milhões de negros mortos pela polícia nas periferias, dados da Anistia Internacional. O negro de hoje é o escravizado de ontem e o corpo reificado de anteontem. Na imprensa de hoje, a morte de um jovem branco de classe média suscita debates em torno da violência, ao passo que a morte de um negro é mais uma estatística. Do mesmo modo que a violência contra a mulher é naturalizada e contra a mulher negra duas vezes mais, pois aprendemos com a “globeleza” que o corpo negro feminino é o veículo do pecado e que o corpo feminino deve ser submetido à vontade do corpo masculino, estando apto desde sempre a servi-lo.
     Advém daí o genocídio indígena, ainda em curso. Ruralistas e posseiros o fazem à luz do dia no Norte e Centro-Oeste do país. A imprensa fala pouco, o silêncio cemiterial em torno do tema é um crime confesso, típico de quem consente porque se cala.
     Advém daí a corrupção, pois, no processo colonizatório, legitimou-se a prática de que tudo tem seu preço, quando até mesmo o corpo do outro poderia ser negociado, outrora o escravizado, tempos depois o trabalhador fabril, hoje qualquer alma vulnerável ao consumismo em busca de status.
     Resumo da ópera: a corrupção é um subciclo de dois ciclos maiores: genocídio e escravidão. Por isso esses dois temas interessam a todos os brasileiros. Enquanto não encararmos isso, não avançaremos como povo ou como nação.

Victor Martins. Disponível em: http://www.circulopalmarino.org.br/2016/05/compreender-o-brasil-e-dificil-mas-nao-impossivel. Acesso em: 14/07/16. Adaptado.
A
Já no título se identifica uma relação comparativa, explicitada pelos termos ‘difícil’, de um lado, e ‘impossível’, de outro.
B
Uma relação concessiva pode ser evidenciada no trecho: “Os escravocratas, em uma sociedade patriarcal, tornaram legítima também a decisão sobre o corpo da mulher, inclusive da sua esposa.” (2º parágrafo)
C
No trecho: “Do mesmo modo que a violência contra a mulher é naturalizada e contra a mulher negra duas vezes mais, pois aprendemos com a ‘globeleza’ que o corpo negro feminino é o veículo do pecado (...)” (5º parágrafo), o termo destacado introduz um segmento explicativo.
D
O trecho: “A imprensa fala pouco, o silêncio cemiterial em torno do tema é um crime confesso, típico de quem consente porque se cala.” (6º parágrafo) exemplifica uma relação semântica consecutiva.
E
Uma relação proporcional se encontra no trecho: “Enquanto não encararmos isso, não avançaremos como povo ou como nação.”. (8º parágrafo)