O Texto 1 é o relato, infelizmente comum na nossa realidade, de uma experiência de racismo.
Com base nos elementos de sua organização narrativa e nas conclusões (inferências) autorizadas
pelo texto, assinale a alternativa CORRETA.
Texto 1
13 DE MAIO
Foi quando eu era seminarista no interior de São Paulo. Era 13 de maio de 1966 e os meus colegas de
seminário, quase todos descendentes de italianos ou alemães, resolveram homenagear o dia da
abolição dos escravos com um almoço. Nós, os poucos negros ou pardos da turma, fomos "convidados" a sentar na mesa central do refeitório, decorada com as palavras 'Navio Negreiro'.
Quando vi aquilo me recusei e me sentei numa mesa lateral, com todos os outros colegas. Pois os
organizadores daquilo me pegaram à força, me arrastaram e me fizeram sentar na marra junto aos
outros negros, no que considerei uma ofensa gravíssima. Arrumei as malas para ir embora, mas fui
convencido a ficar pelo padre do local. Ele me recomendou que deixasse o ódio passar e que tomasse
aquele episódio como bandeira de luta para um mundo melhor. E, de fato, aquele episódio alterou
radicalmente a direção da minha vida. Foi a partir de então que tirei a foto do meu pai, que era negro,
do fundo da minha mala, e coloquei-a ao lado da fotografia da minha mãe, branca, com os meus
objetos pessoais.
Frei David Raimundo dos Santos, 63 anos, frade, fundador da ONG Educafro.
Disponível em: www.educafro.org.br Acesso em: 15 set. 2020. Adaptado.
Texto 1
13 DE MAIO
Foi quando eu era seminarista no interior de São Paulo. Era 13 de maio de 1966 e os meus colegas de seminário, quase todos descendentes de italianos ou alemães, resolveram homenagear o dia da abolição dos escravos com um almoço. Nós, os poucos negros ou pardos da turma, fomos "convidados" a sentar na mesa central do refeitório, decorada com as palavras 'Navio Negreiro'. Quando vi aquilo me recusei e me sentei numa mesa lateral, com todos os outros colegas. Pois os organizadores daquilo me pegaram à força, me arrastaram e me fizeram sentar na marra junto aos outros negros, no que considerei uma ofensa gravíssima. Arrumei as malas para ir embora, mas fui convencido a ficar pelo padre do local. Ele me recomendou que deixasse o ódio passar e que tomasse aquele episódio como bandeira de luta para um mundo melhor. E, de fato, aquele episódio alterou radicalmente a direção da minha vida. Foi a partir de então que tirei a foto do meu pai, que era negro, do fundo da minha mala, e coloquei-a ao lado da fotografia da minha mãe, branca, com os meus objetos pessoais.
Frei David Raimundo dos Santos, 63 anos, frade, fundador da ONG Educafro.
Disponível em: www.educafro.org.br Acesso em: 15 set. 2020. Adaptado.
Gabarito comentado
Tema central: A questão aborda interpretação de texto narrativo, especialmente a identificação de elementos da estrutura narrativa (enredo, clímax), o tipo de narrador, discurso direto/indireto e simbolismo dos atos do personagem.
Justificativa da alternativa CORRETA – Letra E:
O texto relata um episódio marcante de racismo sofrido pelo narrador, refletindo sobre o impacto desse caso em sua vida. Ao final, o narrador revela que, após o ocorrido, expôs a foto do pai (negro) ao lado da mãe (branca) ― ação que simboliza não só a aceitação da própria identidade, mas também o início do engajamento na luta contra o racismo. Esse simbolismo é um elemento recorrente em narrativas de formação, conforme salientam gramáticos como Bechara e Cunha & Cintra: gestos simbólicos marcam mudanças internas do personagem, tornando-se indicadores do desfecho ou das consequências do conflito.
Análise das alternativas incorretas:
A) O trecho citado corresponde à introdução da narrativa, não ao conflito central. O conflito começa com o constrangimento sofrido no almoço.
B) O narrador é participante da ação, narra em 1ª pessoa (narrador-personagem), e não em 3ª pessoa (narrador onisciente), como mostra o uso de “eu”.
C) O clímax do texto ocorre antes — quando o narrador é forçado a sentar-se à mesa central, não quando arruma as malas e recebe o conselho do padre, que faz parte do desfecho e não do ponto de maior tensão.
D) O trecho destacado está em discurso indireto, pois o narrador relata com suas palavras a orientação recebida, sem aspas ou travessão — conforme ensina Evanildo Bechara sobre a distinção entre discurso direto e indireto.
Estratégias de interpretação:
Ao resolver questões de narrativa, atente-se ao foco narrativo (identificando quem narra a história), à estrutura do enredo (introdução, conflito, clímax, desfecho), e à presença de discursos (direto e indireto). Observe elementos simbólicos, geralmente utilizados para marcar superação, transformação ou reflexão do personagem.
Desconfie de alternativas que confundem introdução com conflito ou clímax, e sempre confirme se o narrador é interno (personagem) ou externo (observador/onisciente).
Conforme a Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara, essas análises ajudam a legitimar a leitura correta do texto e sua mensagem.
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