Questõesde Esamc 2019 sobre Português
Leia o trecho abaixo para a questão:
“Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça dos
cabritos. Mas como não tinha roça e apenas se limitava a semear na vazante
uns punhados de feijão e milho, comia da feira, desfazia-se dos animais, não
chegava a ferrar um bezerro ou assinar a orelha de um cabrito.
[…]
Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o gado, arrependeu-se, enfim deixou a transação meio apalavrada e foi consultar a mulher. Sinhá Vitória mandou os meninos para o barreiro, sentou-se na cozinha, concentrou-se, distribuiu no chão sementes de várias espécies, realizou somas e diminuições. No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas
ao fechar o negócio notou que as operações de Sinhá Vitória, como de costume, diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual: a
diferença era proveniente de juros.
Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, viase perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza
havia um erro no papel do branco.
Não se descobriu o erro, e Fabiano
perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que
era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e
nunca arranjar carta de alforria!
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro
fosse procurar serviço noutra fazenda.
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso
barulho não. Se havia dito palavra à-toa, pedia desculpa. […].”
(RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. Rio de Janeiro: Record, 2013. p.93-94.)
Vidas Secas (1938), um clássico de Graciliano Ramos, narra as dificuldades de sobrevivência de uma família de retirantes, encabeçada por Fabiano e Sinhá Vitória, no sertão nordestino. Fabiano, na cena apresentada, é injustiçado por:
Leia o texto abaixo:
“... A noite está tepida. O céu já está salpicado de estrelas. Eu que sou exótica gostaria de recortar um pedaço do céu para fazer um vestido. Começo ouvir uns brados. Saio para a rua. É o Ramiro que quer dar no senhor Binidito. Mal entendido. Caiu uma ripa no fio da luz e apagou a luz da casa do Ramiro. Por isso o Ramiro queria bater no senhor Binidito. Porque o Ramiro é forte e o senhor Binidito é fraco.
O Ramiro ficou zangado porque eu fui a favor do senhor Binidito. Tentei concertar os fios. Enquanto eu tentava concertar o fio o Ramiro queria expancar o Binidito que estava alcoolisado e não podia parar de pé. Estava inconciente. Eu não posso descrever o efeito do álcool porque não bebo. Já bebi uma vez, em caráter experimental, mas o álcool não me tonteia.
Enquanto eu pretendia concertar a luz o Ramiro dizia:
— Liga a luz, liga a luz sinão eu te quebro a cara. O fio não dava para ligar a luz. Precisava emendá-lo. Sou leiga na eletricidade. Mandei chamar o senhor Alfredo, que é o atual encarregado da luz. Ele estava nervoso. Olhava o senhor Binidito com despreso. A Juana que é esposa do Binidito deu cinquenta cruzeiros para o senhor Alfredo. Ele pegou o dinheiro. Não sorriu. Mas ficou alegre. Percebi pela sua fisionomia. Enfim o dinheiro dissipou o nervosismo.”
(JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014. p.32)
A linguagem do diário de Carolina Maria de Jesus transita entre o vocabulário informal, com imprecisões na ortografia e na acentuação
das palavras, e o vocabulário erudito, adquirido na leitura de textos
literários. Este jogo informal/erudito torna-se evidente no trecho:
Leia o texto abaixo:
“... A noite está tepida. O céu já está salpicado de estrelas. Eu que sou
exótica gostaria de recortar um pedaço do céu para fazer um vestido. Começo ouvir uns brados. Saio para a rua. É o Ramiro que quer dar no senhor
Binidito. Mal entendido. Caiu uma ripa no fio da luz e apagou a luz da casa
do Ramiro. Por isso o Ramiro queria bater no senhor Binidito. Porque o
Ramiro é forte e o senhor Binidito é fraco.
O Ramiro ficou zangado porque eu fui a favor do senhor Binidito. Tentei concertar os fios. Enquanto eu tentava concertar o fio o Ramiro queria
expancar o Binidito que estava alcoolisado e não podia parar de pé. Estava
inconciente. Eu não posso descrever o efeito do álcool porque não bebo. Já
bebi uma vez, em caráter experimental, mas o álcool não me tonteia.
Enquanto eu pretendia concertar a luz o Ramiro dizia:
— Liga a luz, liga a luz sinão eu te quebro a cara.
O fio não dava para ligar a luz. Precisava emendá-lo. Sou leiga na eletricidade. Mandei chamar o senhor Alfredo, que é o atual encarregado da
luz. Ele estava nervoso. Olhava o senhor Binidito com despreso. A Juana
que é esposa do Binidito deu cinquenta cruzeiros para o senhor Alfredo.
Ele pegou o dinheiro. Não sorriu. Mas ficou alegre. Percebi pela sua fisionomia. Enfim o dinheiro dissipou o nervosismo.”
(JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada.
São Paulo: Ática, 2014. p.32)
Carolina Maria de Jesus (1914 – 1977), catadora de lixo e escritora, expôs, em Quarto de Despejo: Diário de uma favelada (1960), as mazelas
e os sofrimentos enfrentados pela população da favela do Canindé,
em São Paulo. O trecho apresentado aponta um dos problemas estruturais da favela retratado pela escritora:
“Os alarmes que não soaram reproduzem o silêncio da humanidade
diante das repetidas manifestações da violência da técnica.”
O trecho acima, em meio a um poético jogo de palavras dos universos
do som e do silêncio, faz uma dura crítica, segundo a qual a humanidade:
“Apenas a arrogância fáustica, a hybris que cega, o sentimento de onipotência podem justificar que essa barragem (como tantas outras) tenha sido construída logo acima de uma área urbana e das instalações
dos funcionários da empresa.”
Quanto à concordância, a forma verbal “podem” está
“Ou seja, a emoção do medo do Armagedom está sendo vencida pela
razão instrumental e sua promessa (distópica) de transformar a natureza em mercadoria.”
Em outras palavras, buscando anular o medo da finitude, a humanidade:
Releia o trecho a seguir pra a questão:
“Sua “heurística do medo” — a saber, uma pedagogia da humanidade que se transformaria a partir do confronto com a visão medonha de seu fim muito próximo — soa ainda poderosa, mas um tanto inocente, mesmo reconhecendo que suas ideias influenciaram protocolos como o Acordo de Paris, de 2015.”
A construção do sentido do texto ganha mais força retórica no trabalho entre as expressões “poderosa” e “inocente”. A esta figura de linguagem denominamos
Releia o trecho a seguir pra a questão:
“Sua “heurística do medo” — a saber, uma pedagogia da humanidade que se transformaria a partir do confronto com a visão medonha de seu fim muito próximo — soa ainda poderosa, mas um tanto inocente, mesmo reconhecendo que suas ideias influenciaram protocolos como o Acordo de Paris, de 2015.”
A construção do sentido do texto ganha mais força retórica no trabalho entre as expressões “poderosa” e “inocente”. A esta figura de linguagem denominamos
Releia o trecho a seguir pra a questão:
“Sua “heurística do medo” — a saber, uma pedagogia da humanidade
que se transformaria a partir do confronto com a visão medonha de seu
fim muito próximo — soa ainda poderosa, mas um tanto inocente, mesmo
reconhecendo que suas ideias influenciaram protocolos como o Acordo
de Paris, de 2015.”
A partir da leitura do trecho acima, entende-se que a expressão “heurística” tem suas raízes no campo da:
Releia o trecho a seguir pra a questão:
“Sua “heurística do medo” — a saber, uma pedagogia da humanidade que se transformaria a partir do confronto com a visão medonha de seu fim muito próximo — soa ainda poderosa, mas um tanto inocente, mesmo reconhecendo que suas ideias influenciaram protocolos como o Acordo de Paris, de 2015.”
A partir da leitura do trecho acima, entende-se que a expressão “heurística” tem suas raízes no campo da:
O trecho a seguir propõe ao leitor um jogo semântico com a palavra
“tempo”.
“Hoje, podemos dizer que esse futuro que ele desenhava, ou seja, esse
tempo (1) já sem muito tempo (2) de sobrevida, tornou-se o nosso tempo (3).”
A alternativa que mais bem interpreta, na ordem, os sentidos dessa
expressão é:
O excerto a seguir descreve uma saída apontada pelo filósofo Hans
Jonas para amenizar efeitos do modelo de desenvolvimento liberal.
“Fala de um ‘princípio de moderação’, reconhecendo que a conta deveria ser paga pelos que mais possuem.”
Assinale, dentre as manchetes abaixo, aquela que evidencia um “efeito
negativo” implícito no trecho acima.
O excerto a seguir descreve uma saída apontada pelo filósofo Hans Jonas para amenizar efeitos do modelo de desenvolvimento liberal. “Fala de um ‘princípio de moderação’, reconhecendo que a conta deveria ser paga pelos que mais possuem.”
Assinale, dentre as manchetes abaixo, aquela que evidencia um “efeito
negativo” implícito no trecho acima.