Questão fd89775d-06
Prova:
Disciplina:
Assunto:
Sobre a linguagem do conto, atribua V (verdadeiro) ou F (falso) às afirmativas a seguir.
( ) Há a presença constante do sentido conotativo da linguagem.
( ) A linguagem é predominantemente coloquial, com certo desleixo em algumas situações.
( ) Há predomínio da linguagem poética, trazendo um alto lirismo ao conto.
( ) É possível perceber que a autora utiliza uma linguagem objetiva, sem grandes descrições ou elementos conotativos.
( ) Há uma mescla entre as variedades padrão e coloquial da língua dando mais verossimilhança à personagem.
Assinale a alternativa que contém, de cima para baixo, a sequência correta.
Sobre a linguagem do conto, atribua V (verdadeiro) ou F (falso) às afirmativas a seguir.
( ) Há a presença constante do sentido conotativo da linguagem.
( ) A linguagem é predominantemente coloquial, com certo desleixo em algumas situações.
( ) Há predomínio da linguagem poética, trazendo um alto lirismo ao conto.
( ) É possível perceber que a autora utiliza uma linguagem objetiva, sem grandes descrições ou elementos conotativos.
( ) Há uma mescla entre as variedades padrão e coloquial da língua dando mais verossimilhança à personagem.
Assinale a alternativa que contém, de cima para baixo, a sequência correta.
Leia o conto a seguir e responda à questão.
Preciosidade (para Mafalda)
De manhã cedo era sempre a mesma coisa renovada: acordar. O que era vagaroso, desdobrado, vasto.
Vastamente ela abria os olhos. Tinha quinze anos e não era bonita. Mas por dentro da magreza, a
vastidão quase majestosa em que se movia como dentro de uma meditação. E dentro da nebulosidade
algo precioso. Que não se espreguiçava, não se comprometia, não se contaminava. Que era intenso como
uma joia. Ela acordava antes de todos, pois para ir à escola teria que pegar um ônibus e um bonde, o que
lhe tomaria uma hora. O que lhe daria uma hora. De devaneio agudo como um crime. O vento da manhã
violentando a janela e o rosto até que os lábios ficavam duros, gelados. Então ela sorria. Como se sorrir
fosse em si um objetivo. Tudo isso aconteceria se tivesse a sorte de “ninguém olhar para ela”. Era uma
manhã ainda mais fria e escura que as outras, ela estremeceu no suéter. A branca nebulosidade deixava
o fim da rua invisível. Tudo estava algodoado, não se ouviu sequer o ruído de algum ônibus que passasse
pela avenida. Foi andando para o imprevisível da rua. As casas dormiam nas portas fechadas. Os jardins
endurecidos de frio. No ar escuro, mais que no céu, no meio da rua uma estrela. Uma grande estrela
de gelo que não voltara ainda, incerta no ar, úmida, informe. Surpreendida no seu atraso, arredondava-
-se na hesitação. Ela olhou a estrela próxima. Caminhava sozinha na cidade bombardeada. Não, ela
não estava sozinha. Com os olhos franzidos pela incredulidade no fim longínquo de sua rua, de dentro
do vapor, viu dois homens. Dois rapazes vindo. Olhou ao redor como se pudesse ter errado de rua ou
de cidade. Mas errara os minutos: saíra de casa antes que a estrela e dois homens tivessem tempo de
sumir. Seu coração se espantou. O que se seguiu foram quatro mãos difíceis, foram quatro mãos que não
sabiam o que queriam, quatro mãos erradas de quem não tinha a vocação, quatro mãos que a tocaram
tão inesperadamente que ela fez a coisa mais certa que poderia ter feito no mundo dos movimentos: ficou
paralisada. Eles, cujo papel predeterminado era apenas o de passar junto do escuro de seu medo, e
então o primeiro dos sete mistérios cairia; eles que representariam apenas o horizonte de um só passo
aproximado, eles não compreenderam a função que tinham e, com a individualidade dos que têm medo,
haviam atacado. Foi menos de uma fração de segundo na rua tranquila. Numa fração de segundo a
tocaram como se a eles coubessem todos os sete mistérios. Que ela conservou todos, e mais larva se
tornou, e mais sete anos de atraso. Quando foi molhar os cabelos diante do espelho, ela era tão feia. Ela
possuía tão pouco, e eles haviam tocado. Ela era tão feia e preciosa. Estava pálida, os traços afinados. As
mãos, umedecendo os cabelos, sujas de tinta ainda do dia anterior. “Preciso cuidar mais de mim”, pensou.
Não sabia como. A verdade é que cada vez sabia menos como. A expressão do nariz era a de um focinho
apontando na cerca. Voltou ao banco e ficou quieta, com um focinho. “Uma pessoa não é nada.” “Não”,
retrucou-se em mole protesto, “não diga isso”, pensou com bondade e melancolia. “Uma pessoa é alguma
coisa”, disse por gentileza. Mas no jantar a vida tomou um senso imediato e histérico:
– Preciso de sapatos novos! Os meus fazem muito barulho, uma mulher não pode andar com salto de
madeira, chama muita atenção! Ninguém me dá nada! Ninguém me dá nada! – e estava tão frenética e
estertorada que ninguém teve coragem de lhe dizer que não os ganharia. Só disseram:
– Você não é uma mulher e todo salto é de madeira. Até que, assim como uma pessoa engorda, ela deixou,
sem saber por que processo, de ser preciosa. Há uma obscura lei que faz com que se proteja o ovo até
que nasça o pinto, pássaro de fogo. E ela ganhou os sapatos novos.
(LISPECTOR, C. Laços de Família. São Paulo: Rocco, 1998. p.95-108.)
Leia o conto a seguir e responda à questão.
Preciosidade (para Mafalda)
De manhã cedo era sempre a mesma coisa renovada: acordar. O que era vagaroso, desdobrado, vasto.
Vastamente ela abria os olhos. Tinha quinze anos e não era bonita. Mas por dentro da magreza, a
vastidão quase majestosa em que se movia como dentro de uma meditação. E dentro da nebulosidade
algo precioso. Que não se espreguiçava, não se comprometia, não se contaminava. Que era intenso como
uma joia. Ela acordava antes de todos, pois para ir à escola teria que pegar um ônibus e um bonde, o que
lhe tomaria uma hora. O que lhe daria uma hora. De devaneio agudo como um crime. O vento da manhã
violentando a janela e o rosto até que os lábios ficavam duros, gelados. Então ela sorria. Como se sorrir
fosse em si um objetivo. Tudo isso aconteceria se tivesse a sorte de “ninguém olhar para ela”. Era uma
manhã ainda mais fria e escura que as outras, ela estremeceu no suéter. A branca nebulosidade deixava
o fim da rua invisível. Tudo estava algodoado, não se ouviu sequer o ruído de algum ônibus que passasse
pela avenida. Foi andando para o imprevisível da rua. As casas dormiam nas portas fechadas. Os jardins
endurecidos de frio. No ar escuro, mais que no céu, no meio da rua uma estrela. Uma grande estrela
de gelo que não voltara ainda, incerta no ar, úmida, informe. Surpreendida no seu atraso, arredondava-
-se na hesitação. Ela olhou a estrela próxima. Caminhava sozinha na cidade bombardeada. Não, ela
não estava sozinha. Com os olhos franzidos pela incredulidade no fim longínquo de sua rua, de dentro
do vapor, viu dois homens. Dois rapazes vindo. Olhou ao redor como se pudesse ter errado de rua ou
de cidade. Mas errara os minutos: saíra de casa antes que a estrela e dois homens tivessem tempo de
sumir. Seu coração se espantou. O que se seguiu foram quatro mãos difíceis, foram quatro mãos que não
sabiam o que queriam, quatro mãos erradas de quem não tinha a vocação, quatro mãos que a tocaram
tão inesperadamente que ela fez a coisa mais certa que poderia ter feito no mundo dos movimentos: ficou
paralisada. Eles, cujo papel predeterminado era apenas o de passar junto do escuro de seu medo, e
então o primeiro dos sete mistérios cairia; eles que representariam apenas o horizonte de um só passo
aproximado, eles não compreenderam a função que tinham e, com a individualidade dos que têm medo,
haviam atacado. Foi menos de uma fração de segundo na rua tranquila. Numa fração de segundo a
tocaram como se a eles coubessem todos os sete mistérios. Que ela conservou todos, e mais larva se
tornou, e mais sete anos de atraso. Quando foi molhar os cabelos diante do espelho, ela era tão feia. Ela
possuía tão pouco, e eles haviam tocado. Ela era tão feia e preciosa. Estava pálida, os traços afinados. As
mãos, umedecendo os cabelos, sujas de tinta ainda do dia anterior. “Preciso cuidar mais de mim”, pensou.
Não sabia como. A verdade é que cada vez sabia menos como. A expressão do nariz era a de um focinho
apontando na cerca. Voltou ao banco e ficou quieta, com um focinho. “Uma pessoa não é nada.” “Não”,
retrucou-se em mole protesto, “não diga isso”, pensou com bondade e melancolia. “Uma pessoa é alguma
coisa”, disse por gentileza. Mas no jantar a vida tomou um senso imediato e histérico:
– Preciso de sapatos novos! Os meus fazem muito barulho, uma mulher não pode andar com salto de
madeira, chama muita atenção! Ninguém me dá nada! Ninguém me dá nada! – e estava tão frenética e
estertorada que ninguém teve coragem de lhe dizer que não os ganharia. Só disseram:
– Você não é uma mulher e todo salto é de madeira. Até que, assim como uma pessoa engorda, ela deixou,
sem saber por que processo, de ser preciosa. Há uma obscura lei que faz com que se proteja o ovo até
que nasça o pinto, pássaro de fogo. E ela ganhou os sapatos novos.
(LISPECTOR, C. Laços de Família. São Paulo: Rocco, 1998. p.95-108.)
A
V, V, F, F, V.
B
V, F, V, F, F.
C
V, F, F, V, V.
D
F, V, V, F, F.
E
F, V, F, V, V.