Texto 1: “[...] Quando um homem deseja professar a bondade, natural é que vá à ruína, entre tantos maus. Assim, é preciso que, para se conservar, um príncipe aprenda a ser mau, e que se sirva ou não disso de acordo com a necessidade”. (MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 2004, p. 99).

Texto 2: “[...] Assim deve o príncipe tornar-se temido, de sorte que, se não for amado, ao menos evite ódio, pois é fácil ser, a um só tempo, temido e não odiado, o que ocorrerá uma vez que se prive da posse dos bens e das mulheres dos cidadãos e dos súditos, e, mesmo quando forçado a derramar o sangue de alguém, poderá fazê-lo apenas se houver justificativa apropriada e causa manifesta” [...]. (Idem, p. 106-7)

Considerando o pensamento de Maquiavel e os textos citados, assinale a alternativa CORRETA.

Resposta correta: Alternativa A.

Tema central: entendimento do realismo político em Maquiavel — isto é, a política vista como área autônoma que exige decisões práticas para conservar o Estado e garantir a ordem, mesmo que envolvam ações moralmente questionáveis.

Resumo teórico: Maquiavel, em O Príncipe, recomenda que o governante priorize a estabilidade e a manutenção do poder. Conceitos-chave: virtù (capacidade, habilidade política, coragem e decisão) e fortuna (circunstâncias, sorte). Ele defende o uso estratégico da bondade ou da dureza conforme a necessidade — ser amado é desejável, mas ser temido é mais seguro, desde que não se provoque ódio (Maquiavel, O Príncipe).

Justificativa da alternativa A: A alternativa afirma que Maquiavel volta-se à realidade e busca meios para estabelecer um Estado estável. Isso sintetiza corretamente seu enfoque pragmático: o objetivo é a ordem e a conservação do Estado, não a elaboração de um ideal ético abstrato. Os trechos citados no enunciado (sobre aprender a ser mau quando necessário; preferir ser temido a ser odiado) confirmam essa busca por soluções concretas para a estabilidade política.

Análise das alternativas incorretas: B — Incorreta: Maquiavel não é idealista como Platão. Enquanto Platão formula um Estado ideal baseado na justiça e na virtude, Maquiavel descreve como os príncipes realmente agem e recomenda medidas pragmáticas. C — Parcialmente enganosa: embora mencione virtù e fortuna, reduzir a recomendação à necessidade de "dinheiro" é impreciso. Maquiavel foca em habilidade política, força e legitimidade ativa (ex.: usar temor sem gerar ódio), não apenas em riqueza. D — Errada: Maquiavel separa política e Igreja; não diz que Estado e Igreja se fundem nem que a ordem dependa de força extraterrena. Pelo contrário, ele afirma autonomia do poder político. E — Errada: O objetivo de Maquiavel não é evitar a guerra a todo custo. Ele reconhece a guerra como instrumento legítimo e necessário para preservar o Estado quando preciso.

Estratégia para provas: procure palavras-chave (realismo, pragmático, virtù/fortuna, temor vs amor). Compare as alternativas com esses termos; alternativas que remetem a idealismo moral ou fusão Igreja‑Estado são geralmente armadilhas.

Fonte recomendada: Maquiavel, Nicolau. O Príncipe (leitura direta é essencial).

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