— Imagina o seguinte. Se um homem descesse de novo
para o seu antigo posto, não teria os olhos cheios de trevas, ao
regressar subitamente da luz do Sol? E se lhe fosse necessário
julgar daquelas sombras em competição com os que tinham
estado sempre prisioneiros acaso não causaria o riso, e não
diriam dele que por ter subido ao mundo superior, estragara a
vista, e que não valia a pena tentar a ascensão? E a quem tentasse soltá-los e conduzi-los até cima, se pudessem agarrá-lo e
matá-lo, não o matariam?
(Platão. A república, 1993. Adaptado.)
O texto, uma passagem da “Alegoria da Caverna”, pode estar
se referindo, implicitamente, ao julgamento e execução de
Sócrates na cidade de Atenas. A passagem descreve o retorno à caverna do homem que, liberto, conheceu a verdadeira
realidade. Esse homem representa, metaforicamente, o filósofo na pólis como um indivíduo
Gabarito comentado
Alternativa correta: C
Tema central: A passagem da Alegoria da Caverna (Platão, A República, Livro VII) descreve o filósofo que, após alcançar o conhecimento verdadeiro (a luz do Sol), volta à pólis e é mal recebido — ridicularizado, incomodando os demais e até correndo risco de morte. O enunciado relaciona isso ao julgamento de Sócrates (Atenas, 399 a.C.), contexto histórico que ajuda a interpretar o simbolismo.
Resumo teórico: Na alegoria: a subida representa o processo de conhecimento; a luz do Sol é a verdade/ideia do Bem; o retorno à caverna mostra o filósofo que tenta ensinar, mas é incompreendido e hostilizado. Platão usa isso para mostrar a dificuldade social da tarefa filosófica e a resistência das opiniões correntes.
Justificativa da alternativa C: A opção C — incômodo socialmente, orientado por conhecimentos arduamente adquiridos — condiz diretamente com o sentido da alegoria: o ex-liberto traz um saber difícil e radical que perturba os prisioneiros. O texto fala de riso, perda de visão aos olhos dos outros e até homicídio contra quem tenta libertá‑los, indicando hostilidade social perante o filósofo. Logo, C sintetiza corretamente esse papel perturbador e laborioso do conhecimento.
Análise das alternativas incorretas:
A: "Magnânimo, interessado na justa solução de rivalidades" — exagera a função conciliadora; a alegoria enfatiza conflito e rejeição, não a mediação política.
B: "Orgulhoso, voltado para a exposição pública" — o filósofo da alegoria não é apresentado como exibicionista; seu problema é o efeito perturbador do saber, não vaidade.
D: "Inativo economicamente, dedicado à contemplação religiosa" — leitura equivocada: a alegoria trata de conhecimento racional/ontológico, não de retiro religioso ou inatividade econômica.
E: "Sábio, preparando futuros líderes da democracia" — embora Platão desenvolva a ideia de filósofos-reis noutra parte, ele é crítico da democracia; a alegoria foca na rejeição social, não numa missão pedagógica para líderes democráticos.
Dica de interpretação (estratégia): Procure palavras-chave no enunciado que indiquem tom (p. ex. "riso", "matariam", "estragara a vista") — elas sinalizam conflito social. Confronte essas pistas com o conceito platônico (Alegoria da Caverna, Livro VII) e com o contexto histórico (julgamento de Sócrates) para eliminar alternativas que romantizam ou distorcem o papel do filósofo.
Fontes recomendadas: Platão, A República (Livro VII, Alegoria da Caverna); estudos introdutórios sobre Sócrates e a Atenas do século V a.C. (manuais de história da filosofia).
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