O florentino Nicolau Maquiavel é considerado
pela maioria dos historiadores da política como o
primeiro grande pensador moderno a romper com a
visão aristotélica sobre o sentido da vida política. Se
para o filósofo grego o exercício da vida na polis
representava a consumação da natureza racional do
homem e a manifestação maior da sua excelência e
do bem, Maquiavel, nas palavras de Pierre Manent:
“foi o primeiro dos mestres da suspeita... o primeiro a
trazer a suspeita para o ponto estratégico da vida dos
homens: seu convívio, sua vida política. Se
empenhou, Maquiavel, em nos convencer do caráter
central ou substancial do mal na coisa pública”.
MANENT, Pierre. História intelectual do liberalismo: dez
lições. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1990.
P. 28-29/ adaptado.
A partir da leitura do trecho acima e levando em
consideração o surgimento do pensamento político
moderno, em Maquiavel, analise as seguintes
proposições:
I. O pensamento político de Maquiavel foi
inovador em relação ao pensamento clássico,
por considerar que não há um “bem” absoluto
em contraposição a um “mal” a ser
combatido. Em certas situações, o “bem”
advém e é mantido pelo “mal”.
II. Maquiavel e praticamente todos os filósofos
da modernidade negavam a existência do
bem comum. Uma característica marcante na
concepção de política moderna era a de que a
conquista e o exercício do poder político era o
principal elemento a considerar.
III. Muito influenciado pelas disputas políticas de
seu tempo, Maquiavel baseou-se na
experiência concreta da coisa pública. Ao
contrário dos antigos que viam a política
como a realização do fim último da cidadania,
ele procurou descrever o processo político de
seu tempo.
É correto o que se afirma em
Gabarito comentado
Resposta correta: A — I e III apenas.
Tema central: a transição do pensamento político clássico (Aristóteles) para o moderno (Maquiavel). É preciso entender a mudança de foco: da política como realização ética e teleológica da vida humana para a análise empírica do poder e dos meios políticos.
Resumo teórico: Maquiavel (O Príncipe; Discursos) rompe com a visão aristotélica ao dissociar moral individual da eficácia política. Ele descreve como os agentes políticos agem de fato (virtù, fortuna) e admite que atos considerados “más” podem produzir estabilidade e bem público. Diferente dos antigos, sua preocupação é descritiva e estratégica, não teleológica.
Por que I é correta: afirma que Maquiavel não sustenta um “bem” absoluto separado do “mal”. Isso condiz com a ideia de que fins políticos (manter o Estado, ordem) às vezes exigem meios moralmente questionáveis — interpretação clássica de O Príncipe.
Por que III é correta: Maquiavel baseou-se em experiências concretas e análise histórica das repúblicas e principados italianos; descreveu processos reais em vez de idealizar a política como consumação da excelência humana (contraste com Aristóteles, Política).
Por que II é incorreta: é uma generalização equivocada. Nem “praticamente todos” os modernos negaram o bem comum. Autores modernos (por exemplo, Locke, Rousseau) reconfiguraram, mas não aboliram a ideia de bem comum. Além disso, reduzir a política apenas à conquista/exercício do poder ignora dimensões normativas presentes em parte da tradição moderna.
Dica de prova: desconfie de superlativos como “praticamente todos”; compare termos-chave do enunciado com obras básicas (Maquiavel — O Príncipe/Discursos; Aristóteles — Política). Procure se a afirmação descreve uma mudança de método (descritiva vs. teleológica) — isso resolve muitas questões sobre Maquiavel.
Fontes recomendadas: Maquiavel, O Príncipe; Discursos. Aristóteles, Política. Manent, Pierre — História intelectual do liberalismo.
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