Questão cc94b211-9c
Prova:
Disciplina:
Assunto:
“Somos amantes da beleza sem extravagâncias
e amantes da filosofia sem indolência. Usamos a
riqueza mais como uma oportunidade para agir que
como um motivo de vanglória; entre nós não há
vergonha na pobreza, mas a maior vergonha é não
fazer o possível para evitá-la. Ver-se-á em uma
mesma pessoa ao mesmo tempo o interesse em
atividades privadas e públicas, e em outros entre nós
que dão atenção principalmente aos negócios não se
verá falta de discernimento em assuntos políticos,
pois olhamos o homem alheio às atividades públicas
não como alguém que cuida apenas de seus próprios
interesses, mas como um inútil; nós, cidadãos atenienses, decidimos as questões públicas por nós
mesmos, ou pelo menos nos esforçamos por
compreendê-las claramente, na crença de que não é o
debate que é empecilho à ação, e sim o fato de não
se estar esclarecido pelo debate antes de chegar a
hora da ação”.
TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso, Livro II, 40.
Trad. de Mario da Gama Kury. Brasília, DF: Editora da
Universidade de Brasília, 2001.
Considerando as teses sobre o surgimento da filosofia
na Grécia, essa passagem do famoso discurso do
legislador ateniense Péricles, no segundo ano da
Guerra do Peloponeso, apresenta elementos que nos
remetem à tese de
“Somos amantes da beleza sem extravagâncias
e amantes da filosofia sem indolência. Usamos a
riqueza mais como uma oportunidade para agir que
como um motivo de vanglória; entre nós não há
vergonha na pobreza, mas a maior vergonha é não
fazer o possível para evitá-la. Ver-se-á em uma
mesma pessoa ao mesmo tempo o interesse em
atividades privadas e públicas, e em outros entre nós
que dão atenção principalmente aos negócios não se
verá falta de discernimento em assuntos políticos,
pois olhamos o homem alheio às atividades públicas
não como alguém que cuida apenas de seus próprios
interesses, mas como um inútil; nós, cidadãos atenienses, decidimos as questões públicas por nós
mesmos, ou pelo menos nos esforçamos por
compreendê-las claramente, na crença de que não é o
debate que é empecilho à ação, e sim o fato de não
se estar esclarecido pelo debate antes de chegar a
hora da ação”.
TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso, Livro II, 40.
Trad. de Mario da Gama Kury. Brasília, DF: Editora da
Universidade de Brasília, 2001.
Considerando as teses sobre o surgimento da filosofia
na Grécia, essa passagem do famoso discurso do
legislador ateniense Péricles, no segundo ano da
Guerra do Peloponeso, apresenta elementos que nos
remetem à tese de
A
John Burnet (1863-1928), para quem a filosofia
nasce em completa ruptura com o pensamento
tradicional grego, pois teria surgido nas novas
cidades gregas na Costa da Ásia Menor – a Jônia.
B
Jean-Pierre Vernant (1914-2007), que defende a
relação entre o debate público, os discursos
argumentativos na pólis grega e a elaboração da
linguagem argumentativa na filosofia.
C
Francis Cornford (1874-1943), de que há uma
continuidade entre as representações religiosas
tradicionais, transmitidas pela poesia grega e
pelos rituais, e a primeira filosofia grega, na
Jônia.
D
Rodolfo Mondolfo (1877-1976), que situa
exclusivamente no ato psíquico-intelectual da
maravilha, no sentido do espanto, a causa e o
início da filosofia como investigação sobre os
fenômenos da natureza.
Gabarito comentado
Athos VieiraHistoriador, Mestre em Ciência Política pelo IESP/UERJ e Doutorando em Ciência Política pelo IESP/UERJ
O que Péricles está louvando é a capacidade do povo ateniense em se esclarecer sobre os assuntos que devem ser decididos. Ainda que possa levar um pouco mais de tempo, os atenienses, reunidos em público e exercitando suas capacidades racionais de encontrimento e compreensão, se esclarecem antes da ação. Essa atitude remete à importância do debate público para o desenvolvimento argumentativo e das ideias, como defendia Jean Pierre Vernant. Vernant se opunha à escola explicativa que seguia os passos de John Burnet, pois este considerava a ruptura com o pensamento religioso o marco de nascimento da filosofia. Cornford já havia criticado tal premissa considerando que a sobrevivênvia de mitos e outras estruturas de pensamento do mundo religioso se mantiveram através da arte e da própria filosofia. A proposta de Rodolfo Mondolfo nada tem a ver com o trecho citado.
A resposta é letra B.
A resposta é letra B.