Questão c7d9a0f8-bb
Prova:
Disciplina:
Assunto:
William James Herschel, coletor do governo inglês, iniciou na Índia seus estudos sobre as impressões digitais ao tomar as impressões digitais dos nativos nos contratos que firmavam com o governo. Essas impressões serviam de assinatura. Aplicou-as, então, aos registros de falecimentos e usou esse processo nas prisões inglesas, na Índia, para reconhecimento dos fugitivos. Henry Faulds, outro inglês, médico de hospital em Tóquio, contribuiu para o estudo da datiloscopia. Examinando impressões digitais em peças de cerâmica pré-histórica japonesa, previu a possibilidade de se descobrir um criminoso pela identificação das linhas papilares e preconizou uma técnica para a tomada de impressões digitais, utilizando-se de uma placa de estanho e de tinta de imprensa.
Que tipo de relação orientava os esforços que levaram à descoberta das impressões digitais pelos ingleses e, posteriormente, à sua utilização nos dois países asiáticos?
William James Herschel, coletor do governo inglês, iniciou na Índia seus estudos sobre as impressões digitais ao tomar as impressões digitais dos nativos nos contratos que firmavam com o governo. Essas impressões serviam de assinatura. Aplicou-as, então, aos registros de falecimentos e usou esse processo nas prisões inglesas, na Índia, para reconhecimento dos fugitivos. Henry Faulds, outro inglês, médico de hospital em Tóquio, contribuiu para o estudo da datiloscopia. Examinando impressões digitais em peças de cerâmica pré-histórica japonesa, previu a possibilidade de se descobrir um criminoso pela identificação das linhas papilares e preconizou uma técnica para a tomada de impressões digitais, utilizando-se de uma placa de estanho e de tinta de imprensa.
Que tipo de relação orientava os esforços que levaram à descoberta das impressões digitais pelos ingleses e, posteriormente, à sua utilização nos dois países asiáticos?
Que tipo de relação orientava os esforços que levaram à descoberta das impressões digitais pelos ingleses e, posteriormente, à sua utilização nos dois países asiáticos?
A
De fraternidade, já que ambos visavam aos mesmos fins, ou seja, autenticar contratos.
B
De dominação, já que os nativos puderam identificar os ingleses falecidos com mais facilidade.
C
De controle cultural, já que Faulds usou a técnica para libertar os detidos nas prisões japonesas.
D
De colonizador-colonizado, já que, na Índia, a invenção foi usada em favor dos interesses da coroa inglesa.
E
De médico-paciente, já que Faulds trabalhava em um hospital de Tóquio.
Gabarito comentado
M
Michel MelloMestre em Filosofia (PUC-Rio), Mestre e Doutor em Filosofia (Universidade de Basel / Suiça)
Trata-se de mais uma questão multidisciplinar: História e Filosofia. Aqui vamos tentar entendê-la pelo matiz da filosofia da cultura, ou seja, em que medida as relações de poder são dadas e de que modo as formas de saber exercem uma forma de poder.
Diversos autores trabalharam essa relação, citamos aqui dois: Michel Foucault e Max Scheler. Em linhas gerais, podemos dizer que aqueles que detêm formas mais eficazes de saber e/ou conhecimento técnico determinam as formas como o poder é determinado. Se observarmos as diferentes realidades sociais, inclusive e sobretudo no Brasil, vemos que quem possui determinado tipo de conhecimento tem mais poder efetivo sobre outros, como exemplo, um professor exerce um poder, inclusive punitivo, sobre seus alunos devido a um suposto saber maior; outro fato interessante é considerar que o que é chamado de elite dominante muitas vezes é marcada por um conjunto de trabalhadores liberais bem-sucedidos ou aristocratas que determinam o funcionamento de determinado seguimento da sociedade. Esses indivíduos que governam possuem um conhecimento que lhes permite exercerem alguma forma de poder sobre aqueles que não têm determinado conhecimento ou técnica. Ora, a classe que detém conhecimento é aquela que permanece no poder pelo simples fato de que para se obter determinado conhecimento é necessário ter tempo livre para estudar, e esse tempo vem de uma reserva de capital que é transmitida pela família. Assim, o herdeiro de uma classe dominante acaba prosseguindo os ditames vigentes porque teve tempo para estudar e obter conhecimento, esse tempo foi dado porque sua família possuía recursos. Assim, se perpetua uma forma de saber ligado a um exercício do poder. Ao contrário, a classe dominada, assim vamos chamar, não tem acesso diretamente ou de modo fácil à estrutura de exercício do poder porque não tem conhecimento eficaz, e ainda, seus filhos não poderão exercê-lo pelo simples fato de não poderem estudar, tendo que trabalhar para ajudar na subsistência da família. Essa estrutura, mais ou menos rígida de acordo com época histórica, tem suas origens na antiguidade, na qual a antiga aristocracia tinha terra e tempo para se preparar para guerra através de um preparo formal, como os tutores ou rapsodos privados, e os servos e/ou escravos, bem como trabalhadores livres, tinham que trabalhar, muitas vezes levando sua prole, e assim, não tinham tempo nem dinheiro para instrução.
No texto vemos essa estrutura de saber que gera o poder novamente. Os ingleses ao colonizarem ou dominarem a Índia exercem um controle sobre os habitantes e essa forma de poder se concretiza através de uma técnica precisa: a datiloscopia.
Assim, podemos afirmar que
A alternativa (a) está errada, uma vez que a ideia de fraternidade (ou seja, todos irmãos, do latim frater, irmão) é aqui um eufemismo para disfarçar um relação desigual: quem manda e tem conhecimento sobre a técnica que auxilia a dominação (os ingleses) e os que obedecem (indianos).
A alternativa (b) está errada, embora seja uma relação de dominação, não foram os indianos que dominavam a datiloscopia, mas os ingleses.
A alternativa (c) está errada, embora seja uma forma de controle cultural através de conhecimento, no texto nada afirma que Faulds libertou detentos de prisões japonesas com a técnica citada, ao contrário, desenvolveu um método de investigação criminal a partir do estudo de impressões digitais em cerâmicas antigas.
A alternativa (d) está correta, tanto porque o termo colonizador-colonizado implica numa relação de poder como também está claro que tal técnica foi usada como meio de exercício de poder pela coroa inglesa.
A alternativa (e) está errada, ainda que possamos inferir que a relação médico-paciente seja uma relação de dominação pelo conhecimento que o médico exerce, nada indica no texto que Faulds exercia essa forma de dominação na arte médica em Tóquio.
Diversos autores trabalharam essa relação, citamos aqui dois: Michel Foucault e Max Scheler. Em linhas gerais, podemos dizer que aqueles que detêm formas mais eficazes de saber e/ou conhecimento técnico determinam as formas como o poder é determinado. Se observarmos as diferentes realidades sociais, inclusive e sobretudo no Brasil, vemos que quem possui determinado tipo de conhecimento tem mais poder efetivo sobre outros, como exemplo, um professor exerce um poder, inclusive punitivo, sobre seus alunos devido a um suposto saber maior; outro fato interessante é considerar que o que é chamado de elite dominante muitas vezes é marcada por um conjunto de trabalhadores liberais bem-sucedidos ou aristocratas que determinam o funcionamento de determinado seguimento da sociedade. Esses indivíduos que governam possuem um conhecimento que lhes permite exercerem alguma forma de poder sobre aqueles que não têm determinado conhecimento ou técnica. Ora, a classe que detém conhecimento é aquela que permanece no poder pelo simples fato de que para se obter determinado conhecimento é necessário ter tempo livre para estudar, e esse tempo vem de uma reserva de capital que é transmitida pela família. Assim, o herdeiro de uma classe dominante acaba prosseguindo os ditames vigentes porque teve tempo para estudar e obter conhecimento, esse tempo foi dado porque sua família possuía recursos. Assim, se perpetua uma forma de saber ligado a um exercício do poder. Ao contrário, a classe dominada, assim vamos chamar, não tem acesso diretamente ou de modo fácil à estrutura de exercício do poder porque não tem conhecimento eficaz, e ainda, seus filhos não poderão exercê-lo pelo simples fato de não poderem estudar, tendo que trabalhar para ajudar na subsistência da família. Essa estrutura, mais ou menos rígida de acordo com época histórica, tem suas origens na antiguidade, na qual a antiga aristocracia tinha terra e tempo para se preparar para guerra através de um preparo formal, como os tutores ou rapsodos privados, e os servos e/ou escravos, bem como trabalhadores livres, tinham que trabalhar, muitas vezes levando sua prole, e assim, não tinham tempo nem dinheiro para instrução.
No texto vemos essa estrutura de saber que gera o poder novamente. Os ingleses ao colonizarem ou dominarem a Índia exercem um controle sobre os habitantes e essa forma de poder se concretiza através de uma técnica precisa: a datiloscopia.
Assim, podemos afirmar que
A alternativa (a) está errada, uma vez que a ideia de fraternidade (ou seja, todos irmãos, do latim frater, irmão) é aqui um eufemismo para disfarçar um relação desigual: quem manda e tem conhecimento sobre a técnica que auxilia a dominação (os ingleses) e os que obedecem (indianos).
A alternativa (b) está errada, embora seja uma relação de dominação, não foram os indianos que dominavam a datiloscopia, mas os ingleses.
A alternativa (c) está errada, embora seja uma forma de controle cultural através de conhecimento, no texto nada afirma que Faulds libertou detentos de prisões japonesas com a técnica citada, ao contrário, desenvolveu um método de investigação criminal a partir do estudo de impressões digitais em cerâmicas antigas.
A alternativa (d) está correta, tanto porque o termo colonizador-colonizado implica numa relação de poder como também está claro que tal técnica foi usada como meio de exercício de poder pela coroa inglesa.
A alternativa (e) está errada, ainda que possamos inferir que a relação médico-paciente seja uma relação de dominação pelo conhecimento que o médico exerce, nada indica no texto que Faulds exercia essa forma de dominação na arte médica em Tóquio.