Em “O sistema de C&T brasileiro foi forjado lentamente durante décadas com forte presença do Estado”, a palavra sublinhada:
A asfixia da Ciência e Tecnologia brasileira
Nos últimos dois anos o sistema brasileiro de ciência e tecnologia
(C&T) tem sofrido ataques constantes. Um dos mais fortes foi, sem dúvida,
a aprovação do projeto de emenda constitucional (PEC 241/55) que limita
os gastos do governo para os próximos anos. Segundo economistas mais
críticos, tal medida não trata de uma agenda de crescimento, mas de um
projeto de longo prazo de desmonte do Estado de bem-estar social brasileiro.
As reduções orçamentárias para atuação tanto do Ministério da Educação (MEC) como do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTIC) podem
ter efeitos de longo prazo desastrosos, ajudando a ampliar o hiato entre a
nossa produção científica e a fronteira mundial. Justamente o contrário do
que tem sido feito na China nos últimos anos. Enquanto em Terra Brasilis
há cortes em C&T, a China investe pesadamente em atividades científicas
e consegue dar saltos fantásticos, obviamente com ativa atuação do governo central.
O sistema de C&T brasileiro foi forjado lentamente durante décadas
com forte presença do Estado. Nos anos 1950 foram criados o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e na
década seguinte a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), cada qual
com sua missão. Tais órgãos ajudaram a dar as disposições institucionais
do sistema brasileiro de C&T contemporâneo. Sistema este que apresenta
sim muitas lacunas que dificultam a geração de sinergias e a ampliação
das oportunidades inovativas domésticas, porém nenhum especialista em
sã consciência recomendaria seu desmonte [...].
No bojo das ações referentes aos cortes gigantescos no orçamento
de C&T, no início de agosto, o comunicado da Capes sobre a possível interrupção do pagamento das bolsas de pesquisa, a partir de 2019, causou
estremecimento na comunidade científica brasileira. Apesar disso, o que
presenciamos tem sido pouco ou nenhum posicionamento da mídia tradicional, a qual, pelo contrário, tem atacado sobremaneira a comunidade
científica brasileira.
[...] Sabemos que não há “receita” para a superação do subdesenvolvimento, porém, a experiência histórica das estratégias desenvolvimentistas
de muitas nações desde a primeira revolução industrial mostra que a C&T
importa. Aliás, não só importa, mas é essencial para a ruptura do atraso.
As conquistas científicas empurram a fronteira do conhecimento e ajudam
a prover respostas e soluções para os desafios impostos pela sociedade,
sejam estes econômicos, relacionados à saúde, bem-estar da população
e ao meio-ambiente. A superação do subdesenvolvimento de diferentes
nações demandou, portanto, investimentos pesados, sobretudos públicos,
em pesquisa científica e tecnológica.
Infelizmente, em Terra Brasilis, fala-se de C&T como algo secundário…
Algo que pode ser facilmente substituído pela aquisição de máquinas,
equipamentos e conhecimentos produzidos e enlatados no exterior.
(VIEIRA, Karina Pereira e CHIARINI, Tulio. A asfixia da Ciência e Tecnologia brasileira.
Publicado em 10 ago. 2018. Disponível em: https://diplomatique.org.br/
a-asfixia-da-ciencia-e-tecnologia-brasileira/. Acesso em: 19 ago. 2018.)
A asfixia da Ciência e Tecnologia brasileira
Nos últimos dois anos o sistema brasileiro de ciência e tecnologia (C&T) tem sofrido ataques constantes. Um dos mais fortes foi, sem dúvida, a aprovação do projeto de emenda constitucional (PEC 241/55) que limita os gastos do governo para os próximos anos. Segundo economistas mais críticos, tal medida não trata de uma agenda de crescimento, mas de um projeto de longo prazo de desmonte do Estado de bem-estar social brasileiro.
As reduções orçamentárias para atuação tanto do Ministério da Educação (MEC) como do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTIC) podem ter efeitos de longo prazo desastrosos, ajudando a ampliar o hiato entre a nossa produção científica e a fronteira mundial. Justamente o contrário do que tem sido feito na China nos últimos anos. Enquanto em Terra Brasilis há cortes em C&T, a China investe pesadamente em atividades científicas e consegue dar saltos fantásticos, obviamente com ativa atuação do governo central.
O sistema de C&T brasileiro foi forjado lentamente durante décadas com forte presença do Estado. Nos anos 1950 foram criados o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e na década seguinte a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), cada qual com sua missão. Tais órgãos ajudaram a dar as disposições institucionais do sistema brasileiro de C&T contemporâneo. Sistema este que apresenta sim muitas lacunas que dificultam a geração de sinergias e a ampliação das oportunidades inovativas domésticas, porém nenhum especialista em sã consciência recomendaria seu desmonte [...].
No bojo das ações referentes aos cortes gigantescos no orçamento de C&T, no início de agosto, o comunicado da Capes sobre a possível interrupção do pagamento das bolsas de pesquisa, a partir de 2019, causou estremecimento na comunidade científica brasileira. Apesar disso, o que presenciamos tem sido pouco ou nenhum posicionamento da mídia tradicional, a qual, pelo contrário, tem atacado sobremaneira a comunidade científica brasileira.
[...] Sabemos que não há “receita” para a superação do subdesenvolvimento, porém, a experiência histórica das estratégias desenvolvimentistas de muitas nações desde a primeira revolução industrial mostra que a C&T importa. Aliás, não só importa, mas é essencial para a ruptura do atraso. As conquistas científicas empurram a fronteira do conhecimento e ajudam a prover respostas e soluções para os desafios impostos pela sociedade, sejam estes econômicos, relacionados à saúde, bem-estar da população e ao meio-ambiente. A superação do subdesenvolvimento de diferentes nações demandou, portanto, investimentos pesados, sobretudos públicos, em pesquisa científica e tecnológica. Infelizmente, em Terra Brasilis, fala-se de C&T como algo secundário…
Algo que pode ser facilmente substituído pela aquisição de máquinas, equipamentos e conhecimentos produzidos e enlatados no exterior.
(VIEIRA, Karina Pereira e CHIARINI, Tulio. A asfixia da Ciência e Tecnologia brasileira.
Publicado em 10 ago. 2018. Disponível em: https://diplomatique.org.br/
a-asfixia-da-ciencia-e-tecnologia-brasileira/. Acesso em: 19 ago. 2018.)
Gabarito comentado
Tema central da questão: Semântica e Interpretação de Texto. A questão exige identificar o sentido da palavra “forjado” no contexto do texto analisado, compreendendo sua carga semântica e as possibilidades de leitura no trecho citado.
Justificativa da alternativa correta (B):
No contexto dado, a palavra “forjado” apresenta um sentido figurado, ou seja, conotativo. De acordo com o texto:
“O sistema de C&T brasileiro foi forjado lentamente durante décadas com forte presença do Estado.”
Aqui, o termo remete tanto à ideia de “fabricado”, ou seja, moldado/construído ao longo dos anos, quanto ao sentido de “inventado”, no sentido de planejado, idealizado. Segundo gramáticas de referência, como Evanildo Bechara e Celso Cunha & Lindley Cintra, é comum o uso de termos técnicos com dupla interpretação, dependendo do contexto (ou seja, polissêmicos). Por isso, a alternativa B está correta ao afirmar que há dupla leitura no emprego da palavra: fabricado e inventado.
Análise das alternativas incorretas:
A) Errada. Não há traço de ironia no trecho. O texto valoriza a construção histórica do sistema de C&T, não valoriza sua fragilidade.
C) Errada. A expressão na voz passiva tem caráter histórico, não “vitimista”, e não há crítica à insensibilidade da área diante da economia.
D) Errada. “Forjado” não está no sentido denotativo (literal, como forjar metal), mas sim no sentido conotativo — o que afasta essa alternativa.
E) Errada. O emprego do termo não restringe a explicação quanto à “recente” construção, pois remete ao processo de décadas, desde os anos 1950, abrangendo todo o desenvolvimento do sistema.
Estratégia para resolver questões assim:
Em provas, ao analisar palavras de múltiplos significados, busque sempre o contexto imediato e global do texto. Lembre-se de que sentidos conotativos geralmente ampliam a compreensão e permitem interpretações mais ricas, indo além do literal.
Resumo: A palavra “forjado” foi empregada para indicar tanto a construção quanto a idealização do sistema, refletindo dupla leitura (fabricado/inventado).
Alternativa correta: B.
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