Questão c021a15b-fd
Prova:ENCCEJA 2018
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Variação Linguística, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O registro de palavras do texto demarca a identidade do povo sertanejo. Nesse contexto, as variações linguísticas utilizadas são frutos de fatores sociais que podem desencadear preconceito, como é evidenciado nos versos:

    Amigo, não tenha quêxa,           

 Veja que eu tenho razão         

Em lhe dizê que não mêxa    

Nas coisa do meu sertão.      

Pois, se não sabe o colega   

De quá manêra se pega       

Num ferro pra trabaiá,          

Por favô, não mêxa aqui,     

   Que eu também não mêxo aí, 

Cante lá que eu canto cá.    


Repare que a minha vida     

É deferente da sua.             

A sua rima pulida                 

Nasceu no salão da rua.       

 Já eu sou bem deferente,      

Meu verso é como a simente

  Que nasce inriba do chão;      

Não tenho estudo nem arte, 

  A minha rima faz parte           

Das obra da criação.             

PATATIVA DO ASSARÉ. Cante lá que eu canto cá. Petrópolis: Vozes, 1992 (fragmento).

A
“Já eu sou bem deferente,/ Meu verso é como a simente / Que nasce inriba do chão”.
B
“Amigo, não tenha quêxa,/ Veja que eu tenho razão/ Em lhe dizê que não mêxa / Nas coisa do meu sertão”.
C
“Não tenho estudo nem arte,/ A minha rima faz parte/ Das obra da criação”.
D
“Por favô, não mêxa aqui,/ Que eu também não mêxo aí,/ Cante lá que eu canto cá ”.

Gabarito comentado

G
Geraldo Bastos Monitor do Qconcursos

Tema central da questão: Variação Linguística e preconceito linguístico, especialmente relacionado à concordância nominal — quando artigos, adjetivos e substantivos devem apresentar harmonia entre si, conforme a norma padrão. Entender variações é essencial para não confundir erros gramaticais com marcas de identidade cultural do povo, como no texto sertanejo de Patativa do Assaré.

Justificativa para a alternativa correta (C):

A alternativa C (“Das obra da criação”) apresenta um claro exemplo de desvio de concordância nominal. Pela norma padrão (de acordo com Bechara e Cunha & Cintra), o correto seria “das obras da criação”, pois o artigo plural “das” exige um substantivo também no plural. Esse tipo de diferença ocorre em algumas comunidades, sendo marca de oralidade e variação sintática, mas frequentemente acaba gerando preconceito linguístico, citado por Marcos Bagno em “Preconceito Linguístico: o que é, como se faz”.

Estar atento: Essa construção (‘das obra’) serve como exemplo da influência de fatores sociais na fala: pessoas com menos acesso ao ensino formal tendem a reproduzir formas distantes da norma culta, sendo alvo de julgamento injusto. O segredo na prova é reconhecer quando o desvio é natural e faz parte da cultura.

Análise das alternativas incorretas:

  • A) “deferente”, “simente”, “inriba” são variações fonéticas/ortográficas, não envolvem diretamente erro de concordância.
  • B) Variações como “quexa”, “dizê”, “mêxa”, “coisa”: alteram pronúncia/escrita, mas mantêm o nexo entre artigo e substantivo.
  • D) “favô”, “mêxa”, “mêxo”: apenas variação de pronúncia, não de concordância nominal.

Estratégia para a prova: Quando a questão citar preconceito linguístico ou estrutura da língua, observe onde a estrutura da frase muda pela regra gramatical, principalmente plural, concordância e regência — isso é mais criticado socialmente e costuma ser foco das bancas.

Resumo: O essencial nesta questão foi identificar que só a alternativa C apresenta desvio na concordância nominal, fenômeno muito visado para ilustrar preconceito linguístico.

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