O registro de palavras do texto demarca a identidade do povo sertanejo. Nesse contexto,
as variações linguísticas utilizadas são frutos de fatores sociais que podem desencadear
preconceito, como é evidenciado nos versos:
Amigo, não tenha quêxa,
Veja que eu tenho razão
Em lhe dizê que não mêxa
Nas coisa do meu sertão.
Pois, se não sabe o colega
De quá manêra se pega
Num ferro pra trabaiá,
Por favô, não mêxa aqui,
Que eu também não mêxo aí,
Cante lá que eu canto cá.
Repare que a minha vida
É deferente da sua.
A sua rima pulida
Nasceu no salão da rua.
Já eu sou bem deferente,
Meu verso é como a simente
Que nasce inriba do chão;
Não tenho estudo nem arte,
A minha rima faz parte
Das obra da criação.
PATATIVA DO ASSARÉ. Cante lá que eu canto cá. Petrópolis: Vozes, 1992 (fragmento).
Amigo, não tenha quêxa,
Veja que eu tenho razão
Em lhe dizê que não mêxa
Nas coisa do meu sertão.
Pois, se não sabe o colega
De quá manêra se pega
Num ferro pra trabaiá,
Por favô, não mêxa aqui,
Que eu também não mêxo aí,
Cante lá que eu canto cá.
Repare que a minha vida
É deferente da sua.
A sua rima pulida
Nasceu no salão da rua.
Já eu sou bem deferente,
Meu verso é como a simente
Que nasce inriba do chão;
Não tenho estudo nem arte,
A minha rima faz parte
Das obra da criação.
PATATIVA DO ASSARÉ. Cante lá que eu canto cá. Petrópolis: Vozes, 1992 (fragmento).
Gabarito comentado
Tema central da questão: Variação Linguística e preconceito linguístico, especialmente relacionado à concordância nominal — quando artigos, adjetivos e substantivos devem apresentar harmonia entre si, conforme a norma padrão. Entender variações é essencial para não confundir erros gramaticais com marcas de identidade cultural do povo, como no texto sertanejo de Patativa do Assaré.
Justificativa para a alternativa correta (C):
A alternativa C (“Das obra da criação”) apresenta um claro exemplo de desvio de concordância nominal. Pela norma padrão (de acordo com Bechara e Cunha & Cintra), o correto seria “das obras da criação”, pois o artigo plural “das” exige um substantivo também no plural. Esse tipo de diferença ocorre em algumas comunidades, sendo marca de oralidade e variação sintática, mas frequentemente acaba gerando preconceito linguístico, citado por Marcos Bagno em “Preconceito Linguístico: o que é, como se faz”.
Estar atento: Essa construção (‘das obra’) serve como exemplo da influência de fatores sociais na fala: pessoas com menos acesso ao ensino formal tendem a reproduzir formas distantes da norma culta, sendo alvo de julgamento injusto. O segredo na prova é reconhecer quando o desvio é natural e faz parte da cultura.
Análise das alternativas incorretas:
- A) “deferente”, “simente”, “inriba” são variações fonéticas/ortográficas, não envolvem diretamente erro de concordância.
- B) Variações como “quexa”, “dizê”, “mêxa”, “coisa”: alteram pronúncia/escrita, mas mantêm o nexo entre artigo e substantivo.
- D) “favô”, “mêxa”, “mêxo”: apenas variação de pronúncia, não de concordância nominal.
Estratégia para a prova: Quando a questão citar preconceito linguístico ou estrutura da língua, observe onde a estrutura da frase muda pela regra gramatical, principalmente plural, concordância e regência — isso é mais criticado socialmente e costuma ser foco das bancas.
Resumo: O essencial nesta questão foi identificar que só a alternativa C apresenta desvio na concordância nominal, fenômeno muito visado para ilustrar preconceito linguístico.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!






