Os egípcios viam a criação do mundo como uma espécie
de ilha de ordem cercada pelas forças do caos, que a ameaçavam constantemente de aniquilação, da mesma forma
como o Delta e o Vale férteis e organizados estavam cercados pelos desertos hostis e anárquicos.
(Ciro F. S. Cardoso. O Egito Antigo, 1982. Adaptado.)
O texto ajuda compreender o motivo de, no Egito Antigo, as
práticas religiosas
Gabarito comentado
Resposta correta: D
Tema central: a questão trata da função social e cultural da religião no Egito Antigo — como a cosmologia (Ma'at versus caos) e a dependência da inundação do Nilo tornavam as práticas religiosas presentes em toda a vida pública e privada.
Resumo teórico (essencial): no pensamento egípcio a ordem (Ma'at) era frágil e precisava ser renovada por rituais e práticas constantes. Isso vinculava a religião a fenômenos naturais (inundação, colheita), ao poder real (o faraó como mediador) e à vida doméstica (ofertas, amuletos, cultos de divindades protetoras). A religião não era apenas doutrina abstrata, mas prática cotidiana (ver Jan Assmann, The Mind of Egypt; Ian Shaw, The Oxford History of Ancient Egypt).
Justificativa da alternativa D: afirmar que a religião "penetra todos os aspectos da vida pública e privada" resume corretamente a realidade egípcia: havia cerimônias oficiais para garantir a inundação (culto a Hapi, rituais reais), festivais públicos e rituais domésticos (ofertas familiares, amuletos, orações), além de práticas vinculadas à fertilidade e à colheita. Assim, a religião funcionava como mecanismo de manutenção da ordem cósmica e social — princípio central do texto de apoio.
Análise das alternativas incorretas:
A — incorreta: contraria evidências; a religião era muito conectada ao cotidiano e à natureza, não alheia a eles.
B — incorreta: embora houvesse sacerdócio influente, a alternativa exagera ao caracterizar sacerdotes como censores morais de atitudes privadas (ócio, riqueza, sexo). A religião egípcia priorizava rituais de ordem e justiça, não um código ascético com proibições marcadas como descritas.
C — incorreta: reduz a religião a um artifício de dominação. O faraó tinha estatuto divino, mas a crença era ampla e integrada culturalmente; não se trata de mera ilusão imposta exclusivamente à população pobre.
E — incorreta: há ampla evidência arqueológica e textual de práticas religiosas populares (santuários domésticos, amuletos, textos funerários acessíveis), portanto a religião não se restringia à elite letrada.
Dica prática para provas: ao ver enunciados sobre religião e antigas sociedades, ligue palavras-chave (ordem/caos, inundação, cultos públicos/privados) ao papel social da religião. Desconfie de alternativas que simplifiquem excessivamente (somente elite, ou somente manipulação).
Fontes recomendadas: Jan Assmann, The Mind of Egypt; Ian Shaw, The Oxford History of Ancient Egypt.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!





