O Texto constitui uma ‘exposição’, de natureza
acadêmico-científica. Considerando as especificidades
que deve apresentar um texto desse tipo, podemos
avaliá-lo como adequado, uma vez que:
1) recorre a uma terminologia especializada a fim de
assegurar a clareza e a consistência necessárias
ao entendimento dos conceitos abordados.
2) são indicados os ‘limites’ em que as ideias
propostas são tidas como cabíveis: ‘Na tradição
filosófica ocidental’; ‘Nessa perspectiva’; ‘Do
ponto de vista cronológico’).
3) foge às marcas da oralidade convencional e
prima pelo uso de uma linguagem erudita, apesar
de metafórica e extremamente simbólica.
4) encaminha o leitor, em linguagem decisiva, para
a formulação de conclusões gerais, como ocorreu
no último parágrafo.
5) apresenta uma abordagem aberta, no sentido de
que admite flexibilidade conceitual e faz
avaliações considerando a questão
integralmente.
Estão corretas as alternativas:
Aspectos relevantes para a observação
da relação fala e escrita
1. Na tradição filosófica ocidental, nos acostumamos a
distinguir entre natureza e cultura, atribuindo à cultura tudo
aquilo que não se dá naturalmente. No entanto, hoje, esta
distinção está cada vez mais difícil de ser mantida, como,
de resto, acontece em todas as dicotomias. O certo é que a
cultura é um dado que torna o ser humano especial no
contexto dos seres vivos. Mas, o que o torna ainda mais
especial é o fato de ele dispor de uma linguagem simbólica
articulada que é muito mais do que um sistema de
classificação, pois é também uma prática que permite que
estabeleçamos crenças e pontos de vista diversos ou
coincidentes sobre as mesmas coisas. Daí ser a língua um
ponto de apoio e de emergência de consenso e dissenso,
de harmonia e luta. Não importa se na modalidade escrita
ou falada.
2. Nessa perspectiva, seria útil ter presente que, assim
como a fala não apresenta propriedades intrínsecas
negativas, também a escrita não tem propriedades
intrínsecas privilegiadas. São modos de representação
cognitiva e social que se revelam em práticas específicas.
Postular algum tipo de supremacia ou superioridade de
alguma das duas modalidades seria uma visão equivocada,
pois não se pode afirmar que a fala é superior à escrita ou
vice-versa. Em primeiro lugar, deve-se considerar o aspecto
que se está comparando e, em segundo, deve-se
considerar que esta relação não é homogênea nem
constante.
3. Do ponto de vista cronológico, a fala tem grande
precedência sobre a escrita, mas do ponto de vista do
prestígio social, a escrita é vista como mais prestigiada que
a fala. Não se trata, porém, de algum critério intrínseco nem
de parâmetros linguísticos e sim de postura ideológica. Por
outro lado, há culturas em que a fala é mais prestigiada que
a escrita.
4. Mesmo considerando a enorme e inegável importância
que a escrita tem nos povos e nas civilizações letradas,
continuamos povos orais. A oralidade jamais desaparecerá
e sempre será, ao lado da escrita, o grande meio de
expressão e de atividade comunicativa. A oralidade
enquanto prática social é inerente ao ser humano e não
será substituída por nenhuma tecnologia. Ela será sempre a
porta de nossa iniciação à racionalidade e fator de
identidade social, regional, grupal dos indivíduos.
(Luís Antônio Marcuschi. Da fala para a escrita. São Paulo: Editora
Contexto, 2001, p. 35-36)
Gabarito comentado
Gabarito: A (1, 2, 4 e 5, apenas)
Tema central: Interpretação de textos com avaliação das características de textos acadêmico-científicos.
Essa questão exige reconhecer aspectos formais e estruturais de um texto acadêmico do tipo expositivo, segundo a norma-padrão da Língua Portuguesa. Segundo autores como Celso Cunha & Lindley Cintra e Marcuschi, o texto científico deve priorizar clareza, objetividade, uso de terminologia técnica e evitar posições dogmáticas ou linguagem excessivamente metafórica.
Análise das assertivas:
1) Correta. O texto utiliza vocabulário especializado, como “natureza”, “cultura”, “linguagem simbólica articulada”, mostrando preocupação com consistência conceitual, o que é característico desse gênero textual.
2) Correta. O autor delimita cenários com recortes como “Na tradição filosófica ocidental” e “Do ponto de vista cronológico”. Isso demonstra precisão na contextualização, elemento fundamental para evitar generalizações indevidas, de acordo com Bechara.
3) Incorreta. Apesar de o texto evitar informalidades, ele não adota uma linguagem erudita, excessivamente simbólica ou metafórica. O registro é formal, porém acessível, fiel ao padrão dos textos científicos modernos. Pegadinha: confundir “linguagem clara e padrão culto” com “linguagem erudita e simbólica”.
4) Correta. O texto conduz o leitor a uma conclusão geral fundamentada, com frases como “A oralidade jamais desaparecerá...”, respeitando os critérios de fechamento exigidos na exposição acadêmica.
5) Correta. A exposição é flexível: evita posturas radicais (“não se pode afirmar que a fala é superior à escrita ou vice-versa”) e admite múltiplos pontos de vista, característica valorizada na produção científica.
Estratégia para acertar esse tipo de questão: Foque nas palavras que delimitam ideias (“do ponto de vista...”, “perspectiva”, etc.), examine se há linguagem objetiva ou registros excessivamente subjetivos/ambíguos. Desconfie de alternativas que forcem afirmações absolutas sobre estilo.
Resumo: Os itens 1, 2, 4 e 5 refletem o que se espera de um texto expositivo acadêmico: clareza, precisão, fundamentação lógica e abertura à reflexão. O item 3 foge ao padrão pela sugestão de erudição e metáfora, características evitadas nesse tipo de texto.
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