Quando olhamos em torno de nós na direção dos objetos externos e consideramos a ação das causas, não somos jamais capazes, a partir de um único caso, de descobrir algum poder ou conexão necessária, alguma qualidade que ligue o efeito à causa e torne um a consequência infalível do outro como, por exemplo, o impulso de uma bola de bilhar é acompanhado pelo movimento da segunda. Eis tudo o que se manifesta aos sentidos externos.HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. In: Os Pensadores. Tradução: AIEX, A. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 76.
Considerando-se o excerto acima, segundo Hume, o que permite que o entendimento
humano seja alcançado é a suposição de que as causas e os efeitos dos acontecimentos sejam
conhecidos. Nesse sentido, é correto afirmar que esse conhecimento é consequência
Gabarito comentado
Resposta correta: D — do hábito.
Tema central: trata-se da teoria empírica de David Hume sobre a origem da ideia de causalidade. A questão exige reconhecer que Hume nega uma conexão necessária intuída pela razão entre causa e efeito e atribui nossa crença em tal conexão a um processo psicológico.
Resumo teórico claro: Hume distingue impressões e ideias, e distingue dois tipos de conhecimento: relações de ideias (raciocínio lógico) e fatos de matéria (indução). Quando observamos eventos repetidos (por exemplo, uma bola que bate em outra), nunca percebemos uma “conexão necessária” intrínseca; percebemos apenas a regularidade. A expectativa de que um efeito seguirá uma causa surge da repetição: o hábito (ou costume) condiciona a mente a esperar o próximo evento. (Cf. Hume, Investigação acerca do entendimento humano / Enquiry Concerning Human Understanding, 1748.)
Por que a alternativa D está correta: o texto citado explicitamente mostra que, a partir de um único caso, não se descobre nenhuma conexão necessária; o que produz a certeza prática é a repetição, isto é, o hábito. A expectativa causal é psicológica, resultado de costume, não uma dedução lógica.
Análise das alternativas incorretas:
A — da razão: incorreta porque Hume afirma que a razão por si só não pode demonstrar uma necessidade causal a partir de casos singulares; a razão lida com relações de ideias, não com a crença indutiva que emerge do costume.
B — da causa: incorreta e ambígua: a alternativa confunde fonte com mecanismo. O enunciado pergunta qual é o princípio que permite ao entendimento alcançar essa crença; não é “da causa” em si, mas do hábito de associar causa e efeito.
C — do efeito: incorreta porque o efeito observado não gera por si só a convicção de necessidade; é a repetição da sequência causa→efeito que gera a expectativa, isto é, o hábito.
Dica de interpretação para provas: ao ver expressões como “não somos jamais capazes… a partir de um único caso… conexão necessária”, associe com Hume e procure alternativas que remetam a hábito/costume/expectativa; termos como “razão” costumam ser armadilhas quando o autor é Hume.
Fonte: David Hume, Investigação acerca do entendimento humano (Enquiry Concerning Human Understanding), 1748.
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