A produção de mercadorias e o consumismo alteram as percepções não apenas do eu como do mundo exterior ao eu; criam
um mundo de espelhos, de imagens insubstanciais, de ilusões
cada vez mais indistinguíveis da realidade. O efeito refletido faz
do sujeito um objeto; ao mesmo tempo, transforma o mundo dos
objetos numa extensão ou projeção do eu. É enganoso caracterizar a cultura do consumo como uma cultura dominada por
coisas. O consumidor vive rodeado não apenas por coisas como
por fantasias. Vive num mundo que não dispõe de existência objetiva ou independente e que parece existir somente para gratificar ou contrariar seus desejos.
(Christopher Lasch. O mínimo eu, 1987. Adaptado.)
Sob o ponto de vista ético e filosófico, na sociedade de consumo,
o indivíduo
Gabarito comentado
Gabarito: Alternativa D
Tema central: o sujeito moderno na sociedade de consumo — como o consumo transforma a relação entre indivíduo e objetos, fazendo destes espelhos de desejos e fantasias, mais do que meros instrumentos de uso.
Resumo teórico (claro e progressivo): Na crítica à sociedade de consumo (cf. Christopher Lasch, The Minimal Self, 1987; Zygmunt Bauman, Vida para Consumo, 2007), as mercadorias funcionam como sinais que moldam a identidade. Em vez de revelar a realidade objetiva, os objetos projetam imagens e desejos: o sujeito passa a reconhecer-se naquilo que consome. Isso implica processos psicológicos que não são puramente racionais ou utilitários, mas simbólicos e muitas vezes inconscientes.
Justificativa da alternativa correta (D): O texto fala explicitamente em “mundo de espelhos”, “imagens insubstanciais”, “fantasias” e que o mundo “parece existir somente para gratificar ... desejos”. Esses trechos indicam que os objetos refletem partes do sujeito — muitas vezes emocionais e não plenamente conscientes. Logo, afirmar que o indivíduo “relaciona-se com objetos que refletem ilusoriamente seus processos emocionais inconscientes” resume com precisão a crítica formulada: objetos como projeções psíquicas e ilusórias. Por isso D é correta.
Análise das incorretas:
A: Falsa — a alternativa supõe divisão estável entre razão e emoção; o texto enfatiza fusão entre eu e mundo simbólico, não uma separação racionalista.
B: Falsa — contradiz o texto ao afirmar objetividade e consciência; o autor descreve ilusões e fantasias, não processos mentais essencialmente objetivos.
C: Falsa — reduz as mercadorias ao uso utilitário; pelo texto, o consumo é antes simbólico, voltado à gratificação de desejos e projeções.
E: Falsa — nega a influência persuasiva; o parágrafo realça a onipresença de imagens e fantasias que moldam o sujeito, portanto há pouca autonomia frente à publicidade e cultura de consumo.
Estratégias para gabaritar questões semelhantes: procure palavras-chave do enunciado (ex.: “espelhos”, “fantasias”, “ilusões”, “gratificar desejos”) que indiquem leitura simbólica/psicológica; descarte alternativas que pressupõem autonomia, objetividade ou utilitarismo absoluto; relacione o enunciado com autores-guia (Lasch, Bauman, Baudrillard) para reconhecer conceitos.
Fontes sugeridas: Christopher Lasch, The Minimal Self (1987); Zygmunt Bauman, Vida para Consumo (2007); Jean Baudrillard, A Sociedade de Consumo.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!






