No livro XI das Confissões há uma célebre investigação sobre a
natureza do tempo. Aquilo sobre o que paira a discussão é a
pergunta de um contestador: o que estava fazendo Deus antes
do princípio do mundo? Agostinho brinca, mas rejeita a resposta
‘Preparando o inferno para pessoas que examinam com
demasiada curiosidade assuntos profundos’ (Conf. XI. 12. 14).
Fonte: KENNY, Anthony. Filosofia Medieval. São Paulo: Loyola, 2008
Analise as afirmativas a seguir relacionadas à questão do tempo
na obra Confissões de Santo Agostinho.
I. Para Agostinho, antes do céu e da Terra serem criados não
havia o tempo, e sem o tempo não pode haver nenhuma
mudança.
II. Ao tratar o tempo como uma criatura, Agostinho trata-o
como uma entidade sólida comparável aos itens que
compõem o Universo.
III. A solução de Agostinho para as dificuldades por ele
levantadas é declarar que o tempo está realmente só na
mente.
IV. Segundo Agostinho, em Deus o hoje não substitui o ontem,
nem cede ao amanhã; há somente um único presente
eterno.
V. Para Agostinho o tempo não é nada mais do que a
sucessão de passado, presente e futuro.
Assinale a alternativa CORRETA.
Gabarito comentado
Tema central da questão: A questão aborda a conceituação do tempo em Santo Agostinho (Livro XI das Confissões), explicitando suas ideias sobre a origem, a natureza subjetiva do tempo e a relação com a eternidade divina.
Explicação didática do tema: Para Agostinho, o tempo não é algo físico, mas vinculado à experiência subjetiva e à criação. O tempo nasce com o mundo; sem criação, não há tempo, nem mudança. Já para Deus, há apenas um “presente eterno”, sem passado ou futuro. Agostinho destaca ainda que o tempo é vivido pela mente humana – passado, presente e futuro são experiências da alma.
Análise das afirmativas:
I. Correta: Agostinho afirma que antes do mundo não havia tempo (criado com o mundo) e, portanto, não havia mudança, pois mudança exige tempo.
II. Incorreta: Apesar de o tempo ser criação, Agostinho não o trata como entidade sólida ou comparável a objetos materiais. O tempo, para ele, é uma “distensão da alma”, algo vivido internamente.
III. Correta: Agostinho resolve o enigma do tempo declarando sua existência na mente: passado, presente e futuro existem enquanto memória, percepção e expectativa. Não existe tempo “fora da alma”.
IV. Correta: Em Deus, não há sucessão temporal; tudo é um só presente eterno, pois Deus é atemporal (imutável e eterno).
V. Incorreta: Agostinho não reduz o tempo apenas à sucessão linear de passado, presente e futuro, mas aprofunda afirmando que essa sucessão só faz sentido na experiência subjetiva da alma.
Alternativa correta: C) Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas.
Estratégias e atenção às pegadinhas: Cuidado com termos como “entidade sólida” (II) e reduções simplificadoras (“nada mais do que a sucessão”, V): Agostinho é sutil, trabalha a ideia de tempo como experiência interna. Em provas, fique atento a enunciados que confundem conceitos físicos com conceitos subjetivos, ou que troquem experiências psicológicas por realidades externas.
Referências importantes: Santo Agostinho, Confissões, Livro XI; Anthony Kenny, Filosofia Medieval.
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