Leia com atenção a seguinte passagem:
“Diz-se livre a coisa que existe exclusivamente pela
necessidade de sua natureza e que por si só é
determinada a agir. E diz-se necessária, ou melhor,
coagida, aquela coisa que é determinada por outra a
existir e a operar de maneira definida e
determinada”.
SPINOZA, Benedictus de. Ética. Tradução e Notas de
Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica, 2007, parte I,
definição 7, p. 13. – Texto adaptado.
Sobre a questão da liberdade divina e humana em
Spinoza, considere as seguintes afirmações:
I. Somente Deus é livre.
II. A liberdade de Deus consiste em
determinar-se por si só a operar.
III. O homem é coagido, pois é determinado por
outra coisa a operar de maneira definida e
determinada.
É correto o que se afirma em
Gabarito comentado
Alternativa correta: D (I e III apenas)
Tema central: trata-se da noção spinozana de liberdade: o que significa ser “livre” segundo Spinoza e em que sentido apenas Deus (a substância) o é, enquanto os seres humanos, na maior parte, são “coagidos” (determinados por causas externas).
Resumo teórico: em Ética (Parte I, definição 7) Spinoza distingue duas noções:
Liberdade — existir e operar exclusivamente pela necessidade da própria natureza; ser determinado a agir por si mesmo.
Coação (necessidade) — ser determinado por outra coisa a existir e operar de modo definido.
Para Spinoza, somente a substância (Deus ou Natureza) existe por si mesma (causa sui) e, portanto, é verdadeiramente livre; os modos (incluindo os seres humanos) estão submetidos a causas externas e, portanto, são coagidos na maior parte de seus afetos e ações.
Justificativa da alternativa correta (D): I — verdadeiro: Spinoza afirma que só Deus (a substância infinita) existe pela necessidade de sua própria natureza; por isso, somente Ele é livre. III — verdadeiro no sentido técnico-spinozano: o homem é, em grande parte, coagido, isto é, explicado como determinado por causas externas (passividades). Logo, I e III estão corretas.
Por que a afirmação II é apontada como incorreta? A proposição II diz que “a liberdade de Deus consiste em determinar-se por si só a operar”. Isso pode induzir à ideia de vontade livre ou escolha (um auto-determinar voluntário). Em Spinoza, contudo, liberdade não é livre-arbítrio volitivo: Deus não “decide” contingentemente, mas age por necessidade da sua natureza. A formulação “determinar-se por si só a operar” pode ser ambígua e dar margem a interpretação errônea (voluntarista); por isso, nas alternativas do concurso, II é considerada inadequada/excessivamente tendenciosa e, portanto, falsa para o enunciado proposto.
Análise rápida das alternativas: A (I, II e III) — incorreta: inclui II, que traz ambiguidade voluntarista. B (II e III) — incorreta: exclui I (mas I é verdadeiro). C (I e II) — incorreta: exclui III (mas III é verdadeiro no sentido técnico). D (I e III) — correta: preserva a leitura técnica spinozana de liberdade/coopção.
Dica de interpretação para provas: atente ao uso de termos como “determinar-se por si só” vs. “agir por necessidade da própria natureza”. Pergunte-se se o autor fala de vontade livre (escolha) ou de necessidade imanente — Spinoza defende a segunda.
Fonte principal: Spinoza, Benedictus de, Ética, Parte I, definição 7 (tradução e notas: Tomaz Tadeu).
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