Questão 651e8f78-bd
Prova:ENEM 2005
Disciplina:Filosofia
Assunto:O Sujeito Moderno

A situação abordada na tira torna explícita a contradição entre a

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A
relações pessoais e o avanço tecnológico.
B
inteligência empresarial e a ignorância dos cidadãos.
C
inclusão digital e a modernização das empresas.
D
economia neoliberal e a reduzida atuação do Estado.
E
revolução informática e a exclusão digital.

Gabarito comentado

M
Michel MelloMestre em Filosofia (PUC-Rio), Mestre e Doutor em Filosofia (Universidade de Basel / Suiça)
Trata-se de uma questão relativamente fácil, que envolve conhecimentos de Filosofia, Sociologia e História. Podemos até mesmo ver através de um panarama geopolítico. Todavia, o tema contido nessa questão transdisciplinar, ou seja, que envolve e ultrapassa as disciplinas tradicionais do eixo de ciências humanas, é a relação entre o homem e a técnica. Para melhor entendermos essa problemática, podemos dizer que o homem, seja qual for compreensão que se tenha sobre ele, pode relacionar-se com o mundo através de instrumentos. Na história do pensamento ocidental essa característica pode ser inclusive identificada com uma possível natureza humana: homo faber, ou homem que faz, atua, constrói. Na história da sociedade humana essa relação entre o homem e aquilo que ele produz é comumente visto como cultura. Assim, cultura é tudo aquilo que o homem produz, realiza – na vida material ou na vida intelectual. Se toda técnica ou conhecimento tecnológico é cultura, o contrário não podemos afirmar: toda cultura não é somente técnica.
Acrescentemos ainda outro elemento: a técnica. Esse termo parece nos chegar antes de tudo através do grego techné, que foi traduzido para o latim como ars, artis. Em sentido etimológico, técnica e arte seriam o mesmo. No uso do vernáculo, nossa língua portuguesa, parece que o termo técnica assumiu um caráter de “tecnologia” e que arte,  de “uma produção do gênio artístico”.
 
O ponto central da questão aqui é a compreensão de técnica como tecnologia: a primeira seria a capacidade de fazer algo através do treino e repetição; a segunda, o conjunto de meios para desenvolver mais eficazmente a própria técnica. Entendido isso, cabe-nos aqui a pergunta: seria o homem que determina a técnica, de acordo com sua necessidade de adaptação ao meio? Ou seria a técnica, aqui sutilmente como tecnologia, aquilo que dita as normas de realidade para o homem? Em palavras bem simples, poderíamos questionar: quem manda em quem? O homem ou a máquina?
 
No séc. XX, desde seu tenro início, tal tema se fez objeto de grande análise sócio-filosófica. Aqui citamos o pensador alemão Heidegger, que analisa as relações entre homens e máquinas (técnicas) e estabelece uma relação distinta entre eles. O homem se relaciona com seu semelhante de modo próprio, através do cuidado, de se auto-reconhecer no outro. Todavia, o homem se relaciona com a técnica como um saber de dominação: podemos usar e dominar as máquinas, mas não podemos usar e dominar as outras pessoas. Enfim, não podemos tratar as pessoas como se fossem “máquinas”; tampouco tratar os objetos e/ou máquinas como se fossem pessoas. Esse parece ser o ponto crucial presente na tira acima: acostumamo-nos tanto em tratar máquinas como pessoas e deixamos que máquinas ocupem o lugar de um homem x, que passamos a nos relacionar com as máquinas como se elas fossem humanos e com os humanos como se eles fossem máquinas.
 
Considerando isso, podemos dizer que
 
A alternativa (a) está correta, porque nela vemos que as relações pessoais se entendem confusas, algumas vezes, devido ao avanço tecnológico. O avanço da técnica em si não é ruim, mas sim a perda da humanidade nas relações entre indivíduos ao se colocar uma máquina naquilo que se entenderia como humano.
 
A alternativa (b) como errada, pois inteligência empresarial seria um termo que não está de modo necessário ligado à técnica, mas ao gerenciamento de forças de produção.
 
A alternativa (c) como errada, dado que as relações entre inclusão digital e modernização das empresas é ambígua, e ainda, a tira mostra justamente o inverso, a modernização da empresas, uma vez condicionada ao hábito do cliente, pode servir como um sistema de exclusão do sistema operante.
 
A alternativa (d) como errada, nada indica na tira quaisquer elementos que se refiram ao neoliberalismo e, consequente, diminuição da atuação do Estado.
 
A alternativa (e) como errada, pois parece sugerir o contrário: com a evolução da informática os acessos às tecnologias digitais se tornam mais “democráticos”, tanto que sem esse elemento da “evolução da informática”, conforme a tira, o indivíduo desconfia da própria realidade. 

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