“Podemos até, antecipando-nos à leitura do soneto, anunciar o princípio de construção de que se serviu "o autor" no texto que vamos estudar: a extensão sintagmática das frases do poema, o léxico escolhido, o tom e sonoridades têm a medida – exata! – da profundidade da emoção experimentada pelo eu-lírico, numa estreita e regular correspondência (perdoem-nos mais uma vez o uso da palavra suspeita). Esse é, não percamos de vista, o fundamento que subjaz à organização do poema” (Roberto Sarmento Lima – O círculo e a palavra constantes do poema lírico).

Soneto IV de Via-Láctea

Como a floresta secular, sombria,

Virgem do passo humano e do machado,

Onde apenas, horrendo, ecoa o brado

Do tigre, cuja agreste ramaria.

Não atravessa nunca a luz do dia,

Assim também, da luz do amor privado,

Tinhas o coração ermo e fechado,

Como a floresta secular, sombria...

Hoje, entre os ramos, a canção sonora

Soltam festivamente os passarinhos.

Tinge o cimo das árvores a aurora...

Palpitam flores, estremecem ninhos...

E o sol do amor, que não entrava outrora,

Entra dourando a areia dos caminhos.

Pelas características apresentadas no texto e pelas encontradas no poema acima (rimas raras, preferência pelo rigor formal do soneto, medição das ideias, dentre outras), podemos afirmar que Roberto Sarmento Lima refere-se ao poeta ____________, ligado ao movimento denominado _______________, respectivamente.

Resposta correta: Alternativa C — Olavo Bilac — Parnasianismo

Tema central: identificação do poeta e do movimento literário a partir de características formais e temáticas do poema (soneto, rigor métrico, léxico polido, objetividade). Esse tipo de questão exige conhecimento das marcas estilísticas das escolas literárias brasileiras.

Resumo teórico (sintético): o Parnasianismo valoriza a perfeição formal (métrica exata, soneto, rimas trabalhadas), a impessoalidade, o culto à estética e ao “arte pela arte”, léxico erudito e descrição precisa. Autores-chaves: Olavo Bilac, Raimundo Correia, Alberto de Oliveira. Fontes de referência: Antonio Candido; M. A. Bosi — História da Literatura Brasileira (consultas clássicas em crítica literária).

Justificativa da alternativa C: o enunciado destaca “rigor formal do soneto”, “rimas raras” e “medição das ideias” — traços típicos do Parnasianismo. Olavo Bilac é o representante paradigmático desse rigor sonetístico na literatura brasileira, famoso pela técnica, precisão métrica e vocabulário polido, o que torna a alternativa C a escolha correta.

Análise das alternativas incorretas:

A — Cruz e Sousa (Simbolismo): o Simbolismo privilegia a musicalidade sugestiva, a subjetividade, imagens oníricas e sinestésicas; não é identificado primariamente por “rigor parnasiano” do soneto e pelo culto à forma objetiva.

B — Castro Alves (Romantismo): poeta condoreiro, focado em temática social, épica e retórica engajada; estilo expansivo e emotivo, distante do impassível rigor formal parnasiano.

D — Gregório de Matos (Barroco): barroco colonial com satírico e conceptismo, antíteses e linguagem conceitual; embora complexo, seu projeto estilístico e histórico é diferente do parnasianismo do século XIX.

E — Décio Pignatari (Concretismo): movimento vanguardista do século XX que explora visualidade e materialidade da palavra — totalmente distinto de sonetos formais e rimas clássicas.

Dica de prova: na leitura do enunciado procure por palavras-chave: “soneto”, “rigor formal”, “medição das ideias”, “rimas trabalhadas” → sinal forte de Parnasianismo. Cuidado com pegadinhas: simbolistas também usam sonetos, mas avalie tom (objetivo x subjetivo) e vocabulário (erudito x sensorial).

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