Parnasianismo: o que foi, principais caracaterísticas e como cai no Enem

Publicado em: 18/10/2023

O Parnasianismo foi um movimento literário que surgiu na Europa, na segunda metade do século XIX, mesmo período do Realismo e Naturalismo. Como esses movimentos, também se caracterizou por sua oposição ao sentimentalismo do Romantismo. Entretanto, o Parnasianismo se distinguia porque não buscava fazer uma crítica social. Ele valorizava o princípio da “arte pela arte”, de que o refinamento da forma para proporcionar prazer estético era mais importante do que os possíveis impactos sociais que seu conteúdo poderia causar.

Contexto histórico do Parnasianismo

Durante o século XIX, popularizou-se na Europa uma corrente filosófica chamada Positivismo, proposta por August Comte. Essa corrente propunha que a única forma válida de conhecimento era aquela que pudesse ser empiricamente comprovada. Ou seja, apenas o conhecimento científico era verdadeiro.

O Positivismo fez com que uma perspectiva de mundo racionalista e objetivista se disseminasse entre intelectuais. Ele influenciou diversos movimentos artísticos e culturais da época, dentre os quais o Parnasianismo.

O Parnasianismo surgiu na França, com a publicação da coletânea de poemas Parnase Contemporain (Parnaso Contemporâneo), com edição de Alphonse Lemerre, em 1866. Seu nome era derivado do monte Parnaso, considerado a morada do deus Apolo e das musas de inspiração artística na Grécia Antiga.

Diferenciando-se do Romantismo, que já estava em decadência, o movimento Parnasiano se inspirou nos ideais do Positivismo, nas tradições clássicas e na doutrina da “arte pela arte”, proposta pelo poeta francês Théophile Gautier.

Segundo Gautier, a Arte deveria ser autônoma da sociedade, e não direcionada para um propósito moral, pedagógico ou social. Para ele, a Arte deveria ser bela e proporcionar prazer estético, não servir para um fim utilitário. Essa era uma ideia contrária aos movimentos Realista e Naturalista, que, na mesma época, produziam uma arte carregada de crítica social, com a perspectiva de melhorar a sociedade através dela.

Embora a Revolução Industrial tivesse ocasionado, no século XIX, diversos problemas sociais, como a exploração dos trabalhadores, a arte parnasiana preferiu se manter alienada politicamente e não tocar nesses temas.

Principais características do Parnasianismo

  • Racionalismo, objetividade, universalismo e impessoalidade - princípios inspirados em ideais do Positivismo e em oposição ao sentimentalismo e subjetivismo do Romantismo.
  • Arte pela arte”: princípio segundo o qual o apreço estético que a arte proporciona é o que importa nela, não seus possíveis impactos sociais. Nessa perspectiva, a arte não deve tratar de temas sócio-políticos. Ela deve ser ornamental.
  • Rigor/preciosismo formal, culto à forma: a perfeição formal era muito valorizada pelos poetas parnasianos e buscava-se atingi-la por metrificação poética (versos seguindo normas em relação ao número de sílabas poéticas), uso de rimas raras e vocabulário rebuscado.
  • Preferência pelo soneto.
  • Forte aspecto descritivo.
  • Inspiração em gêneros e temas da tradição clássica (greco-latina).
  • Metalinguagem - o tema da arte parnasiana frequentemente é a própria Arte ou o fazer artístico.
  • Amor sensual, erótico, com a mulher menos idealizada do que no Romantismo.

Principais autores do Parnasianismo

Alberto de Oliveira

Poeta brasileiro que fez parte da “tríade parnasiana”, um trio de poetas parnasianos brasileiros consagrados. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Os poemas de Oliveira eram bem caracteristicamente parnasianos, com rigor formal, objetividade, temas descritivos e inspirações clássicas. Exemplos de sonetos famosos são desse poeta são “Vaso chinês”, “Vaso grego” e “A estátua”.

Olavo Bilac

Parte da “tríade parnasiana”, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, e primeiro poeta parnasiano a ser considerado “príncipe dos poetas”.

Apesar de sua produção poética ser marcada por aspectos característicos do Parnasianismo, Bilac produziu alguns sonetos que fugiam da objetividade típica do movimento, expressando amor, sensualidade e melancolia.

Alguns de seus sonetos conhecidos são “Ouvir Estrelas”, “Profissão de Fé” e “A Um Poeta”.

Raimundo Correia

Um dos poetas brasileiros da “tríade parnasiana”. Sua primeira publicação foi romântica, mas ele adotou o estilo parnasiano a partir da sua segunda obra, uma coletânea de poemas chamada “Sinfonias”.

Assim como Bilac, Correia não se restringiu ao objetivismo puro do Parnasianismo e produziu poesias sobre amor erótico, além de poesias com um tom filosófico e pessimista.

O seu soneto mais famoso é “As Pombas”, razão pela qual ele ficou conhecido como “Poeta das Pombas”.

Leconte de Lisle

Um dos principais nomes do Parnasianismo francês. Além de escrever poemas, fez traduções de obras de autores da Antiguidade Clássica.

Parnasianismo no Brasil

No Brasil, o Parnasianismo despontou durante o fim do século XIX. A primeira obra parnasiana brasileira foi Fanfarras, publicada em 1882 por Teófilo Dias.

Esse período foi marcado por grandes transformações sociais, com a abolição da escravidão em 1888, decadência do regime monárquico, e Proclamação da República em 1889.

Nesse tempo, o Brasil também estava passando por processos significativos de urbanização e industrialização, especialmente no sudeste. Esse progresso tecnológico levou à elite brasileira a uma valorização dos costumes europeus, sobretudo franceses. O Parnasianismo foi uma dessas influências francesas.

É importante constar que o Parnasianismo, apesar de supostamente apolítico, foi um movimento bastante associado ao republicanismo, pois seus poetas eram, em sua maioria, republicanos. Muitos hinos brasileiros importantes possuem o estilo parnasiano, como o Hino Nacional Brasileiro, o Hino da Proclamação da República e o Hino à Bandeira do Brasil.

Os parnasianos foram os fundadores da Academia Brasileira de Letras, definindo os parâmetros do que era considerado boa literatura por décadas. Todavia, assim como o Parnasianismo contribuiu para o declínio do Romantismo, seu declínio foi provocado pelo estabelecimento do Modernismo, no início do século XX. O poema “Sapos”, de Manuel Bandeira, declamado durante a Semana de Arte Moderna, foi uma crítica debochada aos parnasianos.

Da mesma forma que o Parnasianismo desprezava o sentimentalismo romântico, o Modernismo menosprezava o culto excessivo à forma, tradicionalismo e alienação política do Parnasianismo.

Como o Parnasianismo cai no ENEM

Para o ENEM, é importante que o estudante compreenda o contexto histórico do Parnasianismo, sua relação com o contexto socio-político da época, suas principais características, e as críticas que sofreu com o estabelecimento do Modernismo.

A

Esbraseia o Ocidente na agonia O sol… Aves em bando destacados, Por céus de ouro e púrpura raiados, Fogem… Fecha-se a pálpebra do dia…

Delineiam-se além da serrania Os vértices de chamas aureolados, E em tudo, em torno, esbatem derramados Uns tons suaves de melancolia.

Um mundo de vapores no ar flutua… Como uma informe nódoa avulta e cresce A sombra à proporção que a luz recua.

A natureza apática esmaece… Pouco a pouco, entre as árvores, a lua Surge trêmula, trêmula… Anoitece.

CORRÊA, R. Disponível em: www.brasiliana.usp.br. Acesso em: 13 ago. 2017.

Composição de formato fixo, o soneto tornou-se um modelo particularmente ajustado à poesia parnasiana. No poema de Raimundo Corrêa, remete(m) a essa estética

(A) as metáforas inspiradas na visão da natureza.

(B) a ausência de emotividade pelo eu lírico.

(C) a retórica ornamental desvinculada da realidade.

(D) o uso da descrição como meio de expressividade.

(E) o vínculo a temas comuns à Antiguidade Clássica