O uso de formas linguísticas características da variante não padrão da língua portuguesa nesse texto,
justifica-se
O uso de formas linguísticas características da variante não padrão da língua portuguesa nesse texto,
justifica-se
25 de junho. Fiz o café e vesti eles para ir na escola. Puis feijão no fogo. Vestia a Vera e saimos. O João estava brincando. Quando me viu correu. E o José Carlos assustou-se quando ouviu a minha voz. Vi uma pirua do Governo do Estado. Serviço de Saude que vinha recolher as fezes. O jornal disse que há 160 casos positivos aqui na favela. Será que eles vão dar remedios? A maioria dos favelados não há de poder comprar. Eu não fiz o exame. Fui catar papel. (...) Ganhei só 25 cruzeiros. É que agora tem um homem que cata na minha zona. Mas eu não brigo porisso. Porque daqui uns dias ele desiste. O homem já está dizendo que o que ele ganha não dá nem para a pinga. Que é melhor pedir esmola.
Fonte:JESUS, Carolina Maria. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2012.
25 de junho. Fiz o café e vesti eles para ir na escola. Puis feijão no fogo. Vestia a Vera e saimos. O João estava brincando. Quando me viu correu. E o José Carlos assustou-se quando ouviu a minha voz. Vi uma pirua do Governo do Estado. Serviço de Saude que vinha recolher as fezes. O jornal disse que há 160 casos positivos aqui na favela. Será que eles vão dar remedios? A maioria dos favelados não há de poder comprar. Eu não fiz o exame. Fui catar papel. (...) Ganhei só 25 cruzeiros. É que agora tem um homem que cata na minha zona. Mas eu não brigo porisso. Porque daqui uns dias ele desiste. O homem já está dizendo que o que ele ganha não dá nem para a pinga. Que é melhor pedir esmola.
Fonte:JESUS, Carolina Maria. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2012.
Gabarito comentado
Tema central: Variação linguística e relação entre o gênero textual e o papel social do produtor.
O texto apresentado utiliza formas da variante não padrão da Língua Portuguesa, como “visti eles para ir na escola” e “puis feijão no fogo”. Esse uso não ocorre por descuido, mas sim para dar autenticidade e retratar fielmente o universo social da autora, expressando seu papel social como moradora de uma favela, à qual pertence.
É essencial saber que a variação linguística envolve diferenças de fala e escrita causadas por fatores regionais, históricos e socioculturais. Segundo gramáticas como Cunha & Cintra e autores como Evanildo Bechara, a literatura pode lançar mão dessas variantes para construir personagens e narradores que representem determinados grupos sociais. Isso compõe uma estratégia textual legítima e eficaz.
Justificativa da alternativa correta (C):
Alternativa C – “pela relação entre gênero textual e o papel social do seu produtor” é a correta porque mostra que a escolha do uso linguístico deriva justamente do vínculo entre o gênero diário (que permite tom pessoal e direto) e o contexto socioeconômico e cultural da autora. O diário expõe vivências reais e íntimas, e a linguagem não padrão reforça a veracidade dessa experiência, tornando a voz da autora legítima e identificável.
Análise das alternativas incorretas:
A — O gênero diário permite o uso de formas não padrão, mas não exige: o ponto fundamental não é a estrutura do gênero, mas quem o produz.
B — Apenas demonstrar a condição de vida não exige variantes não padrão; o mais relevante é a identidade social refletida na linguagem.
D — A intertextualidade trata de relações entre textos, não sobre o uso da variante linguística aqui.
Estratégia para provas: sempre observe se a alternativa explica o porquê da escolha linguística pelo perfil de quem fala ou escreve, e não apenas pelo gênero textual ou outros fatores isolados.
Dessa forma, lembre-se de que, em questões sobre variação linguística, o papel social do produtor é um critério-chave para a escolha da linguagem apresentada.
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