Em Lima Barreto, a sequência grande de
perguntas ao longo do texto configura o:
O trecho que segue é da personagem Olga,
de Triste Fim de Policarpo Quaresma, romance de Lima Barreto.
O que mais a impressionou no passeio foi
a miséria geral, a falta de cultivo, a pobreza das
casas, o ar triste, abatido da gente pobre. (...)
Havendo tanto barro, tanta água, por que as casas não eram de tijolos e não tinham telhas? Era
sempre aquele sapê sinistro e aquele “sopapo”
que deixava ver a trama de varas, como o esqueleto de um doente. Por que ao redor dessas
casas não havia culturas, uma horta, um pomar?
(...) Não podia ser preguiça só ou indolência.
Para o seu gasto, para uso próprio, o homem
tem sempre energia para trabalhar relativamente. (...) Seria a terra? Que seria? E todas
essas questões desafiavam a sua curiosidade, o
seu desejo de saber, e também a sua piedade
e simpatia por aqueles párias, maltrapilhos, mal
alojados, talvez com fome, sorumbáticos!...
(Lima Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma)
Gabarito comentado
Tema central: A questão aborda a identificação do tipo de discurso usado numa narrativa literária, habilidade fundamental para interpretação de textos e compreensão dos recursos estilísticos conforme a norma-padrão.
Comentário da alternativa correta (C): O trecho destaca uma sequência de perguntas que revela o pensamento íntimo da personagem Olga, mesclado ao texto do narrador, sem travessão, aspas nem verbos de elocução. Isso caracteriza o discurso indireto livre. Nesse tipo de discurso, segundo Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa), os pensamentos da personagem aparecem inseridos na narrativa, como se "vazassem" para o texto do narrador, permitindo ao leitor acessar diretamente a consciência da personagem, sem marcas gráficas que separem narração e pensamento.
Como identificar o discurso indireto livre? Estratégia importante: observe se pensamentos ou falas da personagem aparecem sem introdução formal (sem "pensou" ou "disse", sem aspas, sem travessão), mas mantendo características da linguagem da personagem. Exemplo do trecho: "Era sempre aquele sapê sinistro e aquele 'sopapo'..." — um pensar quase espontâneo, fundido à voz narrativa.
Análise das alternativas incorretas:
A) Discurso direto: Requer reprodução literal da fala, com uso de travessões ou aspas, o que não ocorre no texto.
B) Discurso indireto: Aparece quando o narrador relata pensamentos com suas próprias palavras, usualmente por meio de verbos como "pensou que", "perguntou-se se", o que também não se verifica.
D) Solilóquio: Trata-se de um longo monólogo verbalizado, geralmente em voz alta. Aqui, estamos diante de pensamentos não pronunciados.
E) Fluxo da consciência: Embora próximo ao indireto livre, distingue-se por apresentar estrutura caótica ou fragmentada do pensamento, o que não é o caso do trecho.
Pontos-chave para provas: Fique atento às marcas (ou ausência de marcas) que indicam o tipo de discurso. Misturas de voz narrativa e fala/pensamento das personagens sem sinal gráfico quase sempre apontam para o indireto livre. Cuidado para não confundir com discurso indireto (mais formalizado) ou fluxo da consciência (mais desordenado).
Resumo da regra: O discurso indireto livre mistura a fala interna da personagem com a narração, sem sinais explícitos de transição, tornando a leitura mais imersiva.
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