A virtú do príncipe não consiste num conjunto fixo de qualidades morais que ele oporá à fortuna, lutando
contra ela. A virtú é a capacidade do príncipe para ser flexível às circunstâncias, mudando com elas para agarrar e
dominar a fortuna. O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a reputação de cruel, se seu propósito é
manter o povo unido e leal. De fato, com uns poucos exemplos duros poderá ser mais clemente do que outros que,
por muita piedade, permitem aos distúrbios que levem ao assassínio e ao roubo.
CHAUI, MARILENA. Convite à Filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2002.
Maquiavel escreveu a obra O Príncipe na qual faz uma reflexão sobre a monarquia e o papel do governante.
Segundo esse autor, a virtú estava baseada:
Gabarito comentado
Resposta: Alternativa B
Tema central: a questão trata da noção maquiaveliana de virtù e sua relação com a fortuna, tema essencial para entender a obra O Príncipe e a concepção moderna de política como prática autônoma, não subordinada à moral cristã.
Resumo teórico (claro e progressivo): Em Maquiavel, virtù não é virtude moral, mas a capacidade ativa do governante de moldar circunstâncias, decidir com coragem, astúcia e pragmatismo para atingir fins políticos. Fortuna representa o acaso e os limites impostos pelas circunstâncias. A boa política combina virtù (ação deliberada) com sensibilidade aos ventos da fortuna. Fonte principal: Niccolò Machiavelli, Il Principe (O Príncipe); comentário introdutório em Chaui, Marilena, Convite à Filosofia.
Por que a alternativa B é correta: A alternativa afirma que a virtú está baseada na capacidade pessoal do príncipe de dominar os eventos e alcançar um fim objetivado, por qualquer meio. Isso exprime a ideia maquiaveliana de que o príncipe deve usar meios eficazes (às vezes duros) para garantir a estabilidade e o poder — ou seja, primazia do resultado político e do cálculo pragmático, característica central de Maquiavel.
Análise das alternativas incorretas:
A — Incorreta: pressupõe alinhamento com valores cristãos e moral social; Maquiavel critica essa submissão moral quando impede a eficácia política.
C — Incorreta: reduz tudo à determinação histórica/fortuna. Maquiavel reconhece a fortuna, mas defende que a virtù humana pode contrariá‑la; não é determinista.
D — Incorreta: o exército é importante (ele valoriza tropas próprias sobre mercenárias), mas a virtù é mais ampla que apenas força militar — inclui prudência, astúcia e decisão.
E — Parcialmente enganosa: Maquiavel admite que agir com crueldade pode ser necessário, mas a virtù não é a reputação do príncipe; é sua capacidade efetiva de agir. Focar só na reputação empobrece o conceito.
Dica de interpretação: Procure palavras-chave (virtú, fortuna, meios/fins, pragmatismo). Sempre distinga uso normativo-moral (virtude cristã) de uso político-pragmático (virtù maquiaveliana).
Referências: Machiavelli, Il Principe; Chaui, Marilena. Convite à Filosofia.
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